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Eu andava tendo péssimas noites de sono.

Talvez fosse pelo acúmulo que pesava em minhas costas, a morte do meu pai, a viagem repentina para Londres ou a mudança drástica de função. Elas certamente estavam relacionadas, embora ainda duvidasse que fosse o real motivo.

Um dia, enquanto tentava resolver mais um caso, o telefone tocou. A voz desesperada de Julie me puxou de volta para a realidade, enquanto minha mãe não fazia nada além de chorar copiosamente.

O ódio me consumiu desde que recebi a notícia. Era uma sensação que queimava, um ressentimento que rastejava por debaixo da minha pele, assim como o veneno de uma cobra peçonhenta. Ainda não conseguia entender como ele pôde nos deixar assim.

Desgraçado.

O luto era um luxo que eu não podia me dar. A traição do meu pai, ao partir sem me deixar dizer adeus, havia aberto uma ferida profunda demais dentro de mim. Então, eu o odiaria até que não houvesse mais esse sentimento dentro de mim e a sua lembrança não me trouxesse nada além de saudade.

Além de tudo isso, papai fez minha vida mudar drasticamente e eu sequer havia pisado em Londres. Sempre odiei mudanças, nunca lidei bem com esse tipo de situação e isso me fez manter o ódio por ele em pé, me obrigando a não deixar que o luto me dominasse.

Mas ele sabia disso e magicamente tudo o que eu precisaria resolver quando desse início a posse do seu poder, já estava resolvido. Aquele velho havia cuidado para que tudo fosse colocado em minhas mãos com suavidade, facilitando a transição de vida.

Infeliz...

Isso só deixou claro para mim que ele sabia que iria morrer.

- Está quase na hora - Anne chamou e eu suspirei.

Ela mordiscou os lábios encostada na porta de vidro do escritório - que agora faria parte da minha vida -, olhando para mim com uma mistura de pena e compreensão. Não a culpava por se sentir assim, ela conheceu meu pai antes de partir e agora teria que lidar com sua filha rancorosa.

Então, eu não precisaria me preocupar com isso também. Afinal, meu pai a escolhera para me auxiliar, para suavizar a transição. Anne já conhecia os meandros dos negócios da família Giordano, uma experiência que me pouparia de um fardo considerável.

Anne tinha uma beleza angelical, com cabelos tingidos de loiros e lisos até os ombros com olhos azuis brilhantes, a doçura de uma santa. Embora fosse a secretaria de uma organização poderosa o suficiente para destruir todo o país.

Assassinatos e contrabando Giordano, em que posso ajudar?

- Tudo bem, deixe-os entrar - murmurei, com a voz firme, mas o coração em pedaços. Era uma decisão difícil de tomar, mas necessária.

A partir desse momento, minha vida seria diferente. Eu teria que abrir mão de parte da minha privacidade, da minha liberdade, para garantir minha segurança. E isso me revoltava.

Mesmo com os esforços que meu pai teve antes de partir para garantir minha segurança, não me sentia confortável com isso. Perder minha liberdade já era algo doloroso e não poder escolher alguém que me passasse uma eterna confiança, era ainda pior.

Além do mais, precisaria de alguém que tivesse o poder de aguentar meu temperamento, um problema herdado da minha mãe. O pensamento me fez morder o lábio desgostosa, parecia que minha família me odiava ao ponto de me deixar apenas suas piores versões.

Sabia que encontrar alguém leal era o menor dos meus problemas. Havia um império a ser administrado: lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, comércio ilegal de armas... E a limpeza? Um assassinato era mais sujo do que eu jamais imaginara. Minha lealdade à lei? Um mero detalhe, um passado distante.

Disponível até 13/09 - AIDEN: Ultrapassando LimitesOnde histórias criam vida. Descubra agora