A Rua dos Vagalumes

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O tempo passa mais devagar quando observamos tudo ao nosso redor. O vento balançando as árvores, os pássaros que cantam sobre elas, os raios de sol atravessando as janelas em uma tarde de verão. A inocência de uma criança faz tudo parecer mágico, desde coisas simples da natureza, como a chuva, até as mais complexas, como a morte. A morte, que obviamente faz parte da natureza, é assustadora para a maioria dos adultos, quanto mais para uma criança.

Era uma tarde bonita de um dia bonito, em uma rua bonita de uma cidade pacífica. A cidade de Lagoa Verde parecia ainda mais encantadora durante o período de férias. As crianças corriam pelas calçadas livremente, brincavam durante o dia e à noite, pois não havia nada a temer. Em uma cidade pequena como Lagoa Verde, a paz era o maior ponto forte. Para as crianças, o maior perigo aparente era cair de bicicleta e ralar o joelho, ou talvez ser perseguido por um cão. Fora isso, nada parecia contrariar a paz que dominava o lugar.

Na minha infância, nos primeiros anos de vida, as lembranças são como um filme de comédia infantil americana. Lembro-me bem das brincadeiras e de quanto eu aprontava. Algumas janelas quebradas, tocar a campainha da vizinha e sair correndo em seguida, coisas de criança. Minha casa ficava em uma rua iluminada: de dia pelo sol, à noite pelos vagalumes, que tornavam os postes quase inúteis. Chegava a ser impressionante a quantidade de vagalumes que havia na minha rua. Centenas e centenas deles formavam uma nuvem que exalava um brilho verde-neon, o que popularizou a rua como "Rua dos Vagalumes". Muitas crianças iam até a rua à noite, até um parquinho que ficava em frente à minha casa. Elas se balançavam nos balanços, escalavam o trepa-trepa, apostavam corridas em suas bicicletas e brincavam na areia. No entanto, o meu favorito era o escorregador. Ele era enorme, muito além do adequado para uma criança de 11 anos, minha idade na época. O escorregador era um mistério, com sua estrutura velha e malfeita que afastava a maioria dos meus amigos. Mas não a mim. Eu gostava da vista lá de cima; a possibilidade de ver tudo daquela altura me agradava, pois sempre fui um observador.

O parquinho era o ponto de encontro não só para mim e meus amigos, mas também para grande parte das crianças da cidade. Não existia um lugar como aquele nas redondezas. Toda noite possível, eu atravessava a rua e ia até lá. Passava horas conversando com meus amigos sobre diversos assuntos. Eram os anos oitenta, e nós adorávamos assistir à televisão; discutíamos sobre filmes, desenhos ou qualquer outra coisa que nos interessasse. Os anos oitenta foram incríveis, a era de ouro da cultura popular.

Eu tinha muitos amigos, pois crianças costumam ter muito mais amigos que adultos. As relações sociais infantis são bem mais simples, e comigo não era diferente. Entre meus amigos, uma se destacava: minha amiga Helena, a maior companheira da minha infância. Eu passava a maior parte do meu dia com ela. Íamos e voltávamos da escola juntos, à tarde brincávamos com as outras crianças, e à noite não era diferente. Eu gostava de passar meu tempo com Helena; ela tinha tudo o que eu apreciava em uma pessoa naquela época: era gentil, engraçada, corajosa e gostava das mesmas coisas que eu. Hoje sei que era apaixonado por ela, mesmo quando criança, mas na época era jovem demais para entender isso, e se alguém me dissesse, eu provavelmente ficaria bravo, como é comum a uma criança de 12 anos.

Ela costumava ficar comigo no escorregador. De lá, observávamos as outras crianças, contávamos piadas e ríamos um do outro durante horas. Quando estava com ela, o tempo passava rápido, mal dava para perceber.

Nós, como de costume, estávamos sobre o escorregador naquele fatídico dia. Ainda me lembro de seus olhos castanhos e brilhantes, de seu cabelo negro e de seu sorriso característico, que sempre me fazia sorrir também. Enquanto conversávamos, um de nossos amigos, o Carlos, veio até nós gritando como sempre fazia. Carlos era alto e desastrado, o que o levou a ser apelidado de "garça", pois era extremamente magro e mais alto que muitas crianças mais velhas.

— Ei, vocês dois! Estou indo brincar de pique-esconde com os outros. Vocês não vêm? — disse Carlos, quase sem fôlego. O jeito como falava fazia parecer que estava sempre desesperado.

— É uma boa ideia — disse Helena. — Você vem, Antônio?

Eu nunca tive problemas em dizer "não", mas com Helena era diferente. Ela era diferente. Então, apenas concordei. Maldita decisão. Foi o motivo dos meus traumas, traumas que surgiram em uma inocente brincadeira de criança. Como eu queria voltar no tempo, só uma vez, apenas para mantê-la por perto, para fazê-la mudar de ideia, para lhe dizer "não". Reconheço o egoísmo da minha parte, mas naquela noite não fui só eu quem foi atingido. A morte de Helena foi um baque não apenas para mim, mas para todos que a conheciam, para todos que souberam de sua história. Uma pobre garotinha vítima da maldade humana. O diabo caminha entre nós, está nos mínimos detalhes, manipulando os fracos como se fossem marionetes, fazendo deles escravos do mal. Mas nesse caso, a atrocidade não foi cometida por um homem comum. Somente o próprio diabo poderia ter feito tal ato.

Atrás da minha casa, havia um caminho que levava até um bosque. Não era longe, então fomos caminhando. Era o lugar perfeito para brincar de pique-esconde, com muitos locais para se esconder. Na mente de um maníaco, o lugar perfeito para esconder um corpo. As grandes árvores cercavam o local como uma fortaleza, impossibilitando que se visse o que acontecia lá dentro. Ao centro, árvores menores, grandes arbustos e rochas. Bastava escolher o lugar, e eram muitos.

Quando chegamos lá, tiramos na sorte quem seriam as crianças a procurar, e quem iria se esconder. Ao final, todos se encontrariam na velha árvore que ficava em frente ao bosque. Aquela árvore era maior que todas as outras, possivelmente a mais antiga dali. Seu tronco era tão grosso que cinco homens adultos poderiam se esconder atrás dela tranquilamente. No centro, havia um buraco, e sabia-se que a árvore era oca. Um de seus galhos possuía um balanço de pneu, onde eu costumava ficar quando queria pensar — o lugar onde vivi o pior momento da minha vida, a situação que nenhum ser racional gostaria de enfrentar.

Quando a brincadeira começou, todos corremos para dentro do bosque. Eu e Helena costumávamos nos esconder juntos nesse tipo de brincadeira, o que fazia com que sempre fôssemos os primeiros a ser encontrados. Dessa vez, Helena sugeriu: 
— Vamos nos esconder em lugares diferentes dessa vez, quem sabe assim não ganhamos! 
Como de costume, apenas concordei. Eu questionava tudo e todos, menos ela, a amiga que eu não poderia perder. Fazia de tudo para agradá-la, não queria nem por um momento magoá-la. Hoje penso que, se ela me odiasse, mas ainda estivesse dividindo o mesmo plano que eu, seria melhor do que viver com a certeza de que nunca mais a verei. Nem aqui, nem no além, pois, se houver um paraíso, ela está lá, e um pecador como eu não teria outro destino além do inferno.

Após nos separarmos, discretamente me embrenhei em um arbusto. Era praticamente impossível me encontrar ali. Queria que fosse possível tomar o lugar dela, morrer em seu lugar, mas não era. Se pudesse, faria isso sem hesitar.

De meu esconderijo perfeito, via vez ou outra uma criança passar e ouvia os sons de quem estava sendo encontrado. Em certo momento, algo aconteceu. Vi a silhueta de alguém caminhando por perto. Não dava para ver quem era, pois estava escuro, e as únicas fontes de luz eram a lua e os vagalumes. O pouco que consegui distinguir foi o suficiente para perceber que era um homem. Apenas isso. Na época, a única coisa que se sabia sobre o assassino de minha melhor amiga era que ele era um homem.

O tempo passou, e como eu esperava, fui o vencedor da brincadeira. Uma satisfação que logo se dissipou quando percebi que Helena não estava entre os outros. Ao perguntar por ela, Carlos, uma das crianças que estavam procurando, disse: 
— Eu a encontrei logo no início, ela já deve ter ido para casa. Você sabe que ela não gosta de perder. 
E era verdade, Helena odiava perder. Porém, ela nunca ia embora sem se despedir. Estranhei.

Mesmo assim, após insistirem um pouco, relutante, fui para casa. Maldita decisão. Eu deveria ter esperado mais, deveria tê-la procurado. Quem sabe assim não poderia ter salvado sua vida. Deveria ter ligado para os pais dela, perguntado por ela, mas não. Eu não tomei a decisão correta. Fui estúpido, um completo idiota, e até hoje não me perdoo por isso.

A pior maldição que um homem pode carregar é conviver com a angústia do sentimento de culpa. É impossível ser feliz assim, a ponto de que a única coisa que me mantém vivo é o desejo de vingança — o único motivo pelo qual acordo dia após dia. A morte de Helena fez com que eu me odiasse mais do que qualquer outra coisa, com exceção apenas do monstro que tirou a vida dela.

A Rua dos Vagalumes [ INCOMPLETO ]Onde histórias criam vida. Descubra agora