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Ruggero

Eu nunca ouvi a voz da minha mãe, tampouco escutei suas histórias sobre seu envolvimento com o meu pai. Ela morreu quando eu nasci, como se eu carregasse uma coisa venenosa dentro de mim.

E tudo o que eu tinha eram as memórias do meu pai, sua devoção pela minha mãe e todas as fotos que eles tiraram e ele guardou.
Eu vi e revi tudo milhares de vezes. Havia dezenas delas espalhadas sobre a minha cama, mas nenhuma me dava uma pista sólida do que os uniu.

A única coisa óbvia em cada olhar, em cada toque deles, era o amor. Parecia amor. Eu via amor.

Mas o que eu sei sobre essa merda?! E se o Lionel estiver sendo sincero?

— Mandou me chamar, senhor?

Acenei com a cabeça para que Manfred entrasse no meu quarto. Ele obedeceu rapidamente.

— Você está aqui desde antes do meu nascimento. Certo?

— Sim. Entrei nesta casa pouco antes do casamento dos seus pais. — Manfred hesitou, abaixando o olhar. — Que Deus os tenha.

— Então você sabe tudo sobre a história deles?

— Perdão?

— Como eles se conheceram? A minha... a minha mãe era feliz? Ela o amava? — Peguei uma foto e estendi em sua direção. — Como ele a tratava? Fale. Fale tudo o que sabe.

Olhando para a fotografia, eu o vi apertar os lábios em linha reta, por fim ergueu a cabeça.

— Tudo o que eu sei é que jamais vi uma briga deles. Nem mesmo um pequeno desentendimento. Eles... bom, eles tinham uma vida normal. E quando a senhora Antonella engravidou, e a barriga começou a crescer absurdamente, o seu pai tentava carregá-la nos braços o tempo todo. Ele a adorava, senhor. Seu pai era um devoto fiel da sua mãe.

Quero entrar na mente dele e me certificar de que está sendo sincero, mas conheço Manfred desde sempre e nunca vi ninguém tão honesto. Seus olhos são claros e tranquilos. Sinto verdade. Ou talvez seja o que eu procure.

— Então eles... ficaram juntos porque se amavam mesmo...

— Ah, sim. Óbvio. Principalmente porque eram muito parecidos. Compartilhavam os mesmos sonhos. Acho que isso os mantinha mais ligados ainda.

Pego a foto de volta e abano a cabeça em concordância.

— Obrigado, Manfred.

— Senhor... eu sei que não devo me meter, mas eu imagino como deve ser perder as suas duas maiores pilastras na vida. E eu quero que saiba que independente disso, o senhor foi muito desejado por eles. A sua família o amava. E eles iriam querer vê-lo feliz.

O incômodo indesejado que antecede as lágrimas faz os meus olhos arderem. Eu fungo e me sento na beirada da cama. Há anos não choro, nem mesmo quando o meu pai se foi. E é doloroso saber que mesmo que as lágrimas não venham a dor continua esperando um meio de surgir.

Eu perdi todos. E eu preciso encarar isso. Mas eu não posso. E eu acho que nunca parei para pensar o quanto não consigo passar por cima disso.

— Tem alguém impune lá fora. — Falei; um nó doloroso na garganta. — Alguém que mandou matá-lo.

— E o senhor quer justiça.

— Não é o certo? A vida é assim, olho por olho, dente por dente.

— Será que precisa ser assim? — Retrucou do alto de sua simplicidade. Um tom ameno que cutucou o meu cérebro. — Talvez o senhor se agarre a essa dor porque ela é o último fio que ainda o liga aos seus pais. Às vezes a gente se prende a algo ruim, só para ter algo em comum com aquilo que não desejamos largar ou enfrentar. Mas não quer dizer que é saudável.

Quebre As RegrasOnde histórias criam vida. Descubra agora