CAPÍTULO 10

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— Mas quem liga pra faculdade? — Arqueio uma sobrancelha em direção a Ângela

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— Mas quem liga pra faculdade? — Arqueio uma sobrancelha em direção a Ângela. — Qual é, Persephone? Quando foi a última vez que você curtiu?

Escuto sua voz ecoar em meus ouvidos, através dos seus lábios brilhantes cobertos por um gloss rosado que contorna sua boca. Apoio o cotovelo na porta do meu carro e estico minha visão para o outro lado da calçada. Observando a mãe da Ângela, Ramona, acompanhada por duas meninas, retirando as toalhas das mesas e as levando para dentro do seu restaurante.

— Isso não vem ao caso. Não estou pagando a faculdade pra não ir. — Ângela abre a boca para falar, mas levanto meu dedo indicador, cortando sua fala. — Eu disse que vou, mas não vou demorar. Além disso, o Ronar vai estar comigo. — Afasto meu cotovelo da porta.

— Hã... Você precisa tirar esse espírito opressor dos seus ombros. — sibila, girando sobre os seus calcanhares, ficando de lado para mim, enquanto argumenta, como se o Ronar não estivesse bem atrás, podendo ouvir. — E parece que vai chover...

Crispo minhas sobrancelhas e me afasto do carro, deixando a porta fechar lentamente atrás de mim. Estico minha mão, com a palma voltada para cima, sentindo as gotas umedecerem a pele, enquanto observo o fino chuvisco cair sobre a superfície.

— Mais um motivo pra eu não demorar tanto... — assobio, passando a palma da minha mão úmida pelo tecido fino do meu vestido, sem sua obter resposta.

Com estranheza, uno minhas sobrancelhas em direção à minha amiga, mas o ronco do carro chama minha atenção; viro meu  olhar para a SUV branca, que desliza suavemente pelo asfalto. A janela escura ao lado do motorista sobe lentamente, escondendo o seu rosto. Solto o ar dos meus pulmões pelos meus lábios entreabertos, piscando meus cílios e dirigindo minha atenção para o mermo lugar que ela.

Entrecerro meus olhos, franzindo o cenho, e deslizo minha língua pela lateral da minha boca. Em uma fração de segundos, olho para minha amiga e acompanho a mudança em sua postura, sua pele morena empalidece, seus ombros se curvam, e seus olhos vacilam, com os cílios tremulando. Os resquícios da garoa fina começam a brilhar na ponta do seu nariz.

Dou um passo à frente, aproximando-me das costas da Ângela. Não entendo a mudança repentina em sua postura e dirijo meus olhos para o outro lado da rua. Minhas íris encontram um homem de porte grande, segurando um celular prateado próximo ao ouvido e, rapidamente, meu subconsciente puxa e reconhece a sua fisionomia.. É o mesmo homem de semanas atrás.

Contenho o riso, engolindo-o no processo.

"Tu quer apostar o quê? Se perder, teu carro fica. E uma boa quantia do teu dinheiro também. Sabe por que, coisinha? Aqui não é espaço pra tu, pô." —  O som da sua voz reverbera de forma egocêntrica em meus pensamentos outra vez, mas, na primeira vez, eu saí ganhando, enquanto ele ficou paralisado na pista 505, com as duas mãos no ar, encarando eu saindo não só com o seu carro da pista, mas também com uma boa quantia do seu dinheiro.

Inclino minha cabeça para o lado e curvo meus lábios em um sorriso gentil e largo. Estico minha mão no ar quando os olhos claros do mesmo homem que me subestimou encontram os meus; seu semblante endurecido revela o desdém ao me ver, e daqui, cerrando meus olhos vejo suas íris cintilando em pura raiva ao me reconhecer.

E se um olhar pudesse matar, eu estaria a alguns palmos do chão neste exato momento. Cinicamente, eu movimento meus dedos no ar, acenando em sua direção. Ele afasta o celular do seu ouvido direito e me dá as costas; meu sorriso se alarga ao ver suas mãos cerradas firmemente. Poxa, ele é realmente muito rancoroso. Mas eu entendo, ou talvez não, por que eu nunca perderia meu carro ou deixaria meu dinheiro na pista..

Sou abruptamente arrancada dos meus pensamentos, e meu sorriso diminui instantaneamente quando sinto seus dedos agarrando meu braço esquerdo, puxando-me para frente e forçando-me a girar o pescoço para encarar uma Ângela furiosa.

— Que porra tu tá fazendo, garota? — indago furiosa, soltando meu braço dos seus dedos. Ouço sua voz agressiva reverberar em meus tímpanos, o que quase me faz contorcer de risada.

Uma vadia insegura é tão patético.

— Desde quando conhece o Fontana? — avança um passo, cerrando seus dentes para mim, com suas narinas dilatando.

— Fontana? — puxo o nome na memória, enquanto vejo ela soltar uma lufada de ar forte, passando a mão na testa para remover a camada fina da garoa e, disfarçadamente, apontar com o queixo para o outro lado da calçada. Acompanho com o olhar o único homem do outro lado, aquele de quem eu ganhei o carro. Fecho minhas pálpebras, passo os dedos nas têmporas e faço minha voz ressoar. — Ah, ele? Eu não conheço ele. — não pelo nome.

— Então por que diabos acenou pra ele? — rebate, exigindo uma resposta enquanto cruza os braços sobre seus seios.

— Porque quis ser gentil pelo último racha. — dou de ombros. Ângela ergue suas sobrancelhas, estreitando os olhos para mim. — Não sabia que tinha alguém.

— Só se esse alguém me humilha como uma merda. — bufa uma risada sem ânimo, passando a mão pelo rosto. — Me desculpa, amiga... É que nosso lance é complicado.

— E eu entro aonde nisso? — questiono. — Se tentar me tratar assim outra vez, aí sim terá motivos para ser uma vadia burra e insegura. — digo secamente, mantendo meus olhos em seu rosto.

— Não seria doida. — curvo meus lábios em um sorriso, ouvindo sua voz ecoar atrás de mim.

E sim, eu seria doida; sucessivamente, grudo meus dedos na porta, abrindo-a completamente e encaro Ronar, com os olhos presos à tela do celular, digitando. Ele nota minha presença e ergue o tronco do pescoço, com seus olhos azuis me fitando.

— Vou seguir o teu carro. — aviso para Ângela, ouvindo o estalo dos seus  saltos pelo asfalto enquanto ela se afasta e ergue o polegar, confirmando.

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