Capítulo 19 - Aurora Esposito

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Finalmente eu estou livre e junto de meus dois filhos. Penso em alívio, mas então uma tristeza me atinge pelo filho que mesmo que tenha nos traído, não consigo odiá-lo. Mas como poderia? Ele era uma parte de mim.

O amei mesmo antes dele nascer, e esse sentimento nunca acabará, independente do que tenha feito, mas procurarei guardar em meu coração a imagem de José em meus braços na maternidade e de quando o amamentei pela primeira vez. Eu era apaixonada em contemplar a sua inocência.

Ele e seus irmãos mal cabiam na palma da minha mãe, mas tinham uma fome sem igual. Entretanto, tenho que aceitar que isso não existe mais. Meu José, aquele que era inocente, se foi muito antes de sua fatídica morte, e Giulio e Gianluca, não existem mais.

Agora em minha frente estão Alessandro e Ângelo Bianchi, esses eu ainda não conheço, mas pretendo mudar isso. Quero me aproximar deles, quero ser a mãe deles. Sobre não serem mais Giulio e Gianluca, não posso julgá-los, pois sei tudo que Vincenzo fez contra eles, e no final das contas, acredito que nem eu sou a mesma Aurora. E agora, irei esclarecer todas as suas dúvidas.

- O mesmo colar que um dia Vincenzo havia me entregado como prova de seu amor, foi o mesmo que ele decidiu que seria responsável a ceifar minha vida, e por muitas vezes rezei que ele tivesse tido sucesso. - Respiro um pouco. - Depois que aquele capanga fez com que todos vocês ficassem desacordados, Vincenzo forçou aquele colar em meu pescoço, e naquele momento pensei ter morrido, até que acordei devido a gritos estridentes. Eu estava amarrada em uma cama numa sala pequena e com vários monitores em minha frente passando a mesma cena em diferentes ângulos. Foi quando vi a imagem de Giu..., desculpe, Alessandro, seu corpo amarrado em uma cadeira, suas mão presas com as palmas abertas em cima da mesa e em sua frente estava o mesmo homem que acompanhou Vincenzo na noite anterior. Ele estava em posse de uma faca de caça, e este objeto ele enterrava na mesa, sempre muito próximo as mãos de Alessandro, e ali eu entendi que a tortura era psicológica, o que era bem pior. Pois era aterrorizante para uma criança sentir aquela adrenalina de não saber se realmente seria ferido fisicamente. Por algum motivo que eu não entendia, Vincenzo queria nos torturar, mas não queria que as crianças tivessem marcas físicas. Eu me sentia apavorada, queria encontrar meus filhos e Diana, tirá-los dali, mas então em meios aos gritos de Alessandro os monitores se apagaram e foi a minha vez de gritar em desespero, pois nada eu podia fazer naquele momento. Como eu, mãe deles não podia defendê-los? - Respirei mais um pouco.- Vários minutos ou até horas se passaram, e os monitores acenderam novamente mostrando a imagem de Ângelo, em seu rosto conseguia enxergar todo medo que ele sentia, enquanto isso meu coração se apertava mais e mais, eu me senti totalmente impotente naquela situação. O mesmo homem que fizeram com Alessandro foi feito com Ângelo, e mais uma vez eu tive que ouvir os gritos de desespero de um filho e não poder fazer nada, depois de alguns minutos a tela se apagou novamente. Depois de um tempo a tela se acendeu e era a vez de fazerem com Diana, meu coração doeu, tanto por Diana, quanto por Dora que havia confiado a vida de sua única filha a mim e eu falhei, então novamente a tela se apagou. Esperei pois entendi que o próximo seria José, ou melhor, naquele meio tempo ele já era Tyler, mas nada, ele não apareceu. - Dei uma pausa para organizar as lembranças. - Ao invés de ver Tyler, a sala foi tomada por uma neblina branca e eu apaguei, acredito que era algum tipo de sonífero. Acordei quando senti uma mão acariciar o meu rosto, forcei abrir os olhos que estavam muito pesados, e dei de cara com Vincenzo, eu gritava para ele não encostar em mim, foi quando ele surtou e o escutei gritar para alguém transmitir as imagens daquela sala para que vocês vissem. Foi quando ele rasgou minhas roupas e me estuprou, ele foi tão covarde que fez isso enquanto eu ainda estava meio dopada e amarrada, não podendo me defender ou impedir que vocês vissem aquela cena horrível. O tempo foi passando e todos os dias as cenas se repetiam, ele os torturava psicologicamente e depois sumia com vocês. Um dia pressionei Vincenzo me dizer para onde levava vocês, e ele contou que após aqueles atos de crueldade, os carregavam para celas totalmente escuras e sem vida, mantendo-os lá trancafiados enquanto em alto falantes saíam vozes, dizendo todos os tipos de atrocidades possíveis para que vocês se quebrassem internamente. Não sei quantos dias se passaram, na verdade pareceram uma eternidade. Mas um dia ele me falou que vocês estavam prontos, que não se lembravam mais de mim, e que ele tinha os convencido que eram filhos de um casal de soldados dele que haviam falecido. Ele iria levar vocês e eu passaria o resto da minha vida sozinha em um lugar abandonado, definhando aos poucos. E foi o que aconteceu. Um dia tive esperanças de ser salva, quando Sara me encontrou, mas infelizmente ela me virou as costas e foi embora. Estive sozinha até agora, mas isso passou. - Assim que terminei de falar o homem com cabelos e outros dourados, que sei que o nome é Antônio, filho biológico de Sara, começa a se desculpar.

- Eu sinto muito pelo que minha mãe fez, ela não tinha esse direito. Mesmo que tivesse uma chance de meus irmãos irem embora com você, não cabia a ela decidir. Essa decisão cabia a você e meus irmãos. Nenhum de vocês merecia nada disso. Eu realmente sinto muito por todos, mesmo que eu não tenha feito nada, me sinto responsável pelas atitudes principalmente de minha mãe. - Ele termina de cabeça baixa e a voz embargada de alguém que segura o choro. Me levanto, vou até ele, seguro em seu queixo fazendo que olhe para mim e esclareço.

- Antônio, você não tem culpa alguma menino. E sua mãe, eu já a perdoei. Eu a perdoei no momento em que ela contou para Diana onde eu estava, pois ela poderia facilmente deixar que vocês acabassem com Vincenzo e viver com vocês como se eu não existisse e nada aconteceu. Por ter feito o contrário eu a perdoei. E se não for muito invasivo quero cuidar de você, assim como pretendo cuidar de Ângelo e Alessandro se eles me permitirem.

- Obrigado. - Antônio profere mais como um sopro. Sendo a vez de Alessandro falar, depois de tanto tempo ouvindo e submerso em seus pensamentos.

- Acho que digo por mim e por Ângelo, que mesmo que Sara tenha feito coisas um tanto questionáveis, ela sempre será nossa mãe, ela nos criou e amou. Mas temos que dar uma chance para agora você ser nossa mãe, afinal vocês não nos abandonou de propósito, foi forçada. Por isso, podemos tentar, sei que levará muito tempo para que criemos algum vínculo, mas podemos tentar. - Então Ângelo concorda.

- Meu irmão está certo, podemos tentar. Mas quero que tenha em mente que Antônio continuará sendo nosso irmão, nós o amamos, ele é um de nós e nada disso irá mudar.

- Eu nunca pediria o contrário. - Disse por fim, em alívio por eles terem me aceitado, mesmo que eu ainda tenha muito que construir com eles, mas eu conseguirei.

- Acho que todos precisamos descansar depois de tantas perdas e emoções. Vamos Aurora, te mostrei o quarto de hóspedes para que você possa se instalar e descansar, pedirei para Luís comprar algumas roupas para você poder tomar um banho e se sentir melhor. - Diana se direcionou a mim, depois virando para os três irmãos sentados, ela continuou. - Nós quatro temos muito o que conversar, mas neste momento precisamos digerir tudo que aconteceu. Quando todos estiverem prontos, inclusive eu, precisamos nos acertar. Mas quero que saibam de uma coisa, independente de qualquer coisa, sempre estarei aqui para vocês e sempre amarei vocês. - Diana disse dando um beijo no rosto de cada um dos três, fazendo três sorrisos tristes, mas amorosos surgirem. Assim ela sai, me guiando, já seguindo em direção à um corredor e depois algumas escadas, me guiando. Quando chegamos em frente a uma porta, ela me indica.

- Neste quarto você poderá tomar um banho e descansar.

- Obrigada, não só pelo quarto, mas por ter me resgatado e também por amar Antônio e meus filhos. Posso ver que eles também te amam pela forma como te olham, fico feliz por isso. E sua mãe se orgulharia da mulher forte que você se tornou, assim como eu me orgulho. - Ela agradece com um acenar de cabeça.

- Vou me retirar, qualquer coisa pode me chamar, estarei naquela casa que tem depois do jardim, é lá que moro. - Ela se despede e vai embora. E após sua partida percebo que sorrio, algo que não fazia há muitos anos. Apesar de ainda eu ter meus demônios internos, agora aqui com meus filhos, meu coração está em paz.

Entre a Máfia e as RevelaçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora