Epílogo

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"Oh I'll be free just like that blue bird"

- David Bowie, Lazarus

Lágrimas de gelo.

A porta bateu com força atrás de mim, o estrondo ecoando pelo corredor. Ergui a mão até minha boca e senti o filete de sangue quente que fluía do meu lábio inferior em direção ao queixo, o pequeno corte ardendo como o inferno.

Jimin é ridículo! Minha mente gritou.

Apertei o botão do elevador várias vezes, como se isso pudesse fazê-lo chegar mais rápido, e bati o pé contra o solo. O corredor era adornado por um pequeno e belo pé de orquídea, algo que sempre me parecera calmante, mas que, naquele momento, só aumentou minha raiva. Estava pensando em mil formas de destruir a planta quando ouvi a porta do apartamento se destravar e Jimin sair por ele. Tinha tirado a camisa que usava antes e exibia o peitoral descoberto, as tatuagens presentes ali totalmente expostas, e jogou uma mochila no meio do corredor - suas bochechas queimando e as pupilas totalmente dilatadas.

- BOM DIVERTIMENTO, JUNGKOOK! - Berrou.

A porta bateu mais uma vez, a pequena decoração de boas vindas tremendo sob o choque intenso. Bufando, aproximei-me da mochila jogada ao chão e a chutei, pisei e esmaguei antes de finalmente apanhá-la ao ouvir o CLING do elevador. Coloquei-a no ombro, sem ligar se algo ali dentro havia quebrado e entrei no elevador, apertando o botão para o térreo com tanta força que pensei quebrá-lo.

Idiota! Ridículo! Certinho! Xinguei Jimin mentalmente. Meu reflexo no espelho do elevador mostrava um homem transtornado, com os olhos brilhando de raiva, o lábio ligeiramente inchado e a camisa totalmente amassada. Haviam se passado anos desde a última vez que tínhamos brigado tão feio e eu nadava no meu próprio ódio.

A descida do 14° andar ao térreo parecia lenta demais, angustiante. O silêncio do elevador me fez perceber minha respiração descompensada e fechei os olhos por alguns segundos, absorvendo o ar com veemência em uma tentativa de me acalmar. Os pontos coloridos em minha visão começaram a desaparecer e meu rosto lentamente voltou à coloração normal, a vermelhidão desaparecendo. Minha mente ainda estava sufocada, a razão distante demais para ser atingida naquele momento, mas minhas mãos passaram a tremer ligeiramente menos.

Custava me ouvir, idiota? Custava? Resmunguei na esperança de que Jimin ouvisse meus pensamentos incendiados. Ouvir o que eu tinha a dizer iria matá-lo, por acaso?

Qual era o grande problema de ir a uma festa com os amigos? O pub que eu estava algumas horas antes tinha sido inaugurado há pouco mais de uma semana e eu, como um dos principais jogadores do time da região, fui convidado para participar do primeiro show ao vivo que aconteceria. Era um local luxuoso, especialmente feito para os mais ricos da cidade, um lugar seleto que eu tinha sido prestigiado ao ganhar um convite para visitar.

O pub estava lotado e é claro que fotos minhas caíram nos sites de fofoca cinco minutos depois que coloquei os pés na festa. O time de futebol que eu jogava era um dos mais conhecidos do país, tornando-me uma espécie de celebridade nacional, fato este que não foi esquecido quando tiraram fotos minhas em meio à multidão. Eu tinha dançado e pulado por horas com meus colegas de trabalho e então, em meio à animação, algumas fotos foram publicadas me mostravam próximo demais de uma mulher. Os sites de fofoca não perdoaram e manchetes de que eu estava beijando uma misteriosa mulher e, consequentemente, traindo meu namorado, tomaram conta das notícias do mundo das celebridades.

Quando finalmente cheguei ao térreo, saí correndo até o carro, percebendo tarde demais que as chaves estavam no apartamento, afinal eu tinha chegado em casa de carona com o dono do pub. Tinha passado o dia sem o carro e isso me fez rugir de raiva como um animal enjaulado. Chutei a porta do meu carro até sentir a dor tomar posse do meu pé. Toda aquela situação - minha briga feia com Jimin, meu acesso de raiva, a dor que irradiava em minha perna - era consequência de um equívoco causado por pessoas que jamais me conheceram. Pessoas que buscavam a todo custo a manchete mais chocante do dia, o fato mais atrativo aos leitores, mesmo que ele não fosse verdadeiro.

Como não te amar |° vs jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora