Ele foi enviado para sequestrar uma princesa, não para se apaixonar por ela. Kalel, um soldado treinado para deixar a emoção de lado, infiltrou-se no palácio mais bem protegido do mundo, certo de que nada abalaria seu foco. Mas Anabella, com sua alm...
Há quem diga que uma pessoa ou tem sorte no amor, ou tem sorte na guerra, mas Kalel Kurstwell é a prova incontestável de que isso é mentira.
Sob a luz das pequenas arandelas presas às paredes, envolto pelas sombras, Kalel sentiu o peso do olhar suplicante em sua direção. Os ombros do ex-companheiro tremiam e palavras desconexas e apressadas saiam de forma desordenada da sua boca.
Um guerreiro que até três dias era um homem valente, agora não passava de um rato acuado no canto da cela. Encolhido, balbuciando algo sobre a família.
- Por favor... Eu fiz isso pensando apenas na minha família... O homem também tinha filhos e... - Ele engasgava com os próprios soluços.
- E aí você achou que trair as ordens do seu rei, fosse uma opção? - a voz de Kalel soou baixa, monótona, quase entediada.
- Mas ele era apenas um contratado... E jurou que não sabia de nada do que havia na correspondência... Apenas estava seguindo ordens.
- E você não seguiu as suas. Era tão simples matar o mensageiro e confiscar a correspondência. - Suspirou, exausto dessa situação. - Mas preferiu ser piedoso e me dar mais trabalho. Achei que já soubesse que se você hesitar, é a sua vida que entra na berlinda. - Analisou a lâmina que tinha nas mãos, que refletiam a luz tremulante do lugar.
A espada nova tinha recém-chegado do ferreiro, era decepcionante ter de sujá-la tão cedo.
- Por favor, coronel... A minha família... meus filhos estão pequenos... e minha esposa...
Era sempre o mesmo.
Não importa o quanto falavam, eles sempre retornavam a este assunto, e Kalel, escutava. Sempre escutava.
Mas as palavras não passavam de ruídos tediosos aos seus ouvidos, embebidos em secreção nasal e suor, que escorriam por suas testas e narizes. O homem choramingava como se suas súplicas pudessem ser levantadas como um escudo. Uma couraça forte o suficiente para impedir seu algoz de agir. Não eram.
Para Kalel, o que importava no momento era a ordem que havia recebido, e ela era clara.
Quando o homem enfim parou de implorar em vão e apenas se pôs a chorar, o coronel executou com precisão o que lhe foi ordenado. Sua mão não tremeu quando levantou a lâmina, e não sentiu pena ou nojo ao ver a carne sendo cortada. Ao ver o sangue esguichar, tudo o que veio à sua mente é que precisaria tomar um banho antes de dormir. Tinha a impressão que o cheiro putre da sela abafada, parecia querer impregnar em suas roupas.
- Feito - disse enquanto limpava o sangue que respingara em suas mãos, nas costas - ainda quente - do homem caído.
- Você é mesmo habilidoso, Kalel. Levou apenas dois dias para encontrar esse traidor e trazê-lo de volta a mim. - Duncan disse sorridente na porta, conferindo atrás do jovem, o corpo sem vida. - É por isso que gosto tanto de você. Não é só habilidoso, é leal acima de tudo. Sei que posso contar com suas habilidades independente do que for.
Kalel se virou, encontrando os olhos amarelos do monarca, que cintilavam em prazer. Então inclinou-se em respeito. Ainda que fosse lisonjeiro ouvir tais palavras depois de tanto trabalho árduo, elas também não alcançavam seu coração. Satisfação, piedade, arrependimentos, e questionamentos, eram luxos que ele havia deixado de carregar quando decidiu ser a lâmina na mão de seu senhor.
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