Prólogo

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Becky

Becky Armstrong estava na sala de criação tomando café com Saint quando Babe entrou. Em pé atrás dele, havia um homem que Becky reconheceu vagamente, mais um dos Ternos.

— Estávamos à sua procura — disse Babe.

— Bem, nos acharam — afirmou Becky.

— Não de Saint, de você.

Becky observou-os por um instante, depois jogou uma bola vermelha de espuma no teto e pegou-a. Olhou de soslaio para Saint. A Investacorp comprara metade das ações da empresa havia dezoito meses, mas Becky e Saint ainda chamavam eles de "os Ternos" . Era um dos apelidos mais gentis que usavam para se referir a eles quando estavam sozinhos.

— Conhece uma mulher chamada Nita Lewis?

— Por quê?

— Você deu a ela alguma informação sobre o lançamento do novo software?

— O quê?

— É uma pergunta simples.

Becky olhou de um Terno para outro. O clima estava estranhamente pesado. Seu estômago, que mais parecia um elevador lotado, iniciou uma descida lenta rumo a seus pés.

— Talvez a gente tenha conversado sobre trabalho. Que eu me lembre, nada específico.

— Nita Lewis? — perguntou Saint.

— Você precisa ser clara sobre isso, Becky. Deu a ela alguma informação sobre o lançamento do SFAX?

— Não. Talvez. O que está havendo?

— A polícia está lá embaixo revistando a sua sala, com dois caras da Autoridade de
Serviços Financeiros. O irmão de Nita foi preso por uso indevido de informações
privilegiadas. Com base na informação que você deu aos dois sobre o lançamento do software.

— Nita Lewis? A nossa Nita Lewis?
Saint começou a limpar os óculos, algo que fazia quando estava ansioso.

— O fundo hedge do irmão dela ganhou dois milhões e seiscentos mil dólares no primeiro dia de negociação. Nita, sozinha, teve um lucro líquido de cento e noventa mil em sua conta pessoal.

— O fundo hedge do irmão dela?

— Não estou entendendo — disse Saint.

— Vou explicar com todas as letras. Existe a gravação de uma conversa de Nita Lewis com o irmão sobre o lançamento do SFAX. Ela diz que a Becky aqui contou que ia ser grandiosa. E adivinhe só? Dois dias depois, o fundo do irmão dela está entre os maiores compradores das ações. O que exatamente você disse a ela, Becky?

Saint olhou para a amiga. Becky se esforçou para organizar seus pensamentos. O ruído que fez ao engolir foi vergonhosamente audível. Do outro lado da sala, a equipe de
desenvolvimento espiava por cima das divisórias dos seus cubículos.

— Não contei nada. — Ela piscou. — Não sei. Pode ser que eu tenha dito alguma coisa.Isso não era segredo de Estado.

— Era segredo de Estado, porra, Becky — retrucou Babe. — Isso se chama uso de
informações privilegiadas. Ela contou ao irmão que você tinha lhe fornecido datas, horas. Você disse a Nita que a empresa ganharia uma fortuna.

— Então ela está mentindo! Falando demais. Nós estávamos apenas… a fim uma da outra.

— Você queria comer a garota e por isso deu com a língua nos dentes para impressioná-la?

— Não foi assim.

— Você transou com Nita Lewis? - perguntou Saint, e Becky pôde sentir o olhar míope do amigo queimando-a até as
entranhas.

Babe ergueu as mãos.

— Você precisa ligar para o seu advogado.

— Como posso estar encrencada? — perguntou Becky. — Não me beneficiei em nada com isso. Nem sabia que o irmão dela tinha um fundo hedge.

Babe olhou para além de Becky. Os rostos das outras pessoas de repente encontraram algo interessante para olhar em suas mesas. Ele baixou o tom de voz: — Você tem que ir agora. Querem interrogá-la na delegacia.

— O quê? Isso é loucura. Tenho uma reunião de software em vinte minutos.
Não vou a delegacia alguma.

— E obviamente vamos afastá-la até chegarmos à raiz disto.

Becky deu uma risadinha.

— Está de brincadeira? Você não pode me afastar. É a minha empresa. — Ela jogou a bola de espuma no ar e pegou-a, dando-lhes as costas. Ninguém se mexeu. — Não vou. Essa empresa é nossa. Diga a eles, Saint.

Ela olhou para Saint, mas este mantinha o olhar fixo no chão. Becky encarou Babe, que balançava a cabeça. Por fim, olhou para os dois homens uniformizados que haviam surgido atrás de Babe, para sua secretária, que tapava a boca com a mão, para o caminho de carpete entre ela e a
porta, e a bola de espuma caiu silenciosamente entre seus pés.

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