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Capítulo 3

NIKOLAI


Existe um provérbio russo que minha mãe me contava quando era criança e me revoltava por ter que escolher uma coisa só. Yesli pogonish'sya za dvumya zaytsami, ni odnogo ne poymayesh'. Se você persegue dois coelhos, não vai pegar nenhum dos dois.

Ela sempre me obrigou a escolher entre uma coisa ou outra. Um carrinho ou uma moto. Um empregado ou uma empregada. Jogar futebol ou jogar basquete. Comer macarrão ou batata.

Não importava o que fosse, ela sempre fez questão de que eu fizesse escolhas.

Mas quando ela virava as costas, eu tirava o sorriso do rosto e destruía as opções.

Quebrei o carrinho e a moto. Furei a bola de futebol e a de basquete. Dei de comer os cachorros do meu pai com o macarrão e as batatas. E os empregados?

Bom. O oxigênio não lhes cabia bem. Quando meu irmão mais velho descobriu meus hábitos, ele suspirou e disse que pelo menos ela não gostava de animais, nunca iria me fazer escolher e por isso eu não teria que matá-los.

Se não posso ter nenhum dos dois, por que deixá-los viver? Esse foi meu raciocínio até os quinze anos.

Então, quando minha mãe caiu escada abaixo diante dos meus olhos, ela sangrou até a morte com seu crânio esmagado. Me vi livre de ter que escolher e decidi que tomaria tudo para mim. E tem sido assim desde então. E ninguém me parou e nem conseguiria. Nikolai Ivanov. Família Ivanov. Mafiosos. Russos. Assassinos. Criminosos. Temidos. Ricos. Poderosos.

Foram muitos adjetivos dados para nós. Mas não foi o peso do meu nome que me fez ser quem eu sou, e sim a merda toda que meu pai me fez passar. Torturas. Falsos sequestros. Interrogatórios. Abandono. Negligência. E o que eu mais acho divertido. A noite dos lobos. Roman Ivanov. O Pakhan dos Bratva. O homem que atualmente mais desprezo. Desejo sua morte mais do que tudo para me livrar das correntes que me prendem.

"Aprenda rebenok. Quando se quer ter um cachorro, você precisa domá-lo. Um cão sem dono, é apenas um cão selvagem."

Foram um dos seus poucos primeiros ensinamentos de tortura que ele me passou. Ele me levou até o canil e chicoteou um cachorro que rosnava para o cuidador.

Eu tinha oito anos quando isso aconteceu. Sabia que ele estava me mostrando que o cachorro podia ser eu, e que se eu rosnar ou morder a mão que me alimentava, eu ficaria no lugar do cachorro ou até pior.

Quando minha mãe morreu, eu não derramei uma lágrima. E no dia do seu enterro, esse homem nem sequer apareceu e não demonstrou qualquer simpatia. E como poderia?

Minha mãe era só mais uma de suas muitas amantes com quem ele teve filho. Ela nunca foi sua esposa.

Como havia me dado à luz, ela teve o luxo de morar em uma boa casa com comida, empregados e alguns luxos que ela dizia ser ninharias comparados à mansão que a mulher dele tinha.

Meu irmão, Ivar, é fruto de um casamento. E eu sou o fruto de uma das muitas infidelidades de Roman Ivanov.

Minha mãe desprezava a existência do meu irmão, dizia que eu devia tomar seu lugar. Mas eu não tenho esse desejo. Pelo contrário, sinto pena dele, por ter que aguentar aquele velho e toda a porra das responsabilidades de gerenciar a Bratva.

Sempre achei que iria viver uma vida boa quando viesse para a faculdade. Ficaria livre daquela casa e de seus fantasmas. Mas comemorei cedo demais.

Ainda carrego a coleira do Roman no pescoço e não serei livre até removê-la. E por conta disso, hoje me encontro noivo dessa raposa astuta. Não aceitei esse noivado de merda por dever à família.

O príncipe quebradoOnde histórias criam vida. Descubra agora