Capítulo 23

2 1 0
                                    

Aron narrando...

O campo de batalha estava silencioso, as sombras da guerra ainda pairando no ar, mas o Senhor do Inferno havia sido derrotado, e a ameaça parecia finalmente ter se dissipado. O vento soprava suave, quase como se estivesse limpando os vestígios do caos que havia se desenrolado momentos antes. Lexie, exausta, olhava para o horizonte, apoiada no meu ombro, enquanto sentia uma leveza que não experimentava há muito tempo.

— Está acabado? — ela murmurou, sua voz fraca, como se o peso do mundo estivesse lentamente se dissipando.

Apertei meu braço ao redor dela, ainda processando o fato de estar vivo, de ter voltado do reino dos mortos. O sentimento de gratidão e alívio preenchia meu peito, mas algo no olhar distante de Lexie o preocupava.

— Sim, acabamos com ele. — respondi, mas havia uma sombra de incerteza em sua voz.

Lexie assentiu, mas seus olhos começaram a se encher de uma tristeza profunda. Ela sabia que a batalha contra o Senhor do Inferno havia sido vencida, mas o verdadeiro custo de suas ações ainda não havia se revelado. O poder que ela havia usado para me trazer de volta à vida era antigo, proibido e envolto em um destino terrível. E agora, esse destino vinha cobrar seu preço.

Subitamente, o ar ao nosso redor mudou. Uma presença invisível, porém palpável, tomou conta do campo de batalha. Era como se o próprio universo estivesse se dobrando sobre si, algo além da compreensão dos mortais. Cael, que havia se aproximado ao lado de Augusta, segurando o bebê de Lexie, sentiu a mudança imediatamente.

— Lexie... — Cael murmurou, olhando para ela com olhos arregalados. — Você usou o poder dos Mortíferos. Esse poder não vem sem consequências.

Lexie fechou os olhos, sentindo as energias ao seu redor se condensarem. Ela sabia que Cael estava certo. Desde o momento em que cravou sua garra no chão e convocou o poder proibido, ela havia selado seu destino. Agora, os Mortíferos, os ancestrais que habitavam o reino da morte, viriam buscar o equilíbrio que ela havia quebrado.

Percebi o desconforto crescente de Lexie e segurei sua mão, mas antes que pudesse perguntar o que estava acontecendo, o céu se abriu. Uma figura espectral, uma mulher envolta em sombras, surgiu diante deles. Seu rosto estava coberto por um véu negro, e em suas mãos ela carregava uma balança, símbolo da justiça implacável dos Mortíferos.

— Lexie Mortífera — a figura falou com uma voz que parecia ecoar de todas as direções. — Você invocou o poder de seus ancestrais, quebrou a ordem natural e desafiou as leis do mundo dos vivos e dos mortos.

Lexie sentiu o peso dessas palavras como uma sentença, cada sílaba penetrando em sua alma. Ela se levantou lentamente, afastando-se de mim, que a observava, incapaz de compreender o que estava acontecendo.

— Eu sabia o que estava fazendo — Lexie respondeu, sua voz firme, embora seus olhos estivessem cheios de dor. — Fiz isso por amor, para proteger o que nos era mais precioso.

A figura espectral flutuou levemente para mais perto de Lexie, os olhos vazios brilhando com uma luz fria.

— O amor é uma força poderosa, mas o equilíbrio do mundo não pode ser quebrado sem consequências. Você trouxe Aron de volta à vida, mas o ciclo da morte foi interrompido. Agora, você deve pagar o preço.

Dei um passo à frente, tentando intervir.

— Não! — eu gritei. — Se há um preço a ser pago, então eu pagarei! Ela não merece isso. Lexie me trouxe de volta para que pudéssemos lutar e proteger todos. Não a castiguem por isso!

A figura espectral olhou para mim por um breve momento antes de responder com uma voz fria e inexorável.

— A morte não pode ser trocada como uma moeda. Aquele que desafia as leis dos Mortíferos deve responder por suas ações. Lexie Mortífera, sua punição é a morte.

Lexie engoliu em seco, mas não recuou. Ela sabia que não havia escapatória. Desde o momento em que tomou a decisão de usar o poder proibido, aceitou o risco que isso trazia. Seu olhar se voltou para mim, que agora a encarava com desespero e incredulidade.

— Lexie, por favor... não... — a minha voz se quebrou, enquanto eu tentava alcançá-la.

Ela sorriu para mim, com tristeza e amor nos olhos. A dor que sentia em seu coração era profunda, mas ela sabia que havia feito o que precisava. Eu estava vivo. O bebê estava a salvo. Ela havia cumprido seu papel.

— Não lamente, Aron — disse Lexie, a voz calma apesar do destino que a aguardava. — Você voltou. Nosso filho está seguro. E eu... — ela hesitou, lutando para conter as lágrimas. — Eu sempre soube que esse poder não viria sem um preço.

Tentei avançar novamente, mas fui detido por uma barreira invisível. O desespero me dominou enquanto observava impotente. Eu não podia aceitar que, depois de tudo o que enfrentaram, Lexie tivesse que morrer.

— Não! —  gritei, batendo na barreira que me separava da minha amada. — Você não pode levá-la!

A figura espectral ergueu a mão, e a luz ao redor de Lexie começou a esmaecer, como se a própria vida estivesse sendo drenada dela. Lexie, porém, permaneceu firme, aceitando seu destino. Ela olhou uma última vez para Cael, Augusta e o bebê, antes de fixar seus olhos em mim.

— Cuide dele, Aron — ela disse com a voz suave, mas decidida. — Cuide de nosso filho e lute por ele, por todos nós.

E então, com um último sorriso, Lexie foi envolta pela escuridão. Seu corpo brilhou brevemente antes de desaparecer, dissolvendo-se em um feixe de luz que subiu aos céus. O vento cessou, e o silêncio tomou conta do campo de batalha.

Cai de joelhos, a mão estendida para onde Lexie estivera momentos antes, lágrimas escorrendo por meu rosto.

— Lexie... —  sussurrei, a dor rasgando minha alma.

Augusta, ainda segurando o bebê, sentiu uma onda de tristeza e respeito profundo. Ela caminhou até mim e colocou uma mão em seu ombro.

— Ela sabia o que estava fazendo, Aron — Augusta disse com suavidade. — Ela nos salvou a todos.

Cael se aproximou em silêncio, incapaz de dizer qualquer coisa. Ele sentia a mesma dor que eu, mas sabia que aquela era a verdade dos Mortíferos. Lexie havia quebrado a ordem natural, e o equilíbrio exigia um sacrifício.

Me levantei lentamente, meu corpo pesado pela dor. Olhei para o céu, onde Lexie havia desaparecido, e senti o vazio que sua ausência deixava.

Mas eu também sabia que ela havia confiado a mim, confiado que eu continuaria lutando, por nosso filho, por todos os que dependiam deles. E assim, com o coração em pedaços, tomei o nosso bebê nos braços, prometendo silenciosamente que honraria o sacrifício dela.

O preço havia sido pago, mas a luta pela sobrevivência de todos ainda continuava.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Oct 03 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

conquistando a companheiraOnde histórias criam vida. Descubra agora