CAPÍTULO 02

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— Essa parte vicia, pô! — Cacife fecha as pálpebras, fazendo sua voz grave ressoar, enquanto levanta o copo transparente de plástico, o gelo flutuando no licor marrom do uísque

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— Essa parte vicia, ! — Cacife fecha as pálpebras, fazendo sua voz grave ressoar, enquanto levanta o copo transparente de plástico, o gelo flutuando no licor marrom do uísque. — Já faz um tempo que eu quero descarregar o pente. — cantarola.

Silenciosamente, sigo com o olhar firme sob o sol ardente do final da tarde, fixando meu olhar na cena que se desenha à minha frente. O som de The Box explode pelas caixas vermelhas do paredão, afastado da piscina, sobre as gramas altas e esverdeadas.

Do lado de fora, na entrada da minha casa, observo os portões de ferro cinza erguidos. Minha visão se fixa na piscina quadrada, com bordas brancas e gotas azuladas espirrando no ar enquanto o moleque com cabelo de surfistinha dá uma cambalhota, mergulhando na água. Entrecerro os olhos e vejo as mesas de plástico alinhadas, cada uma com um balde de metal em cima e garrafas de uísque mergulhadas em gelo nas bordas.

Mantenho-me afastado, monitorando de longe a metade do meu bonde de paramilitares aqui no oeste de Santa Cruz. Com os braços cruzados sobre o peitoral, seguro o radinho na mão esquerda e observo os caras conversando entre si. Ostentando sorriso largos em seus rostos, cercados por uma renca de bocetas - pretas, ruivas, loiras - todas sentadas em seus colos.

Sinto um par de olhos me observando e, ao mover o pescoço, desço o olhar pelo corpo da mulher de porte alto. Seus fios de cabelo vermelhos intensos caem pelos ombros, e sua pele branquíssima brilha sob o sol. A alça do biquíni marca seu quadril largo enquanto ela cruza as esferas azuis dos seus olhos comigo, acompanhada de um sorriso largo em sua face oval.

Sagaz: O Bravo tá sem comer desde ontem... Parece que sentiu. Alfa tá animado - sua voz ecoa pelo radinho.

Abaixo o pescoço e olho para meu pisante Nike gel vermelho, enquanto encosto o radinho no ouvido. Ao fundo, o latido forte de Alfa reverbera eufórico, seguida pela sua voz.

Sagaz: Tô levando os dois..

Percorro a ponta da língua pelos lábios, umedecendo o seco enquanto seguro o palito de churrasco entre os dedos da minha outra mão, com a dedeira banhada a ouro ao redor do midinho. Inspiro profundamente, sentindo o ar forte encher meus pulmões, sem ouvir mais a voz de Sagaz do outro lado do radinho. Abaixando a mão, levanto os olhos para a frente da minha casa, mantendo o olhar atento e militar, mas minha atenção muda quando o som da sua voz infantil ressoa nos meus tímpanos.

— Tu não vai me dar meu dinheiro, não? — ele bufa um resmungo, enquanto meus olhos percorrem sua aparência. O cabelo molhado pela água da piscina escorre gotas pelos seus braços e costas, deslizando sobre a sua pele parda. Ele passa os braços pela frente do corpo pequeno, sugando o lábio inferior, vestindo uma sunga preta. — Maior rola da Santa Cruz é minha, né, segredo? — Bê diz, abaixando a mão e passando na frente da sunga. — Cacife me chamou de fimosinha.

Estreito meus olhos, ao notar uma ponta sutil surgindo através do tecido molhado da sunga.

— Subiu. — Acompanho com os olhos, estreitando o olhar para onde ele está olhando, e miro na ruiva com o sorriso largo. — Três mil de dinheiro, e agora quero uma moto pra ela também. — nego com a cabeça, vendo-a virar o rosto por cima do ombro e caminhar pela borda da piscina, exibindo a bunda redonda e grande, com o fio rosinha do biquíni pequeno entre as nádegas. Engulo em seco e desvio o olhar.

— Você ainda tem, por isso ele falou. — minha voz grossa ressoa de forma lenta e calma. — Vai comer mais, não? — ergo o palito, mostrando mais dois pedaços de carne. — Teu dinheiro eu dou depois, agora não.

— Tem que ser três mil de dinheiro. —  observo seus lábios se movendo, com a gordura da carne brilhando em sua boca. — Nada de passar perna em mim. — estalo a ponta da língua no céu da boca, capturando o som.

Sucessivamente, observo ele erguer os pés descalços pelo pavimento, inclinando o braço pequeno e segurando o palito de churrasco entre os dedos. Recuo um passo para trás, abaixando o tronco e expondo meu pescoço, com o cordão maciço banhado a bronze escorrendo ao redor dele. Agarro o copo de plástico entre meus dedos, vendo um pouco do licor marrom do uísque cair no chão.

Levo a borda do copo aos lábios e dou um gole, sentindo o líquido morno, aquecido pelo sol, umedecer a garganta seca e o sabor amadeirado do Blue Label impregnar no meu paladar. Comprimindo meu polegar na lateral do rádio preto, pressiono o botão para desligar a frequência e ergo a lombar, encaixando o aparelho no suporte da minha bermuda jeans com lavagem escura.

O som do escapamento da Ford Ranger retumba pela rua, sobrepondo-se à frequência do funk, fazendo-me inclinar o pescoço sobre o ombro e olhar para o veículo preto, cujas quatro rodas grandes giram pela rua. Levanto o olhar e vejo os três moloques com armas na frente do corpo, sentados lado a lado na caçamba. Mantendo a postura rígida, com blusas pretas que vão até os pulsos e toucas ninja cobrindo seus rostos, deixando visíveis apenas as retinas dos olhos.

Desvio meu olhar pela frente do automóvel, vendo apenas os olhos claros de Sagaz visíveis através da balaclava que protege seu rosto, enquanto suas mãos giram o volante de couro. Aperto o maxilar, passando as costas da mão pelo meu nariz, coçando e desço do meio-fio. Dirijo o olhar para Bernardo, que puxa a carne do palitinho entre os dentes e se senta no chão, cruzando as pernas em índio.

Marcho com o Nike gel lentamente pela rua, sentindo a arma no suporte balançar pelo meu quadril ignorante e o cordão bater no meu peitoral, enquanto o veículo diminui a velocidade e estaciona a alguns passos de distância.

— Estão aí. — ouço sua voz abafada sair pela janela semi-aberta do lado do passageiro, junto com o som do escapamento.

Contorno o carro, sentindo a porra do sol abrasador queimando minhas costas nuas e deslizo meus dedos pelo lado direito da caçamba. Fixo o olhar na estrutura musculosa do Pit Bull, que me encara com olhos profundos. Sua pelagem preta e grossa brilha ao sol, e ele rosna baixo e calmo por trás da fuzileira prata, com o fuço dilatado e o peito expandido, ostentando o cordão prateado com o nome "Alfa", envolto do seu pescoço.

Deixo o corpo de plástico sobre a borda da caçamba e meu olhar se encontra com as íris verdes de Bravo, que mantém as patas firmes e o maxilar forte. Estico a mão em direção à fuzileira, encaixo meus dedos e puxo, enquanto a língua vermelha e grande do cão desliza.

— Vão comer, daqui a pouco. — assobio, vendo Bravo esticar a boca, revelando os dentes pontiagudos.

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