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O clima no quarto estava tenso.

A professora Luna, de antemão, apressou-se para entrar em contato com a comissão técnica, que acompanhava o time da escola, pedindo apenas algumas breves instruções ao professor Kanawut. Foram orientados a consultar também o clinico geral presente no hotel — o qual atendia emergências dos hospedes —para examinar o pulso de Freddie, na ausência do medico do time que chegaria apenas dali a algumas horas, visto que estava dispondo de seu horário livre conhecendo a cidade e não havia previsto que algo poderia acontecer em sua breve folga. O clinico geral, um senhor de setenta e poucos anos, foi atencioso e cuidadoso ao olhar minunciosamente o machucado, concluindo por fim que, provavelmente, não passava de uma contusão leve, mas, por ordens de Kanawut, conseguiram marcar uma consulta com um médico especialista para o primeiro horário do dia seguinte.

Freddie não estava muito tranquilo em ter que passar por exames complexos, temendo que fosse algo mais sério, mas o doutor lhe sorrira muito gentilmente e dissera com a voz calma que aquilo não passava de uma prevenção, uma vez que até mesmo a dor parecia ter diminuído após a imobilização improvisada, embora o local ainda estivesse levemente inchado e vermelho. Então, era apenas pela segurança de se certificar de que não houvera nenhuma fissura.

Depois, já medicado e com o pulso cuidadosamente contra seu peito, apoiado na tala de sustentação que estava atrelada ao seu pescoço, Freddie aguardava a chegada do treinador. O professor Kanawut estava a caminho de volta para o hotel, previamente enraivecido, deixando claro pela ligação todo seu descontentamento ao supor que a lesão havia sido causada em consequência de alguma briga. A professora Luna vira somente o momento em que o loiro tinha puxado o braço, então deduziu — erroneamente — que estavam tendo algum atrito e Alejandro tentava o segurar. Luna insistiu em conversar com os dois, tentando — e falhando terrivelmente — convence-los a falar sobre como tudo tinha acontecido. Alejandro ficou quieto, de cabeça baixa, enquanto Freddie limitou-se a garantir que não havia sido proposital. Ela pareceu acreditar em suas palavras e o loiro suspirou aliviado, pois não desejava que o moreno fosse responsabilizado por algo que foi um acidente.

Com um suspiro cansado, sentado em sua cama no quarto de hotel e ainda esperando Gulf Kanawut — Luna tinha saído para verificar os outros alunos que planejavam escapar — Freddie lançava olhares sorrateiros para Alejandro, observando-o olhar pela janela, com os braços cruzados e o pensamento distante. A conversa anterior ainda pairava entre eles, mas nenhum parecia disposto a retoma-la.

Alejandro parecia retesado e tenso, com os lábios comprimidos e a testa firmemente franzida. Não olhava para o loiro, nem lhe dirigia a palavra, com ressalva apenas de quando Freddie retornou para o quarto com o braço imobilizado e ele prendeu o olhar na tala, questionando em voz baixa quão sério havia sido. Freddie chegou a cogitar que o venezuelano estava se culpando pelo machucado, mesmo que não tivesse responsabilidade alguma com aquilo. De toda forma, talvez fosse impressão. Provavelmente era.

— Ele não vai colocar a gente no banco — Freddie subitamente pronunciou, um desejo incomum de tranquilizar o outro, supondo que sua postura preocupada se devesse a iminente reação do treinador. — Não foi uma briga.

O moreno virou o rosto, olhando-o brevemente. 

— Não acho que vai fazer diferença, afinal estávamos escapando do hotel, sem autorização — rebateu, desviando novamente o olhar. — E, mesmo que ele acredite que foi um acidente, com certeza vai achar que estávamos brigando. Nós sempre estamos brigando.

Freddie não respondeu a principio.

Entendia o temor dele, porque sabia da fama que carregavam e quão pouca credibilidade tinham. Não ajudava quando, por qualquer que fosse o motivo, também estivesse mutualmente de acordo sobre evitar falar sobre o motivo. 

Hate You? - Spin Off TBOYVOnde histórias criam vida. Descubra agora