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As vezes, não sentir era a única forma de sentir. Deixar-se esvaziar e calar todas as vozes, sejam boas ou ruins, as vezes podia ser esclarecedor. Sentir, sem pensar, era quase como descartar motivos e explicações, era se permitir ser em essência e naturalidade. Talvez por isso, enquanto encarava a porta do quarto, após a perda do time contra os Deer Valley, Freddie encontrava-se num estado profundo de letargia. Não saberia dizer o que lhe corroía por dentro, a ponto de esvaziar todo espaço em seu peito. Não sabia se era a sensação de que, o time ter perdido no jogo mais cedo, de alguma forma deturpada, era uma reação ao incidente na escada do hotel. A fuga. A tudo.

Ou, talvez, era apenas aquele pensamento incessante de que havia aberto o coração para Alejandro. Na verdade, não o coração. Sua revelação não havia sido tão profunda assim. Mas, incontestavelmente, havia exposto o bastante para lhe colocar em uma posição de insegurança e fragilidade.

Os dois pouco se falaram, desde então. Freddie focou em recuperar o pulso, que por sorte realmente não havia passado de uma contusão leve, para conseguir jogar partida que aconteceria dali a dois dias. Alejandro, por outro lado, mal ficava no quarto ou em sua presença, passava maior parte do tempo com Theo e Levi, aparecendo no quarto apenas para dormir. Nenhuma palavra trocada.

— O jogo foi bom, Freddie, não pense demais — Julie murmurou na tarde pós jogo, enquanto estava sentada em sua cama, com as pernas cruzadas e um pacote de batatinha em mão. — Nós perdemos, acontece.

— Queria esse estoicismo — o loiro resmungou, com um suspiro cansado ao que estendia a mão para tentar roubar um pouco da batatinha dela, mas sendo impedido com um tapa leve. — Ei, meu pulso — ele reclamou com um careta.

Julie revirou os olhos.

— Seu pulso já tá pronto pra outra lesão — ela riu, dando de ombros, enquanto questionava: — Estoicismo?

Freddie lhe lançou um olhar desgostoso.

— Pare de matar aulas de filosofia — demandou com a sobrancelha erguida em julgamento.

Antes que Julie tivesse oportunidade de rebater, no entanto, Alejandro entrou no quarto. O barulho da porta, sendo aberta num rompante, desencadeou um silêncio abrupto entre ele e a garota, que rapidamente lançaram um olhar para o moreno.

Alejandro parou, por um segundo, ao perceber que havia alguém além de Freddie no quarto, encarando os dois na cama demoradamente. Até que, com um franzir de nariz, andou silenciosamente até sua própria cama, colocando um fone de ouvido e prontamente ignorando-os.

— Idiota — Freddie resmungou, observando-o atentamente.

Julie, ao seu lado, soltou um suspiro cansado e fechou o pacote de batatinha num ruído alto. Levantou-se, meio a contragosto, e lançou um olhar rápido ao moreno que continuava a fingir que não estavam no quarto.

— Eu vou indo — ela avisou, em voz baixa. — Me recuso a ficar aqui com o Ale quase bufando igual touro por causa desse mau humor do cão.

— Ele sempre tem um humor da cão — Freddie rebateu numa tom igualmente baixo, olhando-a pegar o casaco caído no chão e vestir-se rapidamente.

— Com você — ela salientou — Não lembro a última vez que ele ficou de mau humor com todo mundo do time. Sério, ele está insuportável esses últimos dias. Estou começando a entender porque você reclama tanto dele.

Eles sussurravam, quase de forma inaudível, confiando que o fone de ouvido do moreno abafasse quaisquer murmurinhos.

Eu disse — ele falou com ar vitorioso, mas quando ela andou até a porta, desfez a expressão altiva e choramingou num sussurro: — vai me deixar sozinho? Sério? Eu não jogo, não tenho companhia, o professor Kanawut está decepcionado comigo e você vai me deixar sozinho? Isso é falta de empatia com a situação do seu amigo.

Hate You? - Spin Off TBOYVOnde histórias criam vida. Descubra agora