Experimentando Conexões

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A manhã seguinte trouxe uma luz suave que atravessava as persianas do pequeno apartamento de João. Ele acordou, ainda sentindo o gosto da pizza da noite anterior e lembrando das conversas com Clara. Não era comum ele se abrir tanto, mas, de alguma forma, ela sempre conseguia fazer isso acontecer.

Ele olhou para o tubo azul que ainda estava na bancada. "Será que eu realmente vejo o mundo de uma maneira diferente?" A pergunta de Clara reverberava em sua mente. Ele se levantou lentamente, esticando os braços, e foi direto preparar um café. Enquanto a cafeteira trabalhava, o telefone vibrou na mesa da cozinha. Era uma mensagem de Lucas:

Lucas:
"Sobrevivemos ao bar! E adivinha... consegui o número de uma garota incrível. Você devia ter vindo, cara."

João sorriu, balançando a cabeça. Lucas sempre estava tentando convencê-lo de que sair para bares e festas era o caminho para a felicidade. Ele respondeu:

João:
"Fico feliz por você, mas a noite aqui foi ótima. Pizza e ciência — não podia ser melhor."

Lucas:
"Ah, João... você é um caso perdido! Haha. Vamos almoçar mais tarde?"

João:
"Claro, só me avisa o lugar."

Com a conversa encerrada, ele voltou ao seu café e à familiar tranquilidade de sua rotina. Mas algo ainda o incomodava. Ele tinha notado um brilho nos olhos de Clara quando ela viu o tubo azul. Aquilo despertou nele uma sensação diferente, uma curiosidade sobre como suas experiências no laboratório poderiam impactar outras pessoas, além dele mesmo.

Ele olhou para a bancada, onde os frascos e reagentes estavam organizados com precisão. "Talvez seja hora de compartilhar um pouco mais disso", pensou. Inspirado pela reação de Clara, decidiu que iria levar uma das misturas ao laboratório da faculdade, onde trabalhava como assistente. Seria uma boa oportunidade para ver o que os outros achariam. Afinal, ele passava tanto tempo ali que talvez fosse hora de mostrar o que realmente fazia.

Na faculdade, João entrou no laboratório com sua mochila pesada, onde carregava o tubo azul e alguns materiais para continuar suas experiências. Clara já estava lá, mexendo em alguns equipamentos, e, ao vê-lo entrar, abriu um sorriso.

Olha só quem veio cedo hoje! – Clara brincou, enquanto ajustava os óculos de proteção. – Tá inspirado por acaso? Ou foi a pizza que te deu uma ideia genial?

– Na verdade, um pouco dos dois – João respondeu, colocando sua mochila no banco ao lado. Ele puxou o tubo azul e colocou sobre a bancada. – Estava pensando... você disse algo ontem que me fez refletir. Falou que esse azul parecia mágico, e isso me deixou curioso. Quero ver o que mais consigo criar com isso.

Clara olhou para ele com interesse genuíno, aproximando-se para observar o tubo novamente.

Sabia que eu estava certa! Esse azul é mais do que uma cor, João. Ele realmente transmite alguma coisa. Você devia explorar isso mais... talvez até apresentar em alguma feira científica. Ou, sei lá, usar isso em algo maior, tipo uma exposição interativa. – Clara fez um gesto animado, claramente entusiasmada com a ideia.

João deu uma risada tímida.

– Feira científica? Exposição? Acho que estou longe disso, Clara. Eu só gosto de fazer essas misturas e ver o que acontece.

– É exatamente por isso que você devia mostrar mais! Você não percebe o impacto que isso pode ter. – Ela fez uma pausa, franzindo a testa. – Aliás, o que você usou nessa mistura específica? Esse tom de azul não é muito comum.

– Ah, foi uma combinação de reagentes simples. Um indicador de pH com um corante, na verdade. Eu queria ver como as cores reagiam umas com as outras e... – João parou, notando o olhar fixo de Clara. – O que foi?

Indicador de pH e corante? E você chegou nisso? – Clara parecia impressionada. – João, você pode estar brincando com coisas simples, mas o resultado é... único. Esse tipo de coisa pode até ter aplicações em outros campos. – Ela se aproximou mais, os olhos brilhando. – Já pensou em levar isso pra pesquisa de verdade? Ou usar em algum projeto de design? Até produtos cosméticos usam reações de cor assim, sabia?

João ficou pensativo. Nunca tinha olhado para suas experiências como algo que pudesse sair do laboratório. Para ele, aquilo era apenas um hobby, uma maneira de organizar seus pensamentos e relaxar. Mas Clara estava sugerindo algo maior, algo além das paredes do laboratório.

Você acha mesmo que isso tem valor fora daqui? – Ele perguntou, genuinamente curioso.

– Claro que tem! As pessoas adoram cores, João. Se você mostrar isso ao mundo, tenho certeza que vão se interessar. – Clara deu uma piscadela, voltando sua atenção para os equipamentos que ela estava ajustando. – Eu, pelo menos, adoraria ver isso virar algo.

A ideia ficou martelando na cabeça de João enquanto ele organizava seus materiais para o dia. Talvez Clara estivesse certa. Talvez fosse hora de expandir suas fronteiras.

Mais tarde, após algumas horas de trabalho no laboratório, ele decidiu sair para almoçar com Lucas, conforme haviam combinado. No restaurante, Lucas já estava lá, acenando para João assim que ele entrou.

Aí está o cientista favorito do pedaço! – Lucas brincou, levantando o copo de suco. – Como foi a manhã? Misturou mais cores incríveis?

– Mais ou menos – João respondeu, sentando-se. – Eu e Clara tivemos umas conversas sobre isso. Ela acha que eu devia mostrar as minhas misturas para mais pessoas, talvez usar em alguma exposição ou algo do tipo.

Lucas levantou uma sobrancelha.

– Exposição? Tipo, arte?

– Não necessariamente arte, mas algo relacionado a design ou, sei lá, ciência interativa. Ela acha que as cores que eu crio podem ter algum valor além de serem só... interessantes. – João deu de ombros, ainda processando a ideia.

Lucas riu e tomou um gole do suco.

– Mano, se até a Clara tá falando isso, eu diria pra você prestar atenção. Ela sabe das coisas. E, se você pensar bem, as pessoas amam ver coisas legais e diferentes. Cores, química, ciência... você podia fazer algo bem criativo com isso.

João suspirou, sentindo a pressão crescente das ideias que pareciam estar se acumulando à sua volta. Nunca pensou em levar suas experiências além do laboratório. Era algo pessoal, quase íntimo. Mas, ao mesmo tempo, a possibilidade de compartilhar aquilo com o mundo começava a despertar algo novo nele.

Talvez eu tente, mas... eu gosto de manter as coisas simples. – Ele olhou para Lucas, buscando uma reação.

– E quem disse que precisa ser complicado? Começa pequeno, mostra pra algumas pessoas, vê o que rola. A pior coisa que pode acontecer é você perceber que prefere manter isso só pra você. Mas, se não tentar, nunca vai saber.

João refletiu por um momento e, finalmente, sorriu.

Você tem razão, Lucas. Talvez seja hora de mostrar um pouco do meu mundo.

Lucas deu um tapa amigável no ombro de João.

– Aí sim! É isso que eu gosto de ver, João, você saindo da toca e mostrando seu talento. Aposto que você vai surpreender muita gente.

Enquanto almoçavam, as conversas fluíram entre brincadeiras e risadas. Mas, ao fundo, a ideia de Clara e Lucas ecoava na mente de João. Talvez fosse hora de trazer um pouco das suas cores para o mundo exterior. Afinal, por que não transformar o azul da sua tranquilidade em algo maior?

Cores da Química"Onde histórias criam vida. Descubra agora