Empire State of Mind

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Enquanto o avião descolava do Aeroporto de Heathrow, Jerry olhava pela janela, com os olhos perdidos na vastidão do céu limpo de Londres, o mesmo céu que tantas vezes havia acompanhado os seus dias com Carol. Sentado na poltrona da classe económica, ele tentava, em vão, encontrar algum conforto na leve vibração do avião, mas era impossível. O seu coração estava despedaçado e a sua mente, inquieta. Cada nuvem que o avião cortava parecia trazer de volta uma memória dolorosa, um sorriso perdido ou uma palavra não dita. A desilusão ainda pulsava forte no seu peito, como uma ferida que recusava a cicatrizar. Ele havia chegado àquela cidade com esperanças de um recomeço de vida, mas Londres, a cidade que lhe prometera esse recomeço, tornara-se num lugar que ele não queria recordar. O rosto de Carol, os seus cabelos loiros ondulando sob a luz suave do pôr-do-sol em Hyde Park, e o seu sorriso melancólico eram, naquele momento, lembranças dolorosas. Ela era a mulher que ele amava profundamente, mas também aquela que o abandonara no momento em que ele mais precisava dela. Ao seu lado, os outros passageiros se acomodavam, ocupados com os seus próprios mundos, alheios ao turbilhão de emoções que o consumia por dentro. Ele não conseguia mais sentir o entusiasmo que costumava acompanhá-lo nas viagens de avião, nem a curiosidade de descobrir novos lugares ou rever os antigos. Assim, o voo de volta para Nova Iorque era uma fuga, uma tentativa desesperada de escapar do fantasma de Carol.

 Assim, o voo de volta para Nova Iorque era uma fuga, uma tentativa desesperada de escapar do fantasma de Carol

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A voz do piloto soou pelo sistema de som, anunciando que o avião havia alcançado a altitude de cruzeiro. As luzes da cabine acenderam-se  suavemente, lançando uma iluminação morna que contrastava com o frio metálico do interior da aeronave. Jerry fechou os olhos, tentando desligar-se do ambiente em seu redor, mas a leve vibração do avião e o ruído abafado dos motores eram um lembrete constante de que ele estava longe de qualquer conforto emocional. Ele esperava que aquele simples gesto de fechar os olhos fosse suficiente para abafar a tempestade de pensamentos que o acompanhava desde que embarcara. No entanto, assim que a escuridão tomou conta da sua visão, as memórias, tão incómodas quanto persistentes, invadiram a sua mente. Elas voltaram com força total, intensas, cruas e dolorosas, como um filme que se repetia incessantemente, forçando-o a reviver momentos que ele gostaria de esquecer. E então, como se estivesse preso a uma linha do tempo que se recusava a avançar, ele viu-se novamente no último dia em que esteve com Carol. A imagem daquela noite surgia nítida, perturbadora, repleta de tensão. Era impossível esquecer aquele maldito jantar na mansão de Colin Gresham, o homem que se tornara sinónimo de manipulação e traição. Aquele evento não só marcou o fim da sua relação com Carol, mas também destruiu o que ele acreditava ser uma conexão invencível.

Colin Gresham exercia um fascínio sombrio sobre aqueles que cruzavam o seu caminho. A sua presença era imponente, dominando qualquer ambiente com uma facilidade assustadora. Embora raramente levantasse a voz, o poder que emanava da sua postura, das suas palavras meticulosamente escolhidas e do seu olhar penetrante deixava claro que ele era o tipo de homem que sabia manipular o destino das pessoas em seu redor. Desde o primeiro momento,  Jerry sentiu algo dentro de si a gritar o alerta de que aquele homem era perigoso. Apesar de toda a sua educação, Colin exalava uma aura de falsidade, de intenções ocultas, que Jerry não conseguia ignorar. Ele era mestre em disfarçar as suas verdadeiras motivações com elogios educados e gestos de cordialidade, mas por trás de cada sorriso cortês, Jerry sabia que havia uma agenda oculta. Colin era o tipo de pessoa que gostava de puxar as cordas, de controlar as marionetes em seu redor, sem que ninguém se apercebesse. E, de alguma forma, Jerry se tornara numa dessas marionetes.

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