Joey acordou com uma sensação estranha de desconforto, mas foi ao ver o ambiente ao seu redor que o verdadeiro choque veio. Seu quarto, outrora simples e modesto, estava repleto de objetos que ela jamais teria imaginado possuir. Era como se tivesse sido transportada para uma vida de luxo da noite para o dia. A princípio, seus olhos brilhavam de excitação, mas, à medida que a realidade se assentava, uma sensação de culpa e medo começou a se infiltrar.
— Isso... não pode ser real, — murmurou para si mesma, tocando as roupas de grife penduradas no closet que, até ontem, não estava ali.
Desceu as escadas lentamente, onde encontrou seu pai, que a olhou com um brilho estranho nos olhos.
— Joey, você não vai acreditar, — disse ele com uma risada nervosa, enquanto segurava um documento nas mãos. — Nós acabamos de receber uma herança de uma tia distante. Parece que somos ricos agora!
A mente de Joey girou. O desejo tinha funcionado... mas algo estava errado. A caixa nunca entregava algo sem tirar outra coisa em troca. Ela tentou esconder o pânico que começava a surgir.
— Uma herança? — Ela forçou um sorriso, tentando parecer entusiasmada. — Isso é... incrível, papai.
— Sim! Eu nem sabia que tínhamos uma parente rica! Imagine o que podemos fazer agora... mudar para uma casa maior, viajar para o exterior... — O pai de Joey falava com excitação, como se a súbita fortuna tivesse apagado todas as suas preocupações. — Mas o mais estranho é que eu nunca ouvi falar dessa tia...
As palavras ficaram no ar, como uma nuvem negra. Joey sabia que o preço por seu desejo ainda estava por vir, e esse desconforto crescia a cada momento.
Na escola, as coisas estavam diferentes também. Sarah e seu grupo de amigas populares a receberam com sorrisos ainda maiores, agora que sabiam de sua súbita riqueza. As palavras sussurradas sobre ela se espalharam rapidamente pelos corredores, e Joey agora era vista como alguém inalcançável.
No entanto, a sensação de vazio a acompanhava, mesmo enquanto todos a olhavam com admiração e inveja.
Durante o intervalo, ela encontrou Hang-huu no mesmo banco onde ele costumava se sentar. Ele parecia saber o que estava acontecendo antes mesmo que ela dissesse uma palavra.
— Você fez o segundo desejo, não foi? — perguntou ele calmamente, sem tirar os olhos do livro que estava lendo.
Joey sentou-se ao seu lado, as mãos trêmulas. — Sim, eu... eu queria ser rica. E agora, de repente, meu pai recebeu essa herança de uma parente que nem sabemos quem é. Eu deveria estar feliz, mas... algo não parece certo.
Hang-huu suspirou, fechando o livro e finalmente a encarando.
— A caixa sempre dá o que você deseja, Joey. Mas ela sempre toma algo em troca. O que você achou que seria diferente dessa vez?
— Eu não sei! Eu estava desesperada, com medo, e pensei que... talvez, só talvez... — Sua voz falhou, e ela olhou para as próprias mãos. — Mas eu sinto que algo horrível está prestes a acontecer. Não posso voltar atrás, posso?
Hang-huu balançou a cabeça lentamente. — Uma vez que o desejo é feito, não há como desfazê-lo. A caixa tem suas próprias regras, e agora você está jogando o jogo dela.
Joey se sentiu impotente, a pressão sobre seus ombros crescendo a cada palavra dele.
— Mas o que vai acontecer comigo? — A voz dela saiu como um sussurro.
Hang-huu ficou em silêncio por um momento antes de falar.
— Não sei exatamente, mas o preço por cada desejo aumenta. Quanto mais você deseja, mais perigoso se torna. E se você já se sente assim agora, imagina o que pode estar por vir.
Joey mordeu o lábio, segurando as lágrimas que ameaçavam escapar. Ela olhou para o horizonte, observando os alunos ao longe, rindo e conversando como se tudo estivesse normal. Para eles, a vida de Joey parecia perfeita. Mas, por dentro, ela estava em um turbilhão de emoções, temendo o que estava por vir.
Naquela noite, enquanto Joey estava em seu quarto, algo estranho aconteceu. Ela ouviu o telefone tocar no andar de baixo, mas a princípio, ignorou. Estava imersa em seus pensamentos, tentando descobrir uma maneira de lidar com tudo. No entanto, quando seu pai atendeu e sua voz mudou de tom, seu coração acelerou.
— O quê? Quando isso aconteceu? — a voz dele ecoou pela casa.
Joey desceu correndo as escadas, seu coração na garganta. Encontrou seu pai com o telefone no ouvido, o rosto pálido como se tivesse visto um fantasma.
— Papai? — perguntou ela, nervosa. — O que aconteceu?
Ele desligou o telefone com mãos trêmulas.
— Joey... — começou ele, a voz falhando. — Acabaram de nos informar que sua tia... a tal parente que deixou a herança... morreu ontem. Foi... foi muito repentino.
Joey ficou paralisada. O preço. Esse era o preço. Sua mente girava, e a culpa começou a se instalar profundamente em seu peito.
— Ela morreu... — repetiu, quase sem voz. — Por minha causa.
O pai de Joey parecia confuso, sem entender o que ela queria dizer.
— Do que você está falando, querida? — Ele deu um passo à frente, preocupado com a reação da filha.
— Eu desejei isso. Foi o meu desejo que a matou! — Joey gritou, as lágrimas finalmente caindo. — Essa caixa... a maldita caixa!
O pai de Joey a olhou, completamente confuso. Ele não sabia da caixa, e mesmo que soubesse, jamais acreditaria que os desejos de sua filha estivessem ligados à tragédia.
— Joey, você está delirando. Isso foi uma coincidência. Nós não poderíamos ter previsto algo assim.
— Não! Você não entende! — Ela se afastou dele, sentindo-se engolida pela culpa e pelo desespero.
Cega pela dor e pela culpa, Joey correu para o quarto, trancando a porta atrás de si. Ela se jogou na cama, o choro tomando conta. Tudo parecia desmoronar ao seu redor, e a cada soluço, a verdade se tornava mais clara.
O segundo desejo tinha sido atendido, mas o preço... O preço era muito maior do que ela jamais poderia imaginar.
Ela se levantou, ainda com os olhos marejados, e caminhou até o armário. Lá, escondida sob suas roupas, estava a caixa. Ela a puxou para fora, encarando as letras coreanas que brilhavam na escuridão.
— Por que você está fazendo isso comigo? — sussurrou para a caixa, embora soubesse que não receberia uma resposta.
Mas, enquanto observava a caixa, uma ideia aterrorizante surgiu em sua mente. E se ela pudesse fazer um novo desejo? Um desejo para desfazer tudo? Talvez, só talvez, pudesse consertar as coisas.
Mas, no fundo, Joey sabia que isso era apenas uma ilusão. A caixa nunca dava sem tirar. O próximo desejo seria ainda mais perigoso. E o preço... o preço seria inimaginável.
Ela abraçou a caixa, sentindo seu coração acelerado. As lágrimas ainda escorriam por seu rosto, e ela sabia que estava presa em um ciclo do qual talvez nunca conseguisse escapar.
— Só mais um desejo, — a voz da caixa parecia sussurrar em sua mente. — Só mais um...
Joey fechou os olhos, sabendo que a tentação a cercaria novamente.
O próximo desejo seria o último.
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A Caixa dos Desejos e os Sete Castigos
TerrorJoey, uma jovem de 17 anos, vive uma rotina comum, marcada por dificuldades no colégio e problemas de autoestima. Seu mundo vira de cabeça para baixo quando seu pai, um colecionador de artefatos antigos, descobre uma misteriosa caixa adornada com sí...