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Nem sempre há uma explicação razoável para elucidar algo que existe. As vezes, parece que está lá, tão simples quanto pegar num sono profundo, tão natural quanto respirar. Em uma hora, você percebe, as raizes já tomaram todo o solo e é tão solido e firme quanto possível.

Freddie, honestamente, não sabia quando havia começado a odiar Alejandro. Simplesmente odiava. Odiava aquele nariz empinado e sorriso arrogante, assim como também tinha ressalvas em relação a boca suja e a forma que ele insistia em disparar xingamentos em sua língua materna. Odiava o jeito que ele franzia os lábios cheios, quando estava prestes a perder a paciência. Odiava a forma que sempre sorria de forma cativante e brilhante para outras pessoas, escondendo aquela parte dele que era toda carranca e mal humor. Parte essa que Freddie conhecia bem demais.

Contudo, se tivesse a coragem de analisar um pouco mais aquela rivalidade, perceberia que o ódio não era tão natural. Não quando, ao ver Alejandro pela primeira vez, seu único pensamento foi que ele era lindo.

Freddie não odiou Alejandro inicialmente. Não. Para sua desgraça, aproximava-se muito do contrário, embora preferisse esquecer esse pequeno detalhe. Mas seria estupidez mentir dizendo que havia sido alheio a beleza do venezuelano ou ao seu sotaque arrastado quando se apresentou à turma, com aqueles cabelos encaracolados e brilhosos, a pele escura bronzeada e o sorriso encantador. Freddie com certeza deve ter suspirado, meio arrebatado, quando o ouviu falar no telefone durante o intervalo — talvez com familiares ou amigos — em espanhol, com sua língua enrolando naquele charme natural e instigável.

Então, não. Freddie absolutamente não o odiou a princípio.

Mas, aquele sentimento efervescente e ardente, surgiu como um simples inspirar de ar, no momento em que se falaram pela primeira vez. Freddie não se lembrava com exatidão do que tinha falado ao se apresentar — jamais admitiria, mas estava nervoso — tinha apenas uma vaga lembrança de tentar elogiar o cabelo encaracolado. Alejandro o respondeu grosseiramente. Freddie rebateu uma provocação no mesmo tom. E, assim, aquela rivalidade havia nascido de um instante para o outro. De repente, era inevitável brigar.

Inevitável, incontrolável e altamente inflamável.

— Seja menos obvio, Frederico — Julie riu, jogando algumas folhas secas na cabeça do loiro e o tirando do devaneio em que se perdeu.

Freddie olhou para a amiga, observando-a com os pés em cima da bola de futebol e os cabelos despenteados por causa do treino que tiveram minutos atrás.

— Do que está falando?

A garota rolou os olhos, encarando-o como se aquele tivesse sido a pergunta mais estupida que teve o desprazer de ouvir.

— Até quando vão ficar nessa briga infantil? — ela perguntou, ao invés, ignorando o assunto anterior.

Freddie suspirou, dando de ombros.

— Eu tento. Professor Kanawut disse que deveríamos tentar nos dar bem. Mas tudo que eu falo ele interpreta como um desafio.

— É porque tudo que você diz parece uma provocação.

— Então a culpa é minha? — ele franziu a testa em indignação, olhando-a fixamente. — Alejandro tem um temperamento dos infernos e não aceita nenhuma tentativa minha de trégua. Não tenho culpa nisso, porque pelo menos eu tenho tentado. Diferente dele.

Julie riu.

— Você tenta ser amigável muito de repente. Precisa entender que, apesar de que para você essa briga nunca foi levada tão a sério, para ele é exatamente o contrário. A imagem que ele tem de você é de um metido a engraçadinho. Tentar soar simpático, rir demais ou até fazer piadas, vai soar muito errado na visão dele.

Hate You? - Spin Off TBOYVOnde histórias criam vida. Descubra agora