Capítulo 1

198 17 1
                                    

Pov Camila

— A gente devia ir até um bar comemorar.

A declaração enfática de meu amigo Nicholas Galitzine, com quem eu dividia um apartamento, não foi nada surpreendente. Ele estava sempre disposto a comemorar, mesmo as coisas mais insignificantes. Sempre considerei isso parte de seu charme.

— Sair pra beber um dia antes de começar num emprego novo com certeza não é uma boa ideia.

— Vamos lá, Camila.

Nick sentou no chão da sala do nosso novo apartamento, em meio à bagunça da mudança, e abriu seu sorriso irresistível. Fazia dias que só cuidávamos da arrumação, e ainda assim ele estava lindo.

— Não estou dizendo pra gente encher a cara,

ele insistiu.

— Só uma ou duas tacinhas de vinho. A gente pega o happy hour e volta pra casa lá pelas

oito.

— Não sei se vou ter tempo.

Apontei para minha calça de ioga e meu top de ginástica.

— Depois que eu cronometrar a caminhada até o trabalho, vou pra academia.

— É só andar depressa e malhar mais depressa.

A expressão de Nick, com as sobrancelhas cuidadosamente curvadas em um arco perfeito, me fez rir. Nunca perdi a esperança de que seu rosto incrível aparecesse um dia em outdoors e revistas de moda do mundo inteiro. Qualquer que fosse sua expressão, ele era um arraso.

— Que tal amanhã, depois do trabalho?

ofereci em troca. — Se eu conseguir sobreviver ao primeiro dia, aí sim vamos ter o que comemorar.

— Combinado. Hoje vou estrear a cozinha nova fazendo o jantar.

— Hã... Legal

Cozinhar era um dos prazeres de Nick, mas não um de seus talentos. Afastando uma mecha de cabelo que caíra sobre seu rosto, ele me olhou com um sorriso.

— A gente tem uma cozinha de fazer inveja à maioria dos restaurantes. Não tem erro ali.

Não muito convencida, eu me despedi com um aceno, decidida a me esquivar da conversa sobre a cozinha. Desci para o térreo de elevador e sorri para o porteiro quando ele abriu a porta pra mim. Assim que pus o pé para fora, fui envolvida pelos aromas e ruídos de Manhattan, que me convidavam a sair e explorar. Eu não estava apenas do outro lado do país em relação à minha antiga casa em San Diego - parecia estar em outro mundo. Duas metrópoles importantes - uma infinitamente amena e sensualmente preguiçosa, a outra pulsando como um organismo vivo carregado de uma energia frenética. Nos meus sonhos, eu me imaginava em um pequeno e charmoso prédio no Brooklyn, mas, por ser uma boa menina, acabei no Upper West Side. Se não fosse o Nick, eu estaria completamente sozinha em um apartamento enorme que custa por mês mais do que a maioria das pessoas ganha em um ano. Paul, o outro porteiro, me cumprimentou tirando o quepe.

— Boa noite, senhorita Cabello. Vai precisar de um táxi esta noite?

— Não, obrigada, Paul.

Bati no chão com os amortecedores do meu tênis de ginástica. — Vou sair pra caminhar.

Ele sorriu.

— Esfriou um pouquinho agora no fim da tarde. O tempo está gostoso.

— Me disseram pra aproveitar o mês de junho, antes que comece o calor de verdade.

— Um ótimo conselho, senhorita Cabello.

Ao me afastar da fachada envidraçada e moderna que de alguma forma não destoava da idade do edifício e da vizinhança, desfrutei da relativa tranquilidade da rua arborizada antes de chegar à agitação e ao trânsito intenso da Broadway. Eu ainda tinha esperanças de me adaptar rapidamente, mas por enquanto me sentia uma falsa nova—iorquina. Eu tinha um apartamento e um emprego, mas ainda não me sentia segura o bastante para me aventurar no metrô, e não tinha me acostumado a acenar ostensivamente para os táxis. Enquanto caminhava, eu tentava não parecer impressionada e atônita, mas era difícil. Havia tanta coisa para ver e experimentar. Nova York era um caso de amor totalmente novo para mim. Eu estava embasbacada e não conseguia esconder. Tive que me esforçar bastante para manter uma atitude indiferente enquanto me dirigia ao local em que ia trabalhar. Pelo menos em termos profissionais, as coisas estavam acontecendo da maneira como eu queria. Meu desejo era ganhar a vida com base em meus próprios méritos, o que significava começar por baixo. A partir da manhã seguinte, eu seria a assistente de Mark Garret na Waters Field & Leaman, uma das maiores agências de propaganda dos Estados Unidos. Meu padrasto, o magnata do setor financeiro William Vanderbilt, não gostou nada da ideia na opinião dele, se eu fosse menos orgulhosa, poderia trabalhar para algum amigo dele e colher os benefícios inerentes a esse tipo de proximidade.

Toda Sua - camrenOnde histórias criam vida. Descubra agora