Parte 1

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26 de setembro de 1995

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26 de setembro de 1995

O vento frio agitava as árvores e as folhas caíam na grama. As nuvens cinzentas anunciavam o temporal que estava por vir. Os passos na estrada de cascalho emitiam estalos contra a sola das botas do jovem caçador. Seus cabelos escuros amarrados pela metade caíam úmidos pela pequena garoa que o pegou ao chegar na cidade de Cordes-sur-Ciel. As mãos tremiam nos bolsos a medida em que ele se aproximava cada vez mais do imenso casarão.

        Um chamado. Um único chamado foi o suficiente para que ele ignorasse qualquer razão e voltasse para aquele lugar. Poderia ter negado, sim, mas não sabia o que seria mais vergonhoso: voltar para o lugar onde mais sofreu ou recusar e ser considerado um bastardo covarde — algo que acreditava ser bem no fundo. Não pensou duas vezes antes de pegar o primeiro voo para a França, e, quando quis se arrepender e voltar para a sua casa, já estava subindo os degraus e batendo na porta frontal.

        Depois de duas batidas e a porta se abriu, como se já estivessem esperando por sua chegada. De frente para ele, uma mulher que devia ter os seus quarenta anos o encarava. O rosto quase não marcado por rugas, os olhos azulados que pareciam arder em chamas ao mesmo tempo em que demonstravam uma frieza absoluta. Ela o olhou da cabeça aos pés com feições severas e estalou a língua.

        — Esqueceu o guarda-chuva, não foi?

        O homem piscou várias vezes. A voz levemente rouca da mulher adentrou em suas memórias mais antigas, despertando sentimentos que ele já havia feito questão de fingir esquecer. Ele apertou a alça da bolsa em seu ombro e suspirou.

        — Oi, mãe.

        Seus lábios repuxaram para os lados em um sorriso.

        — Louis, meu menino, entre. — Ela abriu caminho para que o homem passasse.

        Entrando no hall, parou pouco atrás da mulher, virando seu corpo para encontrar seus olhos.

        — Por aqui. Seu irmão e Richard saíram.

        Ela fechou a porta e caminhou por um corredor, sendo seguida por Louis. Quadros pendurados pelas paredes mostravam pinturas antigas. As sombras, rostos, pessoas e paisagens pareciam contar uma história por cada parede. Alguns quadros datavam de séculos passados e, Louis pensava, talvez aquela história também pertenceria a ele, ao passado dele, se as coisas fossem diferentes.

        Virando abruptamente em uma porta larga, os dois entraram no que parecia um antigo escritório. Sobre a mesa, uma pequena placa estampava o nome de Cecil Courtier. Louis reconheceu logo depois que aquele era o escritório de sua mãe. Estava diferente do que ele se lembrava, do tempo que passava ali para se esconder e aprender quando criança. Lembrou-se dos dias em que, castigado por Richard, ele ficava sentado sobre a mesma poltrona de couro copiando dezenas de páginas de livros até que suas mãos doessem, esperando que seu irmão voltasse e o chamasse para fazer qualquer coisa, já que Richard nunca negava nada ao seu filho, mesmo se tratando de Louis, o pequeno bastardo dos Courtier.

O Demônio de Veneza - Contos Arcanos IOnde histórias criam vida. Descubra agora