Capítulo 30

47 21 1
                                    

Rafael

Um pressentimento estranho me atravessava, porque eu tinha tentado ligar para Abi e ela não me atendia. Estava dentro do carro, olhando para mais uma das chamadas que se desligavam no painel quando o telefone tocou. Para a minha frustração, não era ela, mas a babá das crianças, e eu não poderia deixar de atender, mesmo que não quisesse perder mais nem um minuto para me encontrar com Abi.

— Sim.

— Senhor Monteiro, desculpe interromper o que o senhor está fazendo, mas as crianças dormiram, jantaram, tudo está em ordem. — Nem a tranquilidade na voz dela acalmava os meus nervos. — Eu só queria saber se o senhor vai retornar para casa, porque eu estou no processo de organizar e vender as minhas coisas para a mudança para São Paulo.

Senti um imenso alívio e depois uma vontade de rir. Era óbvio que eu voltaria para casa. Aonde mais eu iria sem aqueles dois? Só que me dei conta de que de fato não sabia. Aquela era um início de noite atípico na minha vida.

Parei para pensar, e o dia todo tinha sido estranho, não tinha sido como um dos habituais desde que Abi chegara em Serena, porque ela mandou uma mensagem cedo dizendo que não iria passar na casa da avó para trabalharmos. Ingrid precisava de ajuda de novo. Eu fui para o escritório e aproveitei para visitar o Fire depois, só que ela não tinha falado comigo mais, e naquele momento eu começava a me preocupar.

— Seu Rafael? — A voz na chamada me fez piscar.

Estava quase chegando na casa de Ingrid, mas e as crianças? E a mudança?

A possibilidade de que tudo mudasse me deixou agitado. Por que Abi estava sumida?

— Desculpe. Você se importa de ficar mais um pouco? Eu vou providenciar alguém para te ajudar com as suas coisas, ok?

— Oh, sério? Nossa isso me permitiria ficar mais livre para cuidar dos meninos.

— Ótimo. Então tome conta deles até eu chegar e depois vejo isso, certo?

Ela desligou e eu me dei conta da loucura da minha nova vida, de como eu ia e vinha antes, por isso consegui construir uma grande rede de lojas, mas eu me importava muito mais com estar em casa, presente para Valentina e Vicenzo, de ser o cara de Abi, do que qualquer outra coisa, então acelerei até chegar diante da casa da sua irmã e frear de repente, saltando do carro e batendo na porta com uma ansiedade que só se aplacaria quando colocasse os olhos na minha mulher e tirasse toda dúvida da minha cabeça.

Eu não queria tocar a campainha. Caramba, odiava quando alguém acordava Vicenzo de uma soneca, e não faria o mesmo em uma casa com um bebê, mas estava impaciente, os nós dos meus dedos doendo de tanto bater, porque eu não conseguia parar, precisava ver logo o rosto de Abi, perguntar se...

— Rafael? — A frustração me tomou ao ver que não era ela, mas Ingrid, com Bento dormindo no seu colo, a barriga colada à mãe.

Passei ao lado dela, olhando para dentro da casa, procurando por sua irmã.

— Onde está Abi?

— Eu não sei. Ela saiu cedo. Achei que estivesse com você.

Pressionei a cintura.

— Merda.

— O que houve?

— Ela me mandou uma mensagem dizendo que precisaria ficar aqui e te ajudar hoje.

— Quando?

— De manhã.

— Ela saiu de manhã.

Deixei a cabeça pender para trás.

— O que está acontecendo, Rafael?

Eu não queria expor Abi. Não sabia o que estava se passando em sua cabeça, que decisões tinha tomado, mas se estivesse grávida, eu queria aquele filho, mesmo que ela achasse que não daria conta, que sua carreira não se adaptaria a isso. Nós tínhamos que conversar.

Percebi que eu nem tinha certeza de nada. Não sabia se era um teste positivo ou negativo. Tudo o que eu sabia era uma fofoca. Comecei a cogitar a possibilidade da mãe de Vinícius ter se enganado de pessoa na farmácia. E se não fosse Abi? Então percebi que muita coisa estava acontecendo. Ela tinha contado uma história diferente para mim e para sua irmã e sumido depois.

— Abi pode estar grávida. — Me vi falando rapidamente para que Ingrid entendesse a situação.

— Ah, meu Deus.

Ficou congelada no lugar por alguns segundos, muda, até meio que acordar e pegar seu celular sobre a mesa. Apertou a tela e colocou o aparelho no ouvido, olhando para mim.

— Ela não atende — murmurou.

— Nem a mim.

— Você acha que... — Ela parecia sentir dor. — se estiver grávida, pode estar em dúvida se quer o bebê?

A possibilidade rasgou meu coração.

— Eu não sei, Ingrid, mas acho que ela precisa de nós agora.

Ela assentiu. Mordeu o lábio e pareceu pensar. Algo se iluminou em seu rosto.

— A casa da vovó. Você já foi lá ver se ela está lá?

Reconstruindo o AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora