"E agora, Deus do céu, o que fazer?"
O policial suspirou.
"É melhor chamar alguém pra levar o corpo daqui antes que o resto da família chegue e veja. Seria um choque muito grande. E o garoto?"
"Ainda desmaiado. Vou ligar pra mãe dele, é melhor que um médico veja se ele está bem. Meu Deus, vou ter que dar a notícia de que o marido dela morreu, e o filho assistiu..."
Naquela noite, uma mulher desesperada e seus dois filhos choraram a morte misteriosa de um pai de 41 anos. O corpo possuía feridas de arranhões e mordidas violentos pelos braços, tórax, rosto, e pescoço. Ao que parece, houve ataque de algum animal feroz, porém, ninguém naquele bairro viu qualquer indício de uma fera grande o bastante para causar tamanho estrago naquele dia. A casa do morto também estava tranquila, até o momento em que um dos vizinhos ouviu os gritos desesperado de um garoto, e os estrondos de alguma luta agressiva acompanhada dos gritos de dor do homem. A mulher da vítima e seu outro filho estavam fora. O vizinho entrou na casa por uma janela aberta, encontrando o garoto desmaiado, e o corpo do pai caído no chão do quarto. A criança, posteriormente, insistiu que o cachorro da família foi o responsável, um vira-lata filhote de alguns centímetros de altura.
"Ei, aquele não é o menino que o pai morreu?"
"É o Gabriel! Ele não vinha pra escola faz um tempão, depois que o pai dele morreu. Vou lá falar com ele."
"Coitado, até agora parece estar triste."
Nas áreas rurais ao redor da cidade em que o incidente ocorreu, animais de fazenda começaram a sumir sem explicação. Alguns corpos foram encontrados no meio da mata, ou jogados em rios, ou enterrados. Ou, pelo menos o que sobrou dos corpos, que claramente haviam sido devorados. Fazendeiros começaram a tomar precauções contra ataques de animais selvagens, apesar de não haver uma noção clara de que tipo de animal foi responsável pelos sumiços.
"Mas, amigo, seu cachorro era muito pequeno. Isso não é possível..."
"Mas... eu vi. Ele cresceu... e cresceu... e começou a comer meu pai" - Gabriel começou a chorar enquanto falava - "ele ficou feio, e grande, e assustador.... eu sei, eu vi, acredite em mim, por favor, ninguém acredita."
Um fazendeiro procurou desesperado a filha desaparecida. Após dias de agonia, encontrou um buraco grande embaixo de seu celeiro. Um túnel escavado por algum bicho. Dentro, encontrou o corpo morto, ao lado do cachorro da casa. Este fugiu pelo túnel e nunca mais foi achado.
"É um homem cachorro."
"O que?"
"Eu lembro que minha avó falava de umas histórias de um homem que virava cachorro, ou o contrário, não lembro. Ninguém lembra dessas histórias hoje em dia, só os velhos lembram, mas minha avó me contou. Um cruzamento de homem com cachorro, um bicho feio que come gente."
"Tipo um lobisomem?"
"Não, não, Lobisomem é homem com lobo, esse é homem com cão. É mais feioso, acho que foi isso que comeu o pai do Gabriel."
"Que bobagem..."
"Pra mim foi o velho lobisomem que mora nos cantos da periferia do bairro..."
"Ah, aquele velho? Credo, eu sei quem é, mora sozinho em uma casa velha, é feio e mal-humorado, e muita gente diz que já viu ele virar lobisomem de noite. O velho Marco..."
"Shh, calem a boca, o Gabriel está vindo, parem de falar disso."
"Ei, Gabriel, vamos voltar pra casa juntos?"
Gabriel e seu amigo Lucas voltavam para suas casas. Saíram da escola falando sobre vários assuntos.
Ao chegar em uma rua deserta, Lucas viu seu amigo congelar. Seu rosto empalideceu enquanto olhava pra alguma coisa.
"O que foi, Gabriel?"
"Eu vi... eu vi meu cachorro virar aquela esquina agora..."
Lucas não soube o que dizer. Sabia que o cão de Gabriel havia sumido após a morte do pai dele, e que Gabriel culpava o animal por isso.
"Foi ele que...."
"Calma Gabriel, é melhor a gente..."
Antes que Lucas pudesse concluir o que ia dizer, seu amigo já corria em direção à rua em que vira o cachorro entrar. Imediatamente, correu atrás do amigo. Ao virarem a esquina, porém, os dois garotos esbarraram em algo. Ou melhor, em alguém. Olharam pra cima e viram um velho alto, feio e de cara fechada.
Era o Velho Marco, o "lobisomem".
"Crianças desastradas! Não olham por onde correm? Peçam desculpas e deem o fora, e prestem atenção pra não bater em outro velho enquanto correm."
"D-desculpa senhor Marco" - se apressou Lucas em dizer - "é que.."
"Estamos atrás do meu cachorro que correu pra cá." - terminou Gabriel.
O Velho olhou um instante em silêncio para os garotos, e deu uma rápida olhada pra trás.
"Esqueçam esse animal. Não é o que vocês estão procurando, sou eu que estou atrás dele. Agora fora daqui!!!"
Os dois meninos correram assustados, e viram que o velho Marco corria atrás do cachorro.
Alguns anos se passaram, e alguns incidentes de animais e pessoas desaparecidas ainda se fizeram notar no correr do tempo.
Gabriel estudava sozinho na sala de sua casa. Sua mãe e seu irmão estavam fora. Era noite. 5 anos desde a morte de seu pai. Ele já havia superado isso, agora com 16 anos.
No silêncio da noite, um ruído chamou sua atenção. Vinha da janela.
Alguém o observava de fora.
Ele pôde ver através do vidro. Estava crescido agora, mas era ele. Com a língua pra fora enquanto arfava, em pé sobre as patas de trás, e as da frente apoiadas na janela. Parecia um olhar inocente, mas que dizia muita coisa. "Eu voltei", por exemplo.
Gabriel congelou de susto. Seus olhos arregalaram-se, enquanto se lembrava dos pesadelos que teve por muitas noites após a morte de seu pai. Pesadelos envolvendo um pequeno filhote de vira-lata.
Por um instante, não conseguiu se mexer. Viu o cachorro sair da janela. Percebeu que andava em direção à porta. Sem poder aguentar mais, levantou-se e correu para a cozinha. Lá, armou-se de uma faca bem grande. Mas, pra que precisaria daquilo? Será que já não era tempo de esquecer um vislumbre improvável de sua infância? Quem sabe o cachorro simplesmente se perdeu, e finalmente achou o caminho de volta pra casa? A criatura que viu matar seu pai talvez não passasse de uma alucinação de um garoto assustado, ao ver seu pai ser assassinado...
Mas todos esses pensamentos se perderam. Ele ouviu a porta da casa se abrir, e ouviu passos na direção da cozinha. Como a porta foi aberta? O cão já vinha em sua direção, e o que faria? O medo começou a voltar, mais forte... ainda mais quando percebeu que os passos eram mais pesados que os de um cachorro.... e porque pareciam passos bípedes?
Pelo corredor, ele viu. Entrando na cozinha, a materialização de seus pesadelos de criança: um monstro grande, peludo, com cara de cachorro deformado, uma enorme boca, e um olhar que prenunciava morte.
Uma lenda antiga relata a existência de uma raça meio humana, meio canina. O "homem cachorro", como é chamado, é uma criatura quase humanoide, com pelos de cachorro por todo o corpo. Sua cabeça tem a aparência da de um cachorro vira-lata, mas absolutamente mais feia, com feições que indicam sofrimento e desejo de matar. O homem cachorro entra nas casas escondido, devora o cão de estimação da família, e assume sua forma. Convive com os donos pacientemente, até que, quando vê a oportunidade, devora um dos membros da família. Se possível, permanece no lar até devorar os demais, ou simplesmente foge e procura outra casa. É pouco inteligente, e sua pouca capacidade cognitiva é direcionada unicamente ao plano de devorar a vítima. Pode comer outros
animais, ou qualquer carne que encontrar, mas sua preferida é a humana. Dizem que o homem cachorro é o espírito de um cão que era severamente maltratado pelo dono, e em um ataque de raiva, o matou. Há muitas histórias sobre sua origem.
O homem cachorro, segundo contam, só possui um predador...
A criatura se atirou sobre Gabriel. O jovem gritou, lembrando-se da morte do pai. Então tudo era real. O que ele viu realmente aconteceu, e estava acontecendo de novo agora com ele. O monstro cachorro começou a aranhar os braços do garoto caído no chão, e a lamber o rosto, preparando-se para sua refeição. Entre gritos desesperados, Gabriel conseguiu esfaquear o braço do monstro. Um latido furioso de dor veio em seguida, e a criatura finalmente apertou seus dentes no braço direito de sua vítima. Esta sentiu a maior dor de sua vida. Já quase desmaiava. Se desmaiasse, não acordaria.
Até que o homem cachorro largou seu braço. Gabriel pode ver, já quase perdendo a consciência, o monstro assumir uma expressão de horror, e algo maior ainda o segurar pela nuca com força. Algo parecido com ele. Um pandemônio de latidos e rosnados se seguiu, e a criatura violentamente resistia a algo que Gabriel curiosamente sentia conhecer. A outra criatura, maior ainda, arrastou o homem cachorro pela porta de trás da casa, enquanto este apenas chorava e gemia em dor e desespero. Ao ver a cara de seu salvador, que o olhou enquanto saia pela porta, Gabriel se lembrou de um velho que, 5 anos atrás, estava correndo atrás de seu cachorro em uma rua deserta.
No gênero canino, o lobo é uma raça mais selvagem, mais forte, e mais inteligente que o cão. Seu cruzamento com a espécie humana gera, logo, uma raça mais pura, forte, e enérgica. O único predador existente para o homem cachorro, seu inimigo natural, o lobisomem instintivamente ataca e mata seu parente inferior.
Dias depois, Gabriel acordou em um hospital. Viu sua mãe, seu irmão, seu amigo Lucas. Foi encontrado por um vizinho que, ao ouvir seus gritos, entrou pela janela de sua casa, e ligou para a ambulância, para a polícia, e para sua mãe. Ele já havia sido salvo por esse vizinho 5 anos antes. Os policias não encontraram a criatura que o atacou, mas Gabriel achava que nunca mais iriam encontrar. Ela já devia estar morta a essa hora. Não sabia se conseguiria continuar com o braço, mas agradecia por estar vivo.
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creepypastas
Horrorcreepypasta. historias de terror. entre e leia algumas creepypastas que conheço e coisas que aconteceram comigo. logo aviso que não recomendo que você leia de noite ou quando estiver sozinho.eles podem estar atrás de você.