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Capítulo 6

NIKOLAI

Está Frio. A neve cai nos meus ombros, criando uma camada branca. Apesar do casaco grosso, ainda estou com frio. Meu lábio está sangrando e minha cabeça dói.

Bateram com tanta força na minha cabeça que meu ouvido zumbiu com a pancada. Ivar me avisou que isso aconteceria. Que o Roman tentaria me matar, que me jogaria no meio do nada e que eu precisava voltar.

Preciso voltar por Irina. Ela não vai sobreviver naquela casa sozinha, ela vai acabar fazendo alguma besteira como sempre. Apoio minhas costas na árvore. A tontura e a dor latejante em minha cabeça.

Aquele desgraçado, ele não tem pena, mesmo com seu filho. A neve cobre todo o terreno da colina, o que torna difícil andar mais rápido. Um uivo soa no alto da colina.

Lobos.

Eles estão aqui e, se eu não arranjar um jeito de chegar na cabana que o Ivar me falou, eles vão me matar.

Ignoro a dor maçante na minha cabeça e corro. Corro o mais rápido que minhas pernas e a neve me permitem. Outro uivo. E mais um. E outro. São três lobos. O frio gela meus dedos, meus lábios estão congelados. Minha respiração ofegante cria uma fumaça quando entra em contato com o ar.

Tropeço na neve e caio com a mão apoiada no chão.

Argh. Dor.

O sangue sai do machucado da minha mão, suja de neve e terra. A neve  branca começa a mudar de cor para um tom avermelhado.

Outro uivo, só que mais perto.

Um fio de cabelo loiro cai sobre meus olhos, dificultando minha visão. Como um lembrete de que ele estava cravado em cada parte minha. Algo que minha falecida mãe gostava de manter, só para que eu me parecesse com ele. Um lembrete que desejo arrancar. Faz menos de uma semana que ela foi jogada escada abaixo e o Roman mesmo assim me mandou para cá.

Olho para trás, sentindo os lobos se aproximando. As feras escancaram suas presas, saliva escorrendo pela boca. Eles estão famintos.

A fome é dolorosa em todos os aspectos, até no mundo animal.

Agatha sentia fome também, fome de algo que ela não podia ter  e por conta dessa fome, ela morreu. Ela tinha que morrer. Se não, ela mataria a Irina. Por isso, não posso ceder agora, eu preciso voltar para casa. Ela não vai aguentar, não, sem mim por perto. O Ivar vai cuidar dela, mas ele não tem tempo de dar atenção para ela.

Levanto-me do chão gelado e corro, porque minha única saída é correr. A presença dos lobos fica mais próxima. Eles correm atrás de mim famintos para ter o prazer de me saborear. Um deles pula em minhas costas, eu caio no chão, viro tentando manter seus dentes longe do meu rosto. O cheiro de carne podre entre os dentes, faz meu estômago revirar. Sua pata se eleva e ele me ataca. Eu tento levantar, mas suas garras rasgam minha pele na coxa. O sangue pinga.

Ping.

Ping.

Ping.

O medo não é algo que sinto nesse momento. Só consigo pensar em Irina e no Ivar. Os únicos momentos que tenho de lembrança de qualquer felicidade eram com eles.

E um tiro ecoa.

Bang!

Abro os olhos rapidamente, com meu coração martelando no peito como se quisesse rasgar minha pele. O teto do meu quarto parece me esmagar, distante e sufocante ao mesmo tempo. O suor escorre pelas minhas têmporas, ardendo nas minhas vistas, e por um momento, tudo ao meu redor se desfaz em uma névoa de lembranças que eu lutei tanto para enterrar. Tento respirar fundo, mas o ar parece denso, pesado. Sento-me no chão, percebendo que devo ter caído da cama. Os lençois estão revirados, como se eu tivesse travado uma batalha ali, no meio da noite.

O príncipe quebradoOnde histórias criam vida. Descubra agora