Não mais sozinho

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"Nunca estarei sozinho."

Era o que eu costumava dizer, até porque, mesmo que ninguém brincasse ou falasse comigo, eu não estava completamente só.

As crianças sem olhos sempre estavam na minha volta para provarem que ninguém nunca está sozinho o tempo todo, a diferença é que eu podia as enxergar e principalmente falar com elas...

Porém naquela noite foi diferente...

Enquanto o sangue da minha mãe se espalhava pelas minhas vestes, se misturando com o sal da água do mar, junto com a areia molhada que grudava em nossa pele, eu me senti completamente só.

O frio na pele dela só me deixava cada vez mais claro que ela havia me deixado, assim como meu avô, meus pais e as crianças sem olhos...

Como naquela noite em que vi algo estranho no fim daquela rua, as crianças haviam sumido, e eu sabia que já havia se passado um tempo em que eu estava ali, até porque a dor no meu peito, o nó junto com a ardência na minha garganta, os lábios secos, o líquido viscoso que saia de minhas narinas e o gosto salgado das lágrimas, junto com o doce das gotas de chuva que se misturavam ao meu paladar me deixavam claro que eu não estava parado no tempo.

O mar estava instável, podia ver as ondas se quebrando e a maré subindo aos poucos, se não fosse por meu pai me avistar e me reconhecer ao longe, talvez eu também teria me juntado a maré.

— Jungkook!! Você está bem? — Ele me abraça, porém ao sentir o cheiro de sangue ele nota que havia algo errado. — Oh meu deus...

Eu não sabia dizer o que mais lhe chocava, o fato de minha mãe estar morta em meus braços ou o fato de ela estar morta e sem seus olhos.

No lugar de meu pai eu me culparia e diria que sou amaldiçoado... Mais uma pessoa havia morrido por minha culpa e dessa vez... Com aquilo que mais me assombra...

Papai ligou para polícia e para um socorro de emergência, em questão de uma hora a praia estava lotada, de paramédicos, policiais e outras pessoas que só queriam saber o que estava acontecendo para espalhar a notícia adiante.

Em quanto uma ambulância escoltada pela polícia levava o corpo da minha mãe, após tentarem reanimarem ela umas 3 vezes, eu e meu pai fomos levados para a delegacia de polícia relatar o ocorrido.

Não sei quanto tempo exatamente ficamos sentados sendo interrogados, entretanto eu só sabia responder "Não sei, eu não vi, eu não sei."

Meu estado de choque não havia passado ainda, o medo havia paralisado meu corpo e meus sentidos, me sentia observado por todos os cantos e a falta das crianças estava me deixando louco, mesmo estando perto de pessoas de carne e ossos, eu me sentia mais sozinho que nunca.

Tudo soava como um eco de baixa frequência ou como um murmúrio, para mim era como se o mundo estivesse girando em câmera lenta, os minutos pareciam eternos e nada mais fazia sentido para mim.

Eu não falei, nem sequer mostrei o papel que eu havia achado no bolso do casaco da minha mãe, de alguma forma eu sentia que só eu poderia descobrir o significado daquilo, só eu poderia encontrar a razão para aquilo.

Após avisarem a mim e ao meu pai sobre que a autópsia do corpo da minha mãe estava em andamento e não tínhamos nada mais a declarar, fomos liberados para irmos para casa.

Os policiais foram gentis e nos deixaram na casa onde estavam passando o dia, eu podia perceber que eles realmente estavam preocupados com o caso e bem, analisando as circunstâncias era de se preocupar, não é todo dia que um ser humano qualquer é morto com seus olhos arrancados de si.

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⏰ Última atualização: Sep 14 ⏰

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╮𝐂𝐫𝐢𝐚𝐧𝐜̧𝐚𝐬 𝐏𝐞𝐜𝐮𝐥𝐢𝐚𝐫𝐞𝐬 • JJK+PJM ۫♡ ۪Onde histórias criam vida. Descubra agora