Capítulo 2

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Lívia Collins

Corro pelos corredores vazios da universidade. Eu estava muito atrasada para a minha aula de Direito Penal. Pisquei, acostumando os meus olhos com a claridade que se infiltrava pelo corredor. Entro no banheiro ao meu lado para olhar o meu estado. Meus cabelos soltos , agora bagunçados e um pouco molhados pelo suor. Prendo meus longos cabelos em um coque frouxo, jogo um pouco de água em meu rosto , na intenção de tirar um pouco o suor em meu rosto.

Desbloqueei o meu celular para verificar o horário. Praguejei baixinho ao notar que as aulas já haviam começado há, pelo menos, meia hora.


Definitivamente eu não deveria ter saído ontem para comemorar o último dia de férias. Ontem parecia um ótima ideia, hoje estou colhendo os frutos da péssima ideia que tive.

Parei diante da porta da minha aula em andamento, espremi os olhos e soltei um suspiro antes de girar a maçaneta a adentrar na sala, entrando no maior silêncio possível. Pela visão periférica, notei o professor anotando algumas no quadro.


Em silêncio, sem olhar para o professor. Sentia o calor dos olhos de todos os alunos em mim, acostumados com a minha falta de pontualidade das aulas.


Dei três passos, antes que a voz profunda e absoluta ecoasse pela sala.


- oque pensa que está fazendo ?


Girei nos calcanhares devagar, parando diante do homem mais intenso que eu já vi em toda a minha vida.


Parei para observá-lo melhor.


Os cabelos eram pretos, contrastando com a pele branca e os olhos escuros mais profundo que já tinha visto. Nariz fino, maxilar quadrado e bem marcado, boca delineada com lábios carnudos e rosados. Uma camada escura cobria a mandíbula, a barba bem aparada e ajeitada.


O homem vestia um terno azul-escuro que acentuava os ombros largos e os músculos dos braços fortes. A camisa branca, com os dois primeiros botões abertos, evidenciava a fina camada de pelos que talvez se perdessem pelo abdômen possivelmente trincado, e as pernas torneadas demarcaram o tecido fino da calça de terno.

- vou perguntar pela última vez , oque pensa que está fazendo? - ele diz com o maxilar travado

- eu.. eu.. eu estou indo pro meu lugar. - gaguejei em sussurro.

- E o que a faz pensar que deixarei que entre em minha aula na metade do período, praticamente? -retrucou

Pousei as mãos na cintura, o movimento fez a mochila balançar em minhas costas.

- não estou vendo o professor Elias aqui, para me impedir de assistir a aula.

O professor Elias é o nosso professor de Direito Penal, ele é um senhor de sessenta e quatro anos , que usa óculos e tem o sorriso mais caloroso pocivel. Ele estava acostumado com meus atrasos. Então sempre acabava me deixando assistir suas aulas.

- O professor Elias não leciona mais nesta universidade. Sou o novo professor, e não tolero atrasos na minha aula.


Abri e fechei a boca , mas nenhum som saiu dela. Não posso acreditar que o professor Elias saiu da universidade. Ele era um professor tão bonzinho...

- isso é um absurdo, como mudam os nossos professores assim, sem nos avisar.

- Se fosse uma aluna pontual, assim como todos os seus colegas aqui presentes, teria sido comunicada e poderia assistir à minha aula. No entanto, chegou mais de meia hora atrasada e cheirando a álcool.

- eu não costumo me atrasar, foi um imprevisto que eu tive..

Minto , na verdade estou sempre atrasada , não nas aulas , mas em qualquer outro compromisso.

- imagino bem o imprevisto que teve.

- Quem você pensa que é para falar comigo desse jeito? - estou fulminado de raiva

- Sou o seu novo professor de Direito Penal, e nao aceito alunos irresponsaveis, que nao cumprem com horário -zombou - agora saia da minha sala.


- não pode fazer isso ! Eu só me atrasei um pouco e..

- não posso ? Que fique de exemplo , a srta , não irá assistir minha aula hoje, pois não tolero atrasos. Suas atitudes e responsabilidades com o curso iram contar como nota. - ele diz olhando para todos na sala.

Não precisava ser nenhum gênio para notar a ameaça implícita em seu tom. Era ele quem detinha o poder dentro da sala, o qual poderia usar contra mim, fosse em provas ou trabalhos.

Engoli todo o orgulho que sentia, ergui o maxilar beligerantemente e me direcionei para fora da sala.

Meus pais pagavam um absurdo de mensalidade, eu não aceitaria ser desrespeitada dessa maneira. Não mesmo.

Bati a porta às minhas costas com tanta força que a madeira tremeu, ecoando alto ao fechar.

🌟

Professor CarterOnde histórias criam vida. Descubra agora