Capítulo 3 - O Fim do Casamento

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Carolina acordou na casa de Júlia no dia seguinte, o peso do que havia acontecido ainda presente como uma âncora amarrada ao peito. A luz do sol entrava pelas frestas da cortina, mas a claridade parecia distante, como se não pertencesse mais ao mundo em que ela vivia agora. Levantou-se da cama devagar, sentindo os músculos pesados, como se cada movimento exigisse um esforço imenso. Pegou o celular e viu várias mensagens de Alexandre. Ele já havia mandado ao menos cinco.

"Por favor, Carolina, fala comigo."

"Eu sei que errei. Eu sinto muito."

"Você não pode me abandonar assim."

Ela suspirou, sem saber se sentia raiva, tristeza ou pura exaustão. Não tinha forças para ler o resto. Desbloqueou o telefone e viu as notificações acumuladas. Júlia, sua melhor amiga, havia deixado um bilhete sobre a mesa de café, dizendo que tinha saído para o trabalho, mas que estaria à disposição se Carolina precisasse de qualquer coisa.

Carolina (sussurrando para si mesma):
— Eu preciso entender o que aconteceu. Preciso de tempo.

Ela sabia que a solução não viria de imediato, mas sentia que não podia mais adiar o confronto com a realidade. Decidida, vestiu-se rapidamente e pegou as chaves do carro, dirigindo de volta para a casa que até então compartilhava com Alexandre.

Ao chegar, parou em frente à porta por alguns instantes, respirando fundo. Era hora de encarar a destruição de seu casamento, e isso doía mais do que qualquer coisa que ela já tivesse imaginado. Quando girou a maçaneta, entrou silenciosamente na sala de estar. Para sua surpresa, Alexandre estava ali, sentado no sofá, de cabeça baixa, parecendo um homem quebrado.

Ele levantou o olhar assim que ouviu o som da porta se abrindo. Seus olhos estavam vermelhos e cansados, como se ele não tivesse dormido a noite inteira.

Alexandre (com voz rouca):
— Você voltou...

Carolina:
— Voltei. Mas só pra pegar algumas coisas.

Ele se levantou de repente, como se sua presença ali fosse uma chance de redenção.

Alexandre (implorando):
— Carolina, me escuta. Eu... eu cometi o maior erro da minha vida. Eu estava confuso, e essa... essa coisa com a Amanda, não significa nada pra mim. Eu te amo, só você. Eu vou terminar tudo, eu vou mudar, eu faço o que for preciso. Só me dá uma chance.

Carolina:
— Alexandre, eu não sei se você entende o que fez. Você destruiu a nossa vida, não foi só um erro. Foi uma traição, algo premeditado. Você decidiu quebrar a confiança que a gente construiu ao longo de anos.

Ele passou a mão pelo cabelo, visivelmente aflito. A cada palavra dela, parecia que o chão sob seus pés ficava mais instável.

Alexandre:
— Eu sei que errei, Carolina, mas... por favor, me escuta. A vida sem você... eu não consigo imaginar. Eu estava perdido, achando que precisava de algo mais, mas só agora eu percebo que você era tudo o que eu precisava.

Carolina sentiu uma mistura de emoções. Raiva, tristeza, mas também uma pequena fração de empatia, porque por mais que Alexandre tivesse errado terrivelmente, ela sabia o quanto eles tinham compartilhado ao longo dos anos. Mas, ainda assim, isso não era suficiente para reparar o dano.

Carolina:
— E como você acha que eu me sinto? Eu te dei tudo, Alexandre. Eu confiei em você com cada parte de mim. Você era o meu porto seguro. E agora... você destruiu tudo isso. Não tem volta.

Ele balançou a cabeça freneticamente, como se quisesse apagar as palavras que ela acabara de dizer.

Alexandre:
— Não, não pode ser o fim. Eu não vou desistir de nós dois. Eu sei que você ainda me ama.

Carolina:
— Amar? Eu nem sei mais o que sinto por você. Quando olho para você agora, só vejo o homem que me traiu. Eu vejo mentiras, promessas quebradas... e eu não sei se consigo olhar além disso.

Ela desviou o olhar, sentindo a garganta apertar. Não queria chorar na frente dele, não queria mostrar fraqueza, mas as lágrimas eram inevitáveis.

Carolina (com a voz trêmula):
— Você diz que me ama, Alexandre, mas amor não é isso. Amor não machuca assim. Você não quebrou só meu coração, você quebrou tudo. Não tem mais como voltar ao que era antes.

Alexandre:
— Por favor... Carolina, me diz o que eu posso fazer para consertar isso. Eu faço qualquer coisa.

Ela o encarou, e naquele momento percebeu que, por mais que ele estivesse arrependido, não havia conserto para algo tão profundamente quebrado.

Carolina:
— Às vezes, Alexandre, as coisas não têm conserto. E o nosso casamento é uma dessas coisas.

Ela virou-se e começou a caminhar pelo corredor em direção ao quarto que os dois compartilhavam. Cada passo parecia pesar uma tonelada, como se a casa estivesse drenando suas energias. Ao entrar no quarto, viu a cama que eles compartilhavam por anos. Sentiu uma dor aguda no peito, mas forçou-se a ignorá-la. Abriu o guarda-roupa e começou a pegar algumas roupas e itens pessoais, jogando-os apressadamente numa mala.

De repente, Alexandre apareceu na porta do quarto, seus olhos desesperados.

Alexandre:
— Então é isso? Você vai embora sem ao menos tentar?

Carolina (sem olhar para ele):
— Não é que eu não queira tentar, Alexandre. É que eu já tentei por todos esses anos. E você jogou isso fora. Eu só não tenho mais forças pra lutar por algo que você destruiu.

Ele deu um passo à frente, como se quisesse impedi-la de terminar de arrumar suas coisas.

Alexandre:
— Carolina, por favor, eu te imploro. Eu sou um idiota, eu sei, mas eu preciso de você. A nossa vida não pode acabar assim... não pode.

Ela finalmente parou, virou-se para ele e o encarou com os olhos cheios de lágrimas, mas com a expressão resoluta.

Carolina:
— A nossa vida já acabou, Alexandre. Eu só estou tentando descobrir o que vem depois disso.

Aquelas palavras cortaram o ar como uma lâmina afiada. Alexandre parecia ter perdido toda a esperança. Carolina fechou a mala, ergueu-a com esforço e começou a caminhar em direção à porta.

Carolina:
— Eu vou ficar na casa da Júlia por um tempo. Preciso de espaço pra pensar... sobre o que vou fazer a seguir. E você também precisa de tempo pra refletir sobre o que fez.

Ele permaneceu parado, sem saber o que dizer ou fazer. Quando Carolina passou pela porta e desceu as escadas, ele finalmente disse, num sussurro:

Alexandre:
— Eu te amo, Carolina...

Ela parou por um momento, fechou os olhos e respondeu, sem se virar:

Carolina:
— Eu queria poder acreditar nisso.

Com essas palavras, ela saiu da casa, deixando Alexandre sozinho, em meio às ruínas do que já havia sido um casamento cheio de promessas.

Cicatrizes do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora