EVELYN
O mar se estendia à nossa frente, um vasto manto negro salpicado de estrelas que nos acompanhava enquanto o barco se afastava do porto. A brisa noturna balançava suavemente a embarcação, e o som das ondas quebrando contra o casco era nossa única companhia, além do ocasional grito distante de uma gaivota. Eu me sentia como se estivesse flutuando entre o passado e o futuro, o peso das decisões que tomei pairando sobre mim.
Lady Amara estava ao meu lado, suas mãos firmes e decididas enquanto ela organizava as roupas que havíamos trazido. O barco estava pequeno, mas o espaço ainda era suficiente para que pudéssemos nos acomodar sem maiores problemas. O ambiente ao redor era simples, com o cheiro salgado do mar misturado ao aroma da madeira envelhecida do casco.
— Evelyn — Amara começou, sua voz baixa e controlada, interrompendo o silêncio que envolvia o barco. — Temos que estar preparadas para qualquer eventualidade. O capitão pode ser reservado, mas isso não significa que todos na tripulação serão iguais.
Eu assenti, tentando absorver a realidade da situação. A sensação de liberdade ainda estava se consolidando, misturada com uma ansiedade constante sobre o que nos aguardava. O tempo parecia passar mais lentamente do que eu imaginava, e o mar, embora lindo, era também um vasto desconhecido.
— Eu sei, Amara. — Respirei fundo. — Estou apenas tentando me acostumar com a ideia de estar realmente longe de tudo o que conhecia.
Amara me lançou um olhar compreensivo e continuou a organizar as roupas. Seus movimentos eram meticulosos, cada detalhe verificado com precisão. Ela havia sido uma constante na minha vida, e sua presença ao meu lado agora era um alívio em meio ao caos da fuga.
Depois de algum tempo, o sol começou a se levantar, pintando o céu com tons de rosa e laranja. O brilho do amanhecer trouxe uma nova energia ao barco, e o horizonte parecia mais próximo, como se a promessa de um novo começo estivesse ao alcance das mãos.
Enquanto o barco navegava suavemente, o capitão, um homem robusto com um olhar enigmático, apareceu no convés, sua figura envolta em sombras. Ele não era muito de conversas, mas cumprimentou Amara e a mim com um breve aceno de cabeça antes de se ocupar novamente com suas tarefas.
Foi quando duas jovens se aproximaram, interrompendo a nossa contemplação silenciosa. Elas eram membros da tripulação, e sua presença trouxe um novo dinamismo ao ambiente. As duas meninas eram jovens, com idades aparentes semelhantes às nossas, e pareciam estar ansiosas para nos receber a bordo.
A primeira era uma jovem com cabelo castanho-avermelhado preso em um coque desfeito. Seus olhos verdes brilhavam com curiosidade e simpatia. Ela vestia uma camisa de linho simples e calças de veludo, ambas bem usadas, mas limpas e funcionais.
— Olá, sou Clara — ela se apresentou com um sorriso caloroso. — Fico feliz em ver que vocês conseguiram embarcar sem problemas.
A segunda menina tinha cabelo negro e liso, que caía sobre seus ombros com um brilho sutil. Seus olhos eram de um marrom profundo e eram suaves, mas cheios de determinação. Ela usava uma blusa branca e um colete escuro, com botas de couro que pareciam prontas para qualquer tipo de trabalho.
— E eu sou Elena — disse ela, fazendo um pequeno gesto de saudação. — O capitão nos informou sobre vocês. Estamos aqui para ajudar com o que precisarem.
Amara e eu trocamos um olhar de alívio. A presença das duas jovens parecia promissora, e eu senti uma onda de gratidão por finalmente ter alguns rostos amigáveis em meio ao novo ambiente.
— Agradecemos muito — eu disse, tentando esconder o alívio na minha voz. — Não sabíamos exatamente o que esperar ao embarcar.
Clara sorriu e se aproximou, pegando algumas das nossas bolsas. — Vamos mostrar onde vocês podem se acomodar e preparar algumas coisas para a viagem. O capitão preferiu manter a navegação simples, então temos alguns dias pela frente para fazer a travessia.
Elena começou a nos guiar por um caminho estreito que levava ao interior do barco. O espaço era apertado, mas funcional. Havia pequenas cabines e áreas de armazenamento, e a sensação de estar finalmente começando a se estabelecer trouxe um alívio inesperado.
— Aqui é onde vocês ficarão — disse Clara, apontando para uma cabine simples, mas aconchegante. — É pequena, mas deve servir bem para vocês. Nós tentamos manter tudo o mais organizado possível.
Amara e eu entramos na cabine e começamos a arrumar as coisas. A cabine era um espaço reduzido, com um par de camas simples e uma pequena janela que oferecia uma visão do mar aberto. As paredes eram de madeira, e o ambiente estava marcado pelo cheiro do mar e de madeira envelhecida.
— Se precisarem de qualquer coisa, é só chamar — disse Elena, antes de se retirar para continuar com suas tarefas. — Clara e eu estamos aqui para garantir que vocês estejam confortáveis.
— Obrigada, Elena — eu respondi, sentindo a tensão diminuir. — É bom saber que temos ajuda.
Amara começou a dispor nossas coisas nos armários disponíveis, organizando tudo de forma meticulosa. Eu a observei em silêncio, absorvendo a sensação de estar finalmente livre das amarras do castelo. A decisão de deixar tudo para trás era avassaladora, mas a presença de Clara e Elena era um lembrete de que não estávamos sozinhas.
— Parece que temos uma jornada pela frente — disse Amara, quebrando o silêncio enquanto arrumava uma última peça de roupa. — Mas pelo menos estamos começando com um pé firme.
Eu sorri, sentindo a determinação crescer. A ideia de estar finalmente em movimento, longe da pressão e das expectativas que haviam definido minha vida até agora, era revigorante.
À medida que o dia avançava, eu me sentei na pequena cabine, observando o mar através da janela. O sol se levantava no horizonte, lançando um brilho suave sobre as águas. A sensação de estar à deriva, com o futuro desconhecido à nossa frente, era tanto assustadora quanto emocionante.
A liberdade estava ao alcance, mas também era um caminho cheio de desafios e incertezas. Eu sabia que nossa jornada estava apenas começando, e que o destino poderia trazer muitos imprevistos. No entanto, com a ajuda de Amara, Clara e Elena, e com a esperança de um novo começo, eu me senti mais preparada para enfrentar o que viesse.
O barco balançava suavemente com o movimento das ondas, e eu me permiti relaxar um pouco, absorvendo a sensação de estar finalmente em movimento. A aventura estava apenas começando, e o futuro, embora incerto, era cheio de promessas e possibilidades.
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Amor nas Ondas do Destino
FantasyA princesa Evelyn de Aldoria sempre foi admirada por sua beleza e graça, mas, no fundo, sentia-se sufocada pelas expectativas da corte. Seu pai, o rei de Aldoria, arranja seu casamento com um príncipe de um reino vizinho, um homem cruel e calculista...