Capítulo 7 - Ecos do Passado

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Apesar de estar começando a se sentir mais leve e confiante com a presença de Rafael e a redescoberta de sua paixão pela arte, Carolina ainda era assombrada por fantasmas do passado. Certas noites, quando o apartamento ficava em silêncio, ela sentia a inquietação das memórias de Alexandre. Não as boas lembranças que um dia compartilharam, mas os momentos de traição, a dor da descoberta, e a sensação de que, de alguma forma, ela havia perdido uma parte de si mesma.

Numa dessas noites, deitada em sua cama, os pensamentos começaram a invadir sua mente. O olhar de Alexandre quando ela o confrontou, sua expressão de arrependimento, as promessas vazias de que tudo mudaria... Ela havia vivido meses entre a desconfiança e o autoengano, lutando para manter de pé uma relação que já estava destruída. Agora, embora estivesse em um lugar mais seguro emocionalmente, Carolina se perguntava se realmente havia superado tudo.

Era como se sua mente insistisse em perguntar: "E se?"

A Visita Inesperada

Na manhã seguinte, Carolina estava finalizando uma pintura quando ouviu o toque insistente da campainha. Colocando rapidamente o pincel de lado, ela limpou as mãos em um pano e foi até a porta. Ao abri-la, seu coração parou por um instante. Era Alexandre.

Ele estava ali, parado, com o olhar abatido, visivelmente mais magro e desarrumado. Carolina sentiu um misto de surpresa, raiva e confusão. Fazia semanas que não o via desde o último encontro, quando ele havia implorado para reatar. Ela achava que, finalmente, ele tinha entendido sua decisão, mas agora, ali estava ele novamente, diante de sua porta.

Alexandre (com um tom baixo e hesitante):
— Posso entrar?

Carolina ficou em silêncio por um momento, considerando o que fazer. O impulso inicial foi mandá-lo embora, mas algo em sua voz soou diferente. Relutante, ela deu um passo para o lado e permitiu que ele entrasse.

O ambiente estava carregado de tensão. Cada centímetro do espaço parecia estar impregnado de memórias antigas, e Carolina lutava para não ser consumida por elas. Alexandre, por sua vez, parecia inquieto, olhando ao redor como se estivesse buscando algo que não sabia se encontraria.

Alexandre (com a voz quebrada):
— Carolina, eu sei que não tenho o direito de estar aqui. Sei que errei, e cada dia sem você tem sido um inferno. Não consigo mais... eu precisava te ver.

Carolina (séria, mas calma):
— Alexandre, você sabe que não é assim que as coisas funcionam. Nós tivemos essa conversa. O que aconteceu entre nós não pode ser apagado. E, francamente, eu não sei se quero que isso aconteça.

Ela cruzou os braços, como se tentasse se proteger da carga emocional que ele trazia consigo. Ela não era mais a mulher vulnerável que o deixava ditar o ritmo de suas emoções.

Alexandre (desesperado):
— Eu sei que não posso mudar o passado, mas... por favor, me dá uma chance. Eu mudei, Carolina. Juro que mudei. Eu faria qualquer coisa para te ter de volta.

Carolina sentiu uma pontada de dor no peito ao ouvir essas palavras. Quantas vezes ela tinha acreditado nisso antes? Quantas vezes Alexandre havia prometido que tudo seria diferente? Mas agora, com o tempo e a distância, ela via com mais clareza. As promessas vazias não tinham mais efeito sobre ela. Ela era dona de si mesma, e suas escolhas não mais giravam em torno do que Alexandre dizia ou fazia.

Carolina (firme):
— Eu acredito que você está arrependido, Alexandre, mas arrependimento não é suficiente. Você quebrou algo entre nós que não pode ser consertado. Não se trata apenas de perdão... se trata de quem eu me tornei depois de tudo isso.

Cicatrizes do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora