Os dias se passaram rapidamente, e o tubo azul agora tinha um lugar de destaque no laboratório de João. Toda vez que ele o olhava, lembrava-se das conversas com Clara e Lucas. As palavras de encorajamento deles o levaram a um dilema: como transformar algo que ele considerava pessoal em algo que o mundo pudesse ver? Essa questão ocupava seus pensamentos, mas a rotina continuava, com experimentos, estudos e risadas ocasionais com Clara durante o trabalho.
Naquela manhã de segunda-feira, João estava concentrado em seus experimentos, quando Clara entrou no laboratório com um sorriso travesso no rosto. Ela estava segurando um folheto em mãos e o balançava animadamente.
– Olha só o que eu consegui! – ela disse, aproximando-se dele e entregando o papel. – A exposição de ciência interativa da faculdade está chegando. É daqui a um mês. Não é a oportunidade perfeita para você mostrar suas criações?
João pegou o folheto e examinou as informações. O evento parecia ser maior do que ele esperava, e sua primeira reação foi recuar.
– Uma exposição? Clara, não sei se estou pronto para isso. – Ele colocou o folheto na mesa e coçou a cabeça, claramente nervoso. – Não é como se eu estivesse criando algo revolucionário.
Clara revirou os olhos, impaciente.
– João, você precisa parar de se subestimar. – Ela cruzou os braços, encarando-o firmemente. – Você tem talento, cara! E essa exposição não é só sobre grandes inovações. É sobre mostrar o que cada um pode fazer. E suas misturas... bem, elas são únicas. Você tem um dom para criar algo simples e transformá-lo em algo bonito.
João suspirou, sentando-se em um dos bancos do laboratório. Ele olhou para o tubo azul e, por um momento, ponderou sobre o que Clara dizia. O silêncio entre eles durou alguns segundos, até que ele finalmente respondeu:
– Eu sei que você tem razão. Mas, e se ninguém se interessar? E se isso for só... irrelevante para as pessoas? – Ele olhou para ela, esperando por alguma confirmação de que seus medos não eram tão infundados.
Clara deu um sorriso compreensivo e sentou-se ao lado dele.
– Você nunca vai saber se não tentar. – Ela disse com uma voz suave. – E se ninguém se interessar, pelo menos você fez algo por você mesmo. Às vezes, vale a pena correr o risco de se expor, mesmo que seja assustador. E... quem sabe? Talvez você descubra que suas misturas podem tocar mais pessoas do que imagina.
João olhou para o folheto novamente e respirou fundo. Talvez Clara estivesse certa. Não era sobre criar algo revolucionário, mas sobre compartilhar o que ele gostava de fazer. E, se fosse assim, talvez ele pudesse experimentar essa nova experiência sem tanta pressão.
– Ok, vou me inscrever. – Ele disse, surpreendendo até a si mesmo com a decisão repentina. – Mas você vai ter que me ajudar a montar algo decente para a exposição.
Clara riu, claramente satisfeita.
– Com certeza! Vou ser sua consultora artística. – Ela piscou para ele, voltando a se levantar e pegando um dos equipamentos na bancada. – A primeira coisa que precisamos fazer é pensar em como você quer apresentar suas misturas. As cores são ótimas, mas talvez a gente possa adicionar algo mais interativo, sabe?
João assentiu, e a mente começou a trabalhar. Enquanto Clara organizava os equipamentos, ele começou a imaginar como seria sua participação no evento. Talvez ele pudesse criar uma sequência de tubos com diferentes reações de cores. Poderia ser algo simples, mas que chamasse a atenção. E, quem sabe, até despertar a curiosidade de outras pessoas.
Na semana seguinte, João passou a maior parte do seu tempo livre no laboratório, experimentando diferentes combinações de cores e reações. Clara estava sempre por perto, oferecendo sugestões e incentivando novas ideias. A tensão inicial que ele sentia começava a se dissipar, e agora havia uma excitação crescente à medida que o evento se aproximava.
Durante uma tarde particularmente agitada, Lucas apareceu no laboratório, carregando uma sacola com lanches.
– Aí estão meus dois cientistas favoritos! – Ele disse, entrando de maneira descontraída. – Trouxe comida, porque sei que vocês provavelmente esqueceram de almoçar.
João e Clara olharam para o relógio ao mesmo tempo, surpresos com o quanto haviam se envolvido nos experimentos. Clara foi a primeira a reagir, sorrindo para Lucas.
– Salvador da pátria! Eu já estava começando a sentir o estômago roncar. – Ela pegou um dos sanduíches da sacola e abriu rapidamente.
João riu, pegando um também.
– Valeu, Lucas. Você tem o dom de aparecer na hora certa. – Ele deu uma mordida no sanduíche e apontou para a bancada. – Estávamos aqui quebrando a cabeça com ideias para a exposição.
Lucas olhou para as várias misturas coloridas espalhadas pela bancada e levantou uma sobrancelha.
– Caramba, isso aqui parece... mágica. – Ele se aproximou, observando com atenção. – Então, você finalmente decidiu mostrar seu trabalho para o mundo, hein?
João assentiu, mastigando devagar.
– É... Clara me convenceu. – Ele lançou um olhar agradecido para ela. – Estou tentando fazer algo que seja interessante o suficiente para a exposição, mas ainda não tenho certeza de como vai ser.
Lucas examinou os tubos e frascos com curiosidade.
– Cara, isso já é interessante por si só. Essas cores são... fascinantes. E se você fizer uma demonstração ao vivo? Sabe, tipo, misturar os reagentes na frente do público e deixar eles verem a mágica acontecendo? – Ele sugeriu, animado com a ideia.
Clara bateu palmas, empolgada.
– Lucas, você é um gênio! – Ela se virou para João. – Isso seria incrível. As pessoas adoram ver as coisas acontecerem na hora. E você tem esse jeito todo metódico... seria uma apresentação perfeita.
João ficou em silêncio por um momento, considerando a sugestão. A ideia de fazer uma demonstração ao vivo o deixava um pouco nervoso, mas, ao mesmo tempo, havia algo empolgante nisso.
– Fazer uma demonstração... – Ele repetiu, ainda processando. – Nunca fiz algo assim antes, mas... talvez seja uma boa ideia.
Lucas deu um sorriso de apoio.
– Vai por mim, João. As pessoas vão adorar. E você ainda tem tempo para ensaiar, se quiser. Não precisa ser nada muito elaborado. É só mostrar o que você faz de melhor.
João respirou fundo e assentiu.
– Ok. Vou fazer isso. – Ele finalmente decidiu, sentindo uma mistura de excitação e ansiedade. – Mas vou precisar da ajuda de vocês para garantir que não faça besteira na frente de todo mundo.
Clara e Lucas trocaram olhares cúmplices e sorriram.
– Estamos com você, João. Vai ser incrível. – Clara disse, colocando uma mão no ombro dele.
– Vai mesmo, cara. E, quando isso acabar, a gente vai comemorar em grande estilo. Nada de ficar trancado em casa com a Netflix dessa vez! – Lucas brincou, piscando para João.
Eles passaram o resto da tarde discutindo ideias para a apresentação, e a empolgação era palpável no ar. O plano começava a tomar forma, e João sentia que, pela primeira vez, estava pronto para mostrar uma parte de si que ele nunca havia revelado. E, mais importante, ele tinha Clara e Lucas ao seu lado, incentivando-o a dar esse passo.
O tubo azul ainda estava ali, na bancada, como um lembrete constante do ponto de partida. Mas agora, ele não era apenas um experimento isolado. Era o símbolo de algo maior que estava por vir.
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Cores da Química"
Science FictionJoão olhou para o relógio digital ao lado da bancada do laboratório. Era tarde, mas ele não estava com pressa. O silêncio ali era confortável, envolto apenas pelo som suave dos reagentes sendo mexidos. Enquanto muitos escolhiam a agitação da noite d...