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Eu não queria olhar para eles, muito menos dar o gostinho de parecer uma idiota para os outros que agora viam meu acompanhante com outra, mas não fui capaz de fingir normalidade.

Não muito longe da nossa mesa, Ruggero soltou a mão dela e aprumou o próprio terno. A mulher sorria, fazendo questão de empinar os peitos na direção dele enquanto esticava os dedos longos até a gravata que minutos atrás eu arrumei nele. Quem é ela, no fim das contas?!

— Quer uma bebida, senhorita?

A contragosto me virei para o garçom e aceitei a taça de vinho que me oferecia. Dei um longo gole na bebida e ela desceu quente pela minha garganta. Era forte e se impregnava na minha língua.

Por sobre a borda da taça eu observei Ruggero dizer algo para a mulher que a deixou claramente irritada. Ela torceu a boca e cruzou os braços, por fim sacudiu a cabeça, negando-se a aceitar o que quer que ele estivesse lhe falando.

Parecia prudente me virar para frente, afinal todo mundo já começava a se organizar para ouvir o dono do evento, contudo, um traço da conversa deles chegou até mim, e isso foi o suficiente para ter toda a minha atenção.

— ... Estou acompanhado hoje, Maya. Respeite isso. — Ruggero murmurava.

— Aquilo ali? Ah, claro, é a sua puta da vez, não é? Eu sempre soube que você gostava desse tipinho mesmo.

Aquilo ali? Como é que é?!

Olhei bem para a taça em minha mão e a levei aos lábios, entornando tudo de uma vez. Com as costas da mão limpei os cantos da boca. Quando me levantei, senti uma leve e rápida tontura, mas passou logo. Sacudi a cabeça e empinei o queixo.

Pedi licença às outras pessoas que dividiriam a mesa conosco e saí, abrindo caminho por entre os convidados. Ruggero estava dizendo alguma coisa com sua pouca delicadeza de sempre quando parei ao lado dele.

Instantaneamente a mulher me olhou.

— Boa noite. — Falei, tremendo por dentro. — O senhor Porter já vai abrir o leilão, acho melhor voltar para a mesa, Ruggero.

— Sim. Eu só...

— Estamos conversando, meu bem. — A tal mulher se intrometeu, sorrindo com zombaria para mim. — Pode ir lá. Já, já ele chega.

— Perdão, querida, mas qual é o seu nome mesmo?

— Maya. — Disse, cheia de si. — Maya Nolasco. E você? Tem nome?

Estiquei a mão e mesmo com hesitação, ela aceitou.

— Eu sou a puta. Muito prazer. — Sorri abertamente, sustentando seu olhar levemente surpreso.

Tive a sensação de escutar o Ruggero se engasgar, mas ele logo pigarreou. Eu queria olhá-lo e notar se ficou tão corado quanto imaginei que estaria, ou se ao menos estava se divertindo com a situação, mas optei por apenas enroscar meu braço no seu.

Fingir estar plena quando algo me magoa é uma prática que venho aperfeiçoando com os anos de convivência com a minha mãe.

Maya não faz ideia do quanto precisaria se esforçar para de fato me tirar dos eixos. Se ela fosse filha de Carolina Sevilla, entenderia.

— Bom, acho que já estamos acertados por aqui. — Ruggero falou. — Com licença, Maya.

— Mas...

— O batom, meu bem. — Sussurrei para ela. — Tem batom no seu dente. Limpa isso aí. — Mais uma vez sorri. Sorri como fazia no convento quando precisamos conseguir mais empresários para apoiar a causa da igreja. Pois não importava o quanto fosse pago ali, o dinheiro nunca era o suficiente. Volta e meia éramos convidadas a confraternizar com homens ricos que adoravam ver o coral do nosso colégio e interagir conosco.

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⏰ Última atualização: 18 hours ago ⏰

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