"Havia algo nos olhos dela que ele nunca esquecera. Mesmo agora, enquanto olhava para o fundo do copo, a lembrança daqueles olhos assombrava seus pensamentos. Eram olhos que o viam de verdade, que enxergavam além da superfície, além do homem quebrado que ele havia se tornado. Ela era tudo o que ele tinha perdido, tudo o que ele desejava recuperar, mas sabia que era tarde demais. O álcool havia corroído não só seu corpo, mas também o amor que eles compartilhavam. Lembrava-se do dia em que ela foi embora. A chuva caía lá fora, pesada e fria, e ele, sentado à mesa com uma garrafa já pela metade, assistiu enquanto ela fechava a porta sem olhar para trás. 'Você vai me deixar por causa de uma bebida?', ele havia gritado, mas a verdade era que ela o estava deixando por causa de quem ele se tornara.
"Ele pensava nela todas as noites. Em como as coisas poderiam ter sido diferentes se ele tivesse tido a força de lutar por ela, de lutar contra o álcool. Mas o tempo havia passado, e agora ele estava sozinho. Cada tentativa de contato que ele fazia, cada telefonema não atendido, era uma nova facada em seu coração. Ele sabia que a tinha perdido para sempre, mas o coração teimava em se agarrar à lembrança, a uma esperança frágil e impossível de que, talvez um dia, ela o perdoasse. Ele passava horas olhando para o celular, pensando em mandar uma mensagem, mas a coragem nunca vinha. E assim, ele bebia para esquecer, para anestesiar a dor que o amor deixara em sua alma, mas o amor, como o álcool, era uma ferida aberta que nunca sarava."