J - Prólogo

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No início dos anos 1400, o mundo ainda se movia ao som dos sinos das igrejas e dos passos calmos nas ruas de pedra. As grandes cidades da Europa fervilhavam com mercados lotados, cavaleiros em armaduras pesadas e eruditos discutindo sob as sombras das catedrais.

Era uma época em que reis e rainhas governavam vastos territórios, enquanto o povo labutava nas terras dos senhores feudais. O Renascimento começava a germinar, mas o peso da Idade Média ainda pairava sobre o continente. Castelos imponentes pontilhavam as colinas, e os ventos traziam histórias de conquistas, intrigas e batalhas distantes.

A Igreja Católica dominava não apenas as mentes do povo, mas também a estrutura política e social de uma grande cidade europeia. Sob a luz das catedrais góticas que se erguiam como monumentos ao poder divino, os ensinamentos de Cristo eram a base da ordem moral.

As escrituras sagradas, lidas em latim, guiavam tanto os simples camponeses quanto os reis, que reinavam sob a bênção da Igreja.

A realeza e o clero, frequentemente em aliança, compartilhavam o poder sobre a população. Os decretos papais e as bulas reais eram leis incontestáveis, enquanto os nobres defendiam suas terras e privilégios com o aço de suas espadas.

A influência da Igreja era sentida em todos os aspectos da vida, desde a justiça nas cortes até o som dos sinos que marcava o ritmo dos dias. Clero e monarquia caminhavam lado a lado, consolidando sua supremacia em uma sociedade moldada pela fé, onde a salvação eterna e a ordem terrena eram indissociáveis.

Apesar de a religiosidade cristã, pregadora de paz e compaixão, ser o alicerce da sociedade, não era um tempo de tranquilidade para todos. A intolerância, alimentada pelo medo e pela ignorância, reinava nas ruas das grandes cidades europeias.

Mulheres, em particular, sofriam sob o peso das superstições e da opressão. Acusações de bruxaria e feitiçaria se espalhavam como fogo em palha seca, e mesmo as mais inocentes eram arrastadas para julgamentos injustos.

Qualquer comportamento considerado fora do comum, seja uma habilidade com ervas medicinais, uma opinião forte ou simplesmente ser uma mulher independente, podia ser visto como pacto com forças malignas.

Os julgamentos eram rápidos, impiedosos, e muitos acabavam nas fogueiras, queimadas vivas por pecados que jamais cometeram. A ideia de modernidade, que já havia florescido em tempos antigos com o avanço da medicina e da ciência, regredia sob a desconfiança e o controle do clero, que via na razão e no progresso uma ameaça à ordem divina.

Naquela cidade sombria, onde as paredes das catedrais lançavam sombras longas sobre as ruas estreitas, a justiça era cruel e inflexível. O juiz religioso, infame por sua falta de piedade, ditava o destino de todos com um olhar de aço.

A cidade, controlada pela fé deturpada, mais parecia uma prisão onde o medo se infiltrava em cada lar. Yang Jeongin, outrora um jovem aprendiz de padre, fora criado sob os dogmas da Igreja, mas o poder o corrompeu. Ao crescer, ele se tornou o verdadeiro pesadelo dos habitantes, conduzindo julgamentos implacáveis e espalhando o terror sem demonstrar um traço de misericórdia.

O motivo de existir de Yang Jeongin começou a mudar no dia em que foi ao palácio real. Enviado como figura de autoridade, sua missão era atualizar o rei sobre o progresso das perseguições e a execução implacável dos pecadores.

Enquanto caminhava pelos corredores imponentes, ele viu uma jovem moça que seguia a princesa por todo o castelo, sempre à sua disposição, carregando seus pertences ou atendendo suas necessidades com graça e discrição.

Era S/n, a ajudante exclusiva da princesa, cuja presença parecia passar despercebida para todos, exceto para ele. Havia algo na maneira como ela se movia, uma aura silenciosa que o perturbava profundamente.

CONFINS DO PECADO - Yang Jeongin YANDEREOnde histórias criam vida. Descubra agora