80%

28 5 1
                                    

Alejandro achava que estava apaixonado por Frederico Reese. E, somente ao pensar nisso, era acometido por certo pânico, como um incômodo que rastejava por baixo da sua pele assemelhado a um parasita indesejado. Honestamente, não fazia o menor sentido. 

Primeiro, porque até então tinha certeza absoluta da sua heterossexualidade, de forma que nunca sequer cogitou o contrário. Chegou a buscar assiduamente, em sua memoria, qualquer indicio de que talvez fosse algo reprimido. Pensou que, de repente, a obsessão que teve pelo Alisson Becker pudesse ser um pouco mais do que apenas admiração futebolística, já que costumava passar horas na internet vendo fotos do goleiro a ponto de ter tirado algumas capturas de tela e deixado como papel de parede por um longo tempo. Ou quando conheceu um amigo de seu primo, na época que ainda morava na Venezuela, e ficou igualmente obcecado, stalkeando as redes sociais e indo à casa da tia apenas porque queria vê-lo. E, nesse ponto de vista, talvez, realmente houvesse indícios.

De toda forma, como diria sua querida abuela, a vida é uma constante descoberta, então tudo bem, poderia lidar com isso. Ele provavelmente era bissexual e isso não era o fim do mundo. Sabia que seus pais eram tranquilos e que o apoiariam sem reservas, afinal eram socialistas convictos e sempre ergueram a bandeira para essas questões sociais. O próprio Alejandro, desde cedo, foi levando a pensar criticamente sobre tudo, então tinha uma maneira logica de pensar sobre a sexualidade. Lembrou-se de agradecer aos pais, quando estivesse pronto para falar sobre isso e tivesse certeza de quem era, por tê-lo ajudado indiretamente — ou nem tanto — à passar por aquele momento. Criação realmente é a base de tudo, pensou consigo mesmo, ainda um pouco aflito com sua recém descoberta acerca de quem era. Porque, de uma hora para outra, viu-se incerto de tudo que pensou ser certo.

Além disso, de toda desordem que sua mente estava por causa do questionamento sobre sua sexualidade, ponderava em segundo lugar que o que com toda certeza não fazia sentido era ter a descoberto justamente com aquele pequeño anticristo chamado Frederico. Isso era quase um atestado de insanidade. Porque ele detestava o branquelo até alguns dias atrás. 

Claro, havia notado certa irregularidade acerca da suas atitudes com o outro, considerando que não escondiam de ninguém a rivalidade que os seguia. Pensou, a principio, que seria uma reação natural após vê-lo ser agredido por Jackson, afinal, mesmo com toda desavença, Alejandro sempre manteria suas convicções, o que significava que teria defendido qualquer um numa situação como aquela. Mas, analisando um pouco mais cuidadosamente, talvez deve ter notado que, na época, tinha ficado um pouco indignado demais.

Quiçá, em meios as brigas, tenham acidentalmente criado um laço meio deturpado entre eles. Os dois, quase como um acordo silencioso, sempre souberam onde residiam os limites. Alejandro não conseguia pensar em um momento sequer que havia realmente sido ofendido pelo loiro, assim como não lembrava-se de ter feito ou falado algo agressivo em demasia. Brigavam muito, quase fisicamente algumas vezes, feriam o ego e disputavam amiúde, mas nunca de forma que pudesse traumatizar ou ofender. Então, ao presenciar algo que jamais faria, Alejandro havia criado esse... sentimento. Sentimento de que ele deveria proteger o loirinho irritante. Porque, mesmo que vivesse em pé de guerra com o loiro, nunca ofenderia sua sexualidade ou faria qualquer coisa que pudesse afetar sua segurança e autoestima. Essa percepção, quando enfim lhe atingiu, foi o que fizera perceber que o ódio que sentia certamente não era de fato apenas ódio.

Inesperadamente, concluiu que nunca quis ofender. Nunca tentou. Suas brigas eram, em maioria, um jeito pouco saudável de incentivar. E, percebeu, faziam isso inconscientemente, usando o ódio como desculpa para algo que era apenas... competitividade. Competitividade e... algo reprimido.

Hate You? - Spin Off TBOYVOnde histórias criam vida. Descubra agora