Capítulo 1: "Quer vir comigo?"

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ⓘ O conteúdo a seguir é um terror psicológico. Um relacionamento explicitamente abusivo/tóxico. Alguns assuntos abordados podem gerar gatilhos pesados. Você foi avisado.

Millie correu pela floresta sem fim, que parecia um labirinto sem fim. Houve uma escuridão completa.

Nem mesmo a lua brilhava abaixo dela para guiá-la. Seus tênis brancos estavam rasgados pelas muitas pedras e manchas de folhas podres do chão.

A atmosfera estava tão fria e escura, e Millie sentia que não conseguia respirar a cada passo. Tudo o que ela ouvia era seu coração batendo. Sua pulsação estava tão alta que Millie sentiu que estava enlouquecendo.

Ela desejou que houvesse um único som que pudesse ouvir. Um animal noturno uivando ou insetos cantando. Qualquer coisa para que ela não tivesse que ficar sozinha com seus pensamentos.

Ela estava de volta à floresta escura, cercada por altas árvores antigas.

E finalmente, depois de intermináveis ​​horas de corrida, uma luz emergiu da lua. A lua brilhante brilhava sobre um dos plátanos. Millie semicerrou os olhos e seguiu o brilho.

Ela correu até a árvore brilhante e, lentamente, começou a ver algo.

Era...outro ser humano, com certeza. Era um ser humano, pendurado em uma árvore.

Hesitante, Millie se aproximou. Ela quase tropeçou quando se deparou com a visão horrível. Pendurada na árvore, estava ninguém menos que a própria Millie. Seu rosto estava pálido, lábios carnudos quase azuis, e ela tinha uma corda bem enrolada no pescoço.

Millie começou a chorar ao observar seu corpo sem vida pendurado na árvore. Ela hesitantemente estendeu a mão para se tocar, mas então seus olhos se abriram e eles estavam pretos. Millie gritou como um animalzinho assustado...

Ela acordou suando frio, com a garganta um pouco rouca. Tirou as cobertas do corpo pegajoso e verificou o relógio ao lado dela. Seu alarme tinha acabado de disparar. Era por volta das 7h da manhã.

Ela acordava nesse horário todas as manhãs para se preparar para a escola. Caminhava até ela e demorava cerca de dez minutos para chegar lá. Quando chovia muito, ela levava consigo um guarda-chuva. Se estivesse muito frio, Sadie, sua madrasta, se ofereceria para lhe dar uma carona.

Hoje, porém, não choveu. Era um típico dia frio na pequena cidade em que ela morava. Porém, Millie preferia ficar na cama depois de seu pesadelo.

Todas as noites ela sonhava com a mesma coisa. Correndo pela floresta escura até encontrar seu corpo sem vida pendurado na mesma árvore. Os sonhos de Millie foram assombrados pela morte de seu pobre pai.

Três meses atrás, Millie encontrou ele pendurado em um plátano, perto da casa deles. A polícia mal investigou sua morte e classificou-a como um suicídio típico, devido a corda em seu pescoço e a uma nota deprimente de suicídio no chão.

Mas Millie não acreditava que seu pai tivesse cometido suicídio. Sim, ele não era um bom pai. Muitas vezes ele ficava muito bêbado e dormia com mulheres estranhas depois que sua primeira esposa morreu, mas ele não era um homem mal.

Ele não estava deprimido. Ele não iria simplesmente acabar com sua vida assim. Ele ficou muito feliz, mesmo depois de conhecer Sadie, sua segunda esposa. Mas depois que a conversa sobre gravidez veio à tona, algo mudou no relacionamento deles.

Millie poderia dizer. Mas ela não queria expor suas teorias em voz alta.

Porque... ela estava com medo de sua madrasta, Sadie.

Morava com ela há três meses, após a morte de seu pai, Embora Millie fosse tecnicamente uma adulto agora, aos 19 anos, ela não tinha para onde ir. Ela não tinha dinheiro, então não podia fugir ainda.

Quando se formou na escola, esperava se mudar para um lugar bonito e não frio. Não poderia mais viver nesta pequena cidade. Ela queria escapar dos plátanos.

— Estou tão horrível — Depois de se levantar do colchão, Millie foi ao banheiro para se lavar e se preparar para a escola.

Sua madrasta, Sadie, já havia saído para o açougue onde trabalhava, então houve silêncio total na pequena casa agora delas.

Millie saiu do banheiro alguns minutos depois, vestindo seu uniforme escolar. Também usou seus brincos favoritos e aplicou um pouco de pó facial. Mesmo que muitas vezes parecesse sombria, ela ainda fazia questão de parecer bonita.

Ela tinha cabelo curto castanho escuro, lábios carnudos e rosados, nariz minúsculo e corpo delicado. Ela não era como a maioria das garotas "bem desenvolvidas" de sua escola. Era tão delicada quanto uma florzinha. Seu pai sempre lhe dizia que ela se parecia com uma beleza etérea, e ele estava certo.

Millie frequentemente recebia confissões e bilhetes de amor em seu armário, mas sempre os ignorava e rejeitava. Não estava muito interessada em garotos. Ela não queria admitir, mas gostava de garotas.

Ela gostava de sua melhor amiga e colega de classe, Julie, para ser exato.

Julie morava a algumas casas de Millie. Ela era um pouco mais alta e tinha cabelo preto. Millie adorou quando Julie acidentalmente tocou sua mão, e a diferença de tamanho era evidente.

Ela se sentia contente perto de sua amiga e esperava... poder fugir com ela em breve.

— Bom dia! — Na saída, Millie cumprimentou as muitas velhinhas da pequena cidade. Ela esbarrava com elas todas as manhãs a caminho da escola. Algumas possuíam barracas de comida no mercado de peixes, enquanto outros possuíam pequenas lojas como Sadie.

Depois de caminhar no frio intenso, chegou aos portões da velha escola. Dez minutos adiantado e entrou calmamente. Já via alguns colegas no jardim da frente, sentados nos bancos, tomando leite de banana.

Alguns outros estavam jogando basquete.
Millie acabou de ir para sua aula deixar sua bolsa. Quando o sinal tocou, Julie rapidamente correu para dentro da sala com seu sorriso quadrado. Millie apenas sorriu para sua melhor amiga que se sentou ao lado dela.

Hoje, elas começaram com educação física.

Millie não era uma grande fã. Ela preferia ciências, química e literatura. Julie sempre brincava com ela e a chamava de princesa por isso.

— Você está bem, Mills?

Depois que os meninos da turma terminaram de jogar futebol e as garotas vôlei, todos ficaram cobertos de suor. Ainda assim, em seus agasalhos, as duas descansaram nos bancos.

Julie estava bebendo um pouco de água, enquanto Millie ofegava suavemente, enxugando a testa com uma toalha macia.

— Você está muito pálida hoje, você está doente, Mills? — Mills era como Julie chamava Millie quando estava preocupada com ela.

Millie sempre se derretia com o apelido.

— S-sim, estou bem. Só tive um sonho ruim, Jue — Millie sorriu para sua melhor amiga. Ela não entrou em detalhes sobre seu sonho, não querendo deixar sua amiga preocupada.

Porém, Julie já sabia que Millie estava sofrendo há algum tempo.

— As coisas vão acabar quando nos formarmos, então anime-se, princesa — Ela disse, enquanto jogava a garrafa de água na lata de lixo — Vamos nos trocar?

— O-o que você quer, Julie, depois que nos formarmos? — Millie perguntou enquanto seguia a mais alta até os armários.

— Vou para a Alemanha depois de nos formarmos. Quer vir comigo? Podemos alugar uma casa juntas e ser colegas de quarto — Explicou Jullie a Millie, após abrir seu armário e guardar suas roupas sujas.

A morena fez o mesmo e então olhou para Julie com animação nos olhos.

SYCAMORE PALACE • sillie g!pOnde histórias criam vida. Descubra agora