Capitulo V- Conexões Silenciosas

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Adam sabia que o cheiro dos corpos dos passageiros logo se tornaria insuportável à medida que o calor do dia aumentasse. A urgência de se afastar dos destroços e se preparar para o que poderia ser uma longa espera pelo resgate o motivou a agir rapidamente. Ele começou a vasculhar os escombros, procurando qualquer coisa que pudesse ser útil. Entre as malas e os pertences, encontrou itens essenciais: escovas de dente, toalhas, cobertores e algumas roupas para ele e Viviane. Enquanto fazia isso, suas mãos toparam com alguns medicamentos.

Apesar de ter largado a faculdade de medicina após três anos para seguir seu sonho de ser ator, Adam ainda se lembrava das técnicas básicas. Ele sabia que aqueles medicamentos, embora poucos, poderiam ajudar a aliviar a dor de Viviane e a reduzir o risco de infecção em seus ferimentos. A caixa de primeiros socorros que ele havia encontrado antes e aqueles medicamentos poderiam fazer a diferença entre a sobrevivência e o agravamento da situação.

Enquanto procurava, também encontrou celulares que, surpreendentemente, ainda tinham bateria, mas sem sinal. Sem chances de contatar alguém ou pedir ajuda, a sensação de isolamento só aumentava. Mesmo assim, guardou os aparelhos, sabendo que poderiam servir de lanternas durante a noite. Ele também conseguiu encontrar várias garrafas de água mineral e começou a organizá-las, entendendo a importância de manter ambos hidratados nos próximos dias incertos.

Nos compartimentos do avião, encontrou pacotes de alimentos que ainda estavam em bom estado: barras de cereal, biscoitos e comida enlatada. Muitas das frutas e lanches perecíveis já começavam a estragar por conta do calor, forçando-o a descartar o que não poderia ser consumido. Ele sabia que, mesmo com o que tinha conseguido salvar, a insegurança sobre quanto tempo ficariam ali tornava o cenário angustiante.

Enquanto lidava com essa realidade, Adam pensava no quanto seu destino havia mudado de forma tão drástica. Ele estava a caminho do Brasil para um intercâmbio de seis meses, deixando para trás a medicina para perseguir sua carreira como ator. Mas agora, ele se via envolvido novamente na responsabilidade de cuidar de alguém, utilizando o conhecimento que havia tentado deixar de lado.

Embora estivesse aparentemente bem, Adam sentia o peso emocional da situação e a necessidade crescente de proteger Viviane. Mesmo sem se comunicar através da fala, os gestos e olhares entre eles já diziam muito. Ele sabia que ela dependia dele e, naquele momento, ele estava determinado a fazer tudo o que fosse possível para garantir a segurança dela.

Adam ainda caminhava pelos destroços espalhados pela mata, procurando algo útil. Foi então que seus olhos pousaram em um objeto parcialmente coberto de lama: uma câmera fotográfica. Ele se abaixou, limpando-a na sua camiseta. Por um momento, pensou em jogá-la fora, afinal, o que poderia fazer com aquilo em meio a tanto caos? Mas antes de tomar qualquer decisão, resolveu ligá-la. Para sua surpresa, a câmera estava intacta e completamente carregada.

Ele suspirou profundamente e, olhando ao redor, desabafou em voz alta, como se o mundo ao seu redor pudesse ouvir:
- Meu Deus, que injusto. Por que os objetos estão intactos enquanto olho para tanta gente morta? Por que somos tão frágeis? Por que não somos fortes como essa câmera? - questionou-se, a frustração misturada à dor do que via ao seu redor.

Ao deslizar a tela, a primeira imagem que apareceu o fez parar por um momento. Era uma foto dele mesmo, ainda no aeroporto, conversando no telefone, completamente alheio ao que estava por vir. Ele sorriu levemente, lembrando-se de ter visto Viviane com a câmera, mas nunca imaginaria que ela havia tirado uma foto dele. Conforme continuava a ver as fotos, encontrou várias imagens de Viviane, momentos de sua vida que ela havia registrado. "Por que eu não a conheci em um momento de alegria?", pensou, refletindo sobre a ironia de estarem ali juntos em meio ao caos.
Guardando a câmera com cuidado, Adam tomou uma decisão silenciosa: ele entregaria aquilo a Viviane. Talvez não fosse muito, mas era um pedaço de quem ela era antes de tudo desmoronar, algo para ela segurar em meio à incerteza.

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