EVELYN
As velas queimavam baixinho nos castiçais, lançando sombras dançantes nas paredes do meu quarto. O silêncio era denso, quase palpável, como se o próprio castelo estivesse segurando o fôlego. Eu estava sentada na beira da cama, olhando para o espelho, mas não me reconhecendo. A tiara repousava sobre a penteadeira como um lembrete silencioso de tudo que eu estava prestes a abandonar.
Minhas mãos tremiam levemente enquanto enfiava as últimas peças de roupa na bolsa de couro que Lady Amara havia trazido para mim. Tudo o que eu levava eram algumas vestimentas simples, roupas que não gritavam "princesa" quando eu finalmente estivesse longe deste castelo. Lady Amara havia me prometido que as roupas de pirata me aguardavam no porto, junto com o resto do disfarce.
Ela estava do outro lado do quarto, conferindo os detalhes da fuga com precisão militar, como sempre fazia. Seus passos eram cuidadosos, seu olhar atento. Ninguém seria mais capaz de me ajudar do que ela. Ao longo dos anos, Amara não tinha sido apenas uma dama de companhia. Ela era minha mentora, confidente e, acima de tudo, minha amiga mais leal.
— Você tem certeza disso, Evelyn? — Ela perguntou baixinho, sem me encarar diretamente, os olhos focados na janela aberta que dava para os jardins escuros. — Uma vez que cruzarmos aquela muralha, não haverá volta.
Eu suspirei profundamente. A pergunta pesava em meus ombros como um manto de responsabilidade. Eu sabia que fugir não era apenas um ato de desespero, mas também uma declaração. Estava abdicando de tudo o que conhecia, tudo o que me foi ensinado a valorizar. No entanto, se ficasse, minha vida seria uma série interminável de sacrifícios em nome de um casamento que me sufocava mais a cada segundo.
— Eu não tenho outra escolha, Amara — respondi, levantando-me da cama e cruzando o quarto até a janela. A brisa noturna acariciou meu rosto, fresca e livre, e, por um momento, senti uma pontada de esperança. — Eu não posso me casar com Edric. Não vou viver sob o controle de um homem que me vê apenas como um objeto, uma moeda de troca para fortalecer seu reino.
Amara finalmente se virou para me encarar. Seus olhos estavam cheios de preocupação, mas também de determinação. Ela sabia o que estava em jogo tanto quanto eu. Se Edric descobrisse minha fuga, não haveria misericórdia. Ele poderia nos caçar até os confins da terra.
— O que você acha que vamos encontrar no porto? — perguntei, tentando esconder a tensão em minha voz. As palavras pareceram flutuar no ar, misturando-se com o ambiente pesado da noite.
Amara me lançou um olhar tranquilizador, embora seu próprio nervosismo estivesse evidente. — Tomas é de confiança. Ele sabe o que está fazendo. A única coisa que precisamos fazer é seguir as instruções dele e manter a calma.
Ela fez um último ajuste na bolsa e fechou-a com um estalo resoluto. Caminhou até mim e colocou a mão em meu ombro. — Eu sei que não podemos prever o que virá a seguir, mas temos que confiar no plano.
Eu respirei fundo, tentando absorver suas palavras e a calma que ela tentava transmitir. Amara estava sendo uma rocha de estabilidade em meio ao caos. Sem ela, eu duvidava que conseguiria realizar a fuga. Seu papel foi crucial para que o plano se concretizasse.
— Está na hora — disse ela, seu tom resoluto quebrando o silêncio da noite. — Vamos.
Caminhamos pelos corredores do castelo em total silêncio, o som dos nossos passos abafado pela espessa tapeçaria nas paredes. Cada sombra parecia uma possível ameaça, cada ruído um sinal de que havíamos sido descobertas. Mas continuamos, guiadas pela esperança e pelo medo que nos impulsionava.
Chegamos aos estábulos, onde o cavalo negro estava pronto, esperando por mim. Amara já havia conferido tudo, e o animal parecia calmo, como se soubesse da importância daquela noite. Amara ajudou-me a montar, seu toque firme e suave garantindo que eu estava confortável. Em seguida, ela subiu na sela atrás de mim, o que significava que ela também estava fazendo sua parte para garantir que o plano fosse bem-sucedido.
— Vamos. O porto não está longe — disse Amara, ajustando a posição na sela para se acomodar atrás de mim.
A estrada de terra parecia interminável sob a luz da lua. O vento fresco passava pelos nossos rostos, e o cavalo trotava com um ritmo constante. A cada passo, sentia o peso da decisão, a adrenalina e a expectativa de estar a um passo mais perto da liberdade.
À medida que nos aproximávamos do porto, o som das ondas quebrando contra o cais e os gritos das gaivotas preenchiam o ar. Era um contraste marcante com o silêncio do castelo, e eu não pude deixar de sentir uma leve onda de alívio.
Finalmente, chegamos ao porto, onde a atividade era constante, mesmo àquela hora da noite. As luzes dos faróis piscavam sobre a água, e a visão dos barcos ancorados criava um cenário quase surreal. Meus olhos procuraram o contato de Tomas, o amigo de Amara, que havia prometido nos ajudar.
— Lá está ele — disse Amara, apontando para um homem alto, com um sobretudo escuro e um chapéu de feltro. Tomas estava encostado em uma das vigas do cais, observando a chegada com um olhar atento.
Conduzi o cavalo até onde Tomas estava, desmontando rapidamente e ajeitando a bolsa de couro nas minhas costas. Amara desceu logo atrás de mim, com a mesma determinação.
— Tomas — Amara chamou, seu tom de voz firme e controlado. — Estamos aqui.
Tomas se aproximou, um sorriso de alívio cruzando seu rosto quando nos viu. — Boa noite, Lady Amara, Princesa Evelyn. — Ele fez uma reverência respeitosa, embora seu olhar estivesse concentrado em nós. — Estava preocupado se vocês chegariam a tempo. O tempo está contra nós.
— E o barco? — perguntei, minha voz carregada de expectativa e apreensão. — O que devemos fazer?
Tomas acenou com a cabeça em direção ao cais, onde uma pequena embarcação estava ancorada, parcialmente escondida pelas sombras. — O barco está ali. Não pergunte nada sobre a identidade dos tripulantes ou sobre a viagem. Apenas sigam as instruções e mantenha-se discretas, só informei que duas meninas iriam entrar, eles não questionam muito.
Amara e eu seguimos por um caminho estreito até o barco. Tomas nos acompanhou até a borda da embarcação e se despediu com um olhar de encorajamento.
Ele se afastou, desaparecendo na escuridão do porto, deixando-nos apenas com o som das ondas e o silêncio das noites em alto-mar. Eu subi a bordo do barco, sentindo o balanço leve da embarcação sob meus pés. A sensação de estar finalmente livre do peso da opressiva expectativa do castelo era uma mistura de alívio e tensão.
O capitão do barco, um homem robusto com um olhar enigmático, estava ao leme, suas feições obscurecidas pela sombra. Ele não disse uma palavra enquanto nos ajudava a bordo, apenas fez um gesto para que entrássemos e nos acomodássemos. A falta de conversação só aumentava o mistério que cercava nosso destino, mas eu sabia que qualquer indagação poderia arriscar nossa fuga.
Assim que a embarcação começou a se afastar do cais, olhei uma última vez para a terra firme que estava desaparecendo lentamente. Uma mistura de medo e excitação se espalhou por mim. Eu estava deixando tudo para trás — minha vida como princesa, meu pai, o casamento arranjado, e embarcando em um novo capítulo, repleto de incertezas e possibilidades.
Amara sentou-se ao meu lado, seu olhar fixo no horizonte. Ela estava tão imersa no momento quanto eu, compartilhando a mesma ansiedade e esperança.
O mar se estendia à nossa frente, vasto e imprevisível. Não sabíamos o que o futuro nos reservava, mas pelo menos agora estávamos livres para procurar nossas próprias respostas. Nossa jornada tinha apenas começado, e o caminho à frente era desconhecido, mas juntos, estávamos prontas para enfrentá-lo.
A noite se aprofundava enquanto o barco navegava para longe do porto, e com cada onda que balançava a embarcação, eu sentia uma sensação crescente de liberdade. Eu sabia que a verdadeira aventura estava apenas começando.
CONTINUA....
E aí amorecos... estão gostando???
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Amor nas Ondas do Destino
FantasyA princesa Evelyn de Aldoria sempre foi admirada por sua beleza e graça, mas, no fundo, sentia-se sufocada pelas expectativas da corte. Seu pai, o rei de Aldoria, arranja seu casamento com um príncipe de um reino vizinho, um homem cruel e calculista...