A aula, que para qualquer outra pessoa seria uma sucessão interminável de palavras monótonas e fórmulas sem vida, para mim ganhava outra cor quando Blake estava ali. Ele, com seu sorriso sempre presente e os olhares furtivos que me lançava por cima dos cadernos, tornava o ambiente menos opressivo. Cada mensagem que ele me enviava por debaixo da mesa era como um pequeno segredo compartilhado, uma quebra silenciosa das regras que fazia o tempo passar mais depressa.
"Você está lindo hoje. Na verdade, você está lindo todos os dias", ele digitava, e eu sentia meu rosto esquentar, de uma cor notável escarlate, antes mesmo de olhar a tela. Era impossível não sorrir de volta, mesmo sabendo que os professores poderiam nos flagrar a qualquer momento. Aquilo que antes parecia distante para mim — a sensação de ser desejado, bonito — agora estava ali, constantemente reafirmado nas pequenas gentilezas de Blake. Eu me pegava pensando em como, por tanto tempo, essa qualidade havia sido invisível para mim mesmo.
A matéria, que em outros tempos me parecia chata e insuportável, de repente parecia fluir. As fórmulas complicadas ganhavam clareza, as explicações faziam mais sentido. Talvez não fosse só Blake, mas ele certamente tornava tudo mais leve, mais simples. Cada olhar, cada palavra trocada às escondidas, dava à aula um propósito novo. Não era mais apenas sobre aprender, mas sobre estar ali, com ele, compartilhando esses momentos de forma tão discreta, e ainda assim, tão intensa.
Com Blake, até a rotina mais comum ganhava brilho.
Hoje, a aula de Biologia era no laboratório, e claro, Blake foi rápido em se juntar a mim, assegurando que, como sempre, seríamos dupla. Ele sorriu enquanto arrumava a banqueta de aço ao meu lado, e eu não pude deixar de sentir aquele calor familiar em meu peito.
A professora anunciou que faríamos um experimento de dissecação de uma folha, examinando a estrutura microscópica de suas células. Em outros tempos, a simples menção de algo técnico como isso me teria entediado, mas com Blake ao meu lado, até a análise de células parecia uma aventura.
Antes de Blake se juntar a mim, houve aquele momento habitual que sempre acontecia no início das aulas de laboratório. Várias alunas, e até alguns alunos, tentaram sutilmente ou nem tão sutilmente chamar sua atenção, na esperança de que ele escolhesse um deles como dupla. Não era novidade — Blake era o cara mais desejado da turma desde sempre. Seu sorriso fácil e charme natural faziam dele o alvo de inúmeros olhares, especialmente das garotas, que se amontoavam ao redor dele sempre que uma atividade prática era anunciada.
E quando ele me escolheu, o ambiente na sala ficou tenso por um breve segundo.
— Pega o microscópio, Benji — ele sussurrou, me lançando aquele sorriso de canto que fazia meu coração explodir em velocidade. Obedeci sorrindo, sem questionar, pegando o aparelho e ajeitando-o na bancada.
Blake, por sua vez, pegou a lâmina e preparou a amostra com uma concentração que eu raramente via nele. Ele parecia mergulhado na tarefa, o que era surpreendente para alguém que geralmente não era o mais dedicado às aulas. Seus dedos longos e habilidosos manipulavam os instrumentos com destreza, e eu me peguei observando mais ele do que o experimento em si.
Quando chegou a minha vez de olhar no microscópio, me inclinei sobre a lente, ajustando o foco. As células da folha começaram a se formar diante dos meus olhos, um labirinto em verde de estruturas minúsculas e perfeitas. Era fascinante, mas ao mesmo tempo, eu sentia a presença de Blake ao meu lado, a energia entre nós, como se o simples fato de estarmos próximos tornasse o ar mais pesado, mais carregado.
— Tá conseguindo ver bem? — Blake perguntou, sua voz baixa e próxima o suficiente para que eu sentisse seu hálito quente no meu pescoço, que dessa vez não parecia sinetas de prata.
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As Cartas de Benjamin (Parte 2): Amor Entre Linhas
RomanceAinda não parecia real para Benjamin, bom, pelo menos em seu mundo particular. Ele e Blake estavam oficialmente namorando, e não era um sonho. Benjamin, acostumado a esconder seus sentimentos nas entrelinhas das cartas que escrevia, agora precisava...