O Segundo Desejo

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Joey passou o resto do fim de semana tentando evitar a caixa. Ela escondia o objeto misterioso no fundo do armário, debaixo de pilhas de roupas velhas, tentando afastar qualquer tentação de usá-lo novamente. A conversa com Hang-huu ecoava em sua mente, enchendo-a de medo e incerteza. Mas, apesar de seus esforços para ignorar a caixa, ela sentia uma presença constante. Era como se a caixa a estivesse chamando, sussurrando seus desejos mais profundos, plantando ideias.

Na segunda-feira, de volta à escola, a realidade atingiu Joey com toda a força. O olhar das pessoas que antes a desprezavam havia mudado. Agora, ela era o centro das atenções. As risadinhas de desprezo foram substituídas por sorrisos falsos, e de repente, ela não era mais a vítima do bullying, mas a garota popular que todos queriam conhecer.

Ela caminhava pelos corredores da escola com uma confiança que nunca tinha sentido antes. Sarah e seu grupo a chamaram para sentar com elas no almoço, como se sempre fizesse parte daquele mundo. Mas algo estava errado. Por trás dos sorrisos e risadas, Joey notava uma certa distância. Aquela popularidade parecia forçada, quase artificial, como se as pessoas estivessem sendo manipuladas a gostar dela.

Você está incrível hoje, Joey, — disse Sarah, dando uma risadinha enquanto passava a mão pelo próprio cabelo loiro. — Sério, é como se você tivesse mudado da noite para o dia.

Joey sorriu de volta, tentando disfarçar o desconforto.

Obrigada, — respondeu ela, pegando um suco na bandeja.

Aliás, você está indo ao cinema com a gente depois da escola? — perguntou uma das amigas de Sarah, uma garota chamada Megan, que parecia estar mais interessada em tirar selfies do que em conversar.

Joey hesitou por um segundo. Ela nunca fora convidada para sair com elas antes, e a ideia de finalmente fazer parte do grupo era tentadora, mas a voz de Hang-huu ressoava em sua mente.

A caixa cobra um preço.

Eu... — Joey começou, mas foi interrompida por um barulho alto no outro lado do refeitório.

Todos se viraram para ver um garoto, Luke, que estava sempre nas sombras do colégio, tropeçando e derrubando sua bandeja no chão. As risadas ecoaram pelo salão enquanto Luke tentava se levantar, vermelho de vergonha. Ele era um dos poucos que nunca haviam rido de Joey, e agora, ao vê-lo sofrer o mesmo tipo de humilhação que ela costumava enfrentar, algo dentro dela se partiu.

Ela se levantou, deixando a mesa das populares, e caminhou até Luke.

Está tudo bem? — perguntou ela, ajudando-o a se levantar.

Luke olhou para ela, surpreso. — Você não deveria estar com eles? — Ele fez um gesto em direção ao grupo de Sarah, que agora a olhava com desprezo.

Joey balançou a cabeça. — Eu não sou como eles.

Luke deu um sorriso tímido, claramente aliviado por ter alguém ao seu lado.

Obrigado, — disse ele, baixinho.

Naquele momento, Joey percebeu que a popularidade que ela havia desejado não valia nada se viesse à custa dos outros. Ela começou a caminhar para longe, sentindo uma onda de alívio... até que ouviu a voz de Sarah, cortante como uma lâmina.

Joey, o que você está fazendo? Não vai nos deixar por esse perdedor, vai?

Joey parou, sentindo o peso de todas as atenções voltadas para ela. Todos esperavam uma resposta, uma confirmação de que ela agora pertencia ao grupo das populares. Mas, dentro dela, algo havia mudado. Ela sabia que tudo aquilo não era real. Era fruto da caixa, do desejo que havia feito.

A Caixa dos Desejos e os Sete CastigosOnde histórias criam vida. Descubra agora