Capítulo 29

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Rafael

— Eu estou pensando em pedir a Abi em casamento — falei, mas logo me corrigi, batendo com o copo de cerveja sobre o balcão do Fire: —, eu vou pedir.

Jackson olhou para mim. Estava trabalhando, mesmo que eu insistisse para que deixassem isso para os funcionários.

Muita gente precisava de novos trabalhos na cidade, e eu me senti satisfeito por podermos ajudar nisso, já que o Fire tinha empregado cinco pessoas, mas os rapazes gostavam de estar ali, sair direto do Comando depois de um dia duro e circular pelo salão escuro com uma bandeja e suas dancinhas toscas.

Era engraçado como a ideia toda tinha surgido de caras dançando com uma farda e o lugar se tornado um bar onde isso virou uma brincadeira, com alguns casais tomando uma bebida no fim do dia e suas crianças correndo e dançando junto com as de outras famílias, Vinícius distribuindo mais Coca-Colas do que uísques, mas eu adorava a coisa toda.

Notei que Jackson ainda me encarava, com uma garrafa de cerveja na mão.

— Ela está grávida! — falou com animação, seu motivo óbvio para um casamento às pressas.

Eu sorri com a ideia, porque eu adoraria, porra, como eu adoraria, percebi naquele instante, com a imagem dela se formando, a barriga crescendo, mas eu sabia que estava fora de questão, e jamais pediria isso à Abi, porque ela tinha uma carreira muito importante para gerir nos próximos anos, tínhamos as crianças, que demandavam toda a nossa atenção, e seria egoísta da minha parte olhar para ela com cara de cachorro pidão e implorar por um filho nosso. Eu poderia esperar.

— Infelizmente não — respondi. — Mas eu não quero deixar para depois de...

Meu amigo se curvou, repousando os cotovelos no balcão e me olhando nos olhos.

— De ir embora, não é? Porra, cara. Você vai mesmo? Então é verdade, mas que cacete.

— É. O amor faz dessas com a gente. Não vou perder a Abi dessa vez. Eu iria até o inferno atrás dela, se quisesse morar lá.

Ele riu.

— Eu quero ver se não vai achar isso da cidade grande.

— Estou um pouco preocupado, confesso, principalmente por Valen e Vi.

— Eles vão se adaptar. Você pode dar tudo aos dois.

— Mas eles só querem uma coisa.

— Ah, é?

— Sim, a nossa presença. Você precisa ver como estão felizes de ter "um pai e uma mãe" de novo.

— Palavras da princesa Valen, aposto. — Ele se ergueu.

— Sim.

Do outro lado do balcão, empurrou a garrafa que abriu até que deslizasse na mão de um cliente. Puxou um pano de perto das louças e pendurou no ombro depois de secar a umidade dos dedos, falando:

— Acho bacana isso de casar, só fico triste de não ter sido dessa vez que ela ficou grávida. Se bem que... ela poderia achar que a pediria em casamento por causa disso sei lá.

— O quê?

— Ah, esquece. — Afastou o ar com a mão.

Não tinha como esquecer. Eu estava preso lá na metade da sua fala ainda.

— Não, espere. Você disse: não foi dessa vez que ela ficou grávida. O que quis dizer com isso?

Deu um sorriso de lado.

— Ei, não precisa manter segredo de mim. Não vou julgar.

Saí do banco e fiquei em pé, me segurando no balcão.

Reconstruindo o AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora