"Ele estava sentado no canto mais escuro do bar, a luz fraca mal tocando seu rosto. Os olhos cansados, fundos, mostravam o peso dos anos que ele carregava nos ombros. O barulho ao redor — risadas, conversas e o tilintar de copos — parecia distante, abafado, como se ele estivesse preso em uma bolha de solidão que ninguém ao redor podia penetrar. À sua frente, a garrafa de uísque refletia sua expressão vazia, e por um momento ele hesitou. Ele não queria aquele primeiro gole, mas precisava. Não era a sede pelo álcool, mas a sede por esquecimento, pela anestesia momentânea que o álcool prometia. 'A vida é muito mais cruel do que qualquer bebida', ele pensou, enquanto levava o copo à boca, sentindo o líquido ardente queimar sua garganta. Por um instante, sentiu-se vivo, mas logo a sensação passou, e tudo o que restou foi o gosto amargo na boca e o silêncio ensurdecedor dentro de si.
"Os pensamentos se misturavam em sua mente. Imagens do passado, dos erros que ele tentava esquecer, de uma família que ele havia perdido e de um amor que nunca soubera como cuidar. Cada dose era um golpe em si mesmo, uma tentativa desesperada de calar as vozes que o atormentavam. Ele lembrava-se dela... do sorriso, das mãos suaves que uma vez seguraram as dele. 'Se eu pudesse voltar no tempo...', ele murmurou para si mesmo, mas o tempo não voltava, e o álcool era a única coisa que parecia oferecer algum tipo de consolo, mesmo que falso. Com cada gole, ele afundava mais e mais, até que o mundo ao seu redor se desfazia em um borrão de luzes e sons indistintos, e tudo o que restava era o vazio."