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Capítulo 5

AMÉLIE

Por mais que eu odeie admitir, os Ivanov sabem dar um leilão. O salão da mansão Ivanov é luxuoso, com enormes janelas emolduradas por cortinas pesadas. Coquetéis e whiskys transitam nas bandejas dos garçons, e as mesas redondas estão cuidadosamente dispostas com os nomes de cada convidado.

E meu par da noite é o meu pai. O que eu ainda estou tentando decidir é se é algo para me deixar nervosa ou não.

Meu pai.

Eduard Bastien.

Um homem de cinquenta e oito anos, que aparenta ser dez anos mais novo. Seus cabelos meio cinza se contrastam com seu cabelo castanho. Algo que não puxei dele. Minha altura, por vez, veio dele. Um e setenta. Meu pai é um homem respeitado por muitos, pelo seu trabalho eficaz, limpo e seus resultados imediatos e grandiosos. Sem erros. Sem falhas. Tudo que luto para ser. E serei. Quando me formar e esse casamento estiver finalizado, subirei mais alguns degraus onde serei eu sentarei em sua cadeira.

Desculpe, pai, mas será uma mulher que ficará no seu lugar.

Eduard Bastien não foi um pai ruim. Me deu educação, um teto, alimentação e tudo que eu e minha irmã precisávamos ou quiséssemos. Mas isso é o que se espera de um pai. A única coisa que ele não deu a mim foi seu afeto ou sua presença em meus recitais e apresentações da escola, mesmo eu me esforçando e estando sempre em primeiro. Ele nunca me dirigiu uma sequer palavra de incentivo ou de apoio.

Zóe é que sempre esteve lá, para me apoiar e me amparar quando eu ficava frustrada com algo que eu não conseguia. Ela que me botou para dormir, cuidou de mim quando fiquei doente ou quando quebrei meu braço depois de andar de patinete no parque. Ela foi como uma mãe para mim.

Sempre tentando preencher o espaço que minha mãe deixou após me dar à luz. Mesmo que ela nunca pudesse preencher algo que eu nunca conheci. E sei mais do que ninguém que meu pai me culpa por tirar aquilo que ele mais amou. E como eu queria poder dar isso a ele de volta... e a mim o prazer de tê-la conhecido.

As memórias que Zóe tem dela e as fitas cassetes no porão são tudo o que resta. Nunca tive coragem de vê-las.

Ronald, um homem conhecido por sua habilidade em comprar políticos, começa mais uma de suas palestras intermináveis sobre como nossa geração está em decadência, com meu pai. Minha mente vagueia, tentando encontrar qualquer rosto familiar que me tire dessa conversa entediante, antes que eu decida que o pé de Ronald seja um bom lugar para limpar meus saltos.

Mas não avisto o psicopata do Nikolai. Não que eu esteja procurando.

Foco novamente ao redor tentando encontrar um salvador, mas não há ninguém. Só banqueiros, empresários, políticos que estão loucos por uma propina. E os mais divertidos advogados. Nenhum pouco irônico. Quem não quer defender pessoas que cometem crimes ou ajudá-las a driblar as leis que nos fazem ter um pouco de decência em viver em sociedade?

Que se foda. Não sou do tipo que espera ser salva.

Coço a garganta e incorporo o que mais sei fazer. Personagem de filha perfeita.

— Com licença. — Seguro o braço do meu pai, que franze o cenho. — Vou ao toalete, volto já. — Digo, sorrindo de leve com um breve aceno.

— Não demore! — Diz meu pai, com seus olhos intensos e cheios de avisos. Ele podia ser menos óbvio. Ele não quer que eu demore, para que possamos cumprimentar o Roman Ivanov. O que ele não sabe é que não tenho muitos amores pelo meu futuro sogro. Aquele homem me causa arrepios, mas é o que se espera de um líder dos Bratva.

O príncipe quebradoOnde histórias criam vida. Descubra agora