[🧡] prologue - it's like the sun came out

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Eu sou um átomo em um mar de nada
Procurando por outro para me unir
Talvez poderíamos ser o começo de algo;
Unidas desde o início dos tempos

Start of Time, Gabrielle Aplin
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15:47,
em algum lugar na República Tcheca

Para uma cidade com um nome tão tosco, Praga era bastante agradável.

Não era o que Roberta tinha em mente quando aceitou passar a quase encerrada temporada na Polônia, mas não podia negar a liberdade que achou em poder pular em um trem em suas horas de folga e poder explorar os países vizinhos de seu lar temporário, levando consigo apenas um fone de ouvido, uma bolsa com poucas mudas de roupa e seu passaporte.

O motor do trem vibrando embaixo de seus pés era bem vindo, misturando-se com as notas suaves de violão ecoando em seus ouvidos, palavras de sua língua mãe contrastando os anúncios em idioma estrangeiro no sistema de áudio do transporte. A paisagem não era deslumbrante como em Amsterdã na primavera ou Zurique em sua glória natalina, mas era o suficiente para prender sua atenção, a arquitetura antiga lhe lembrando de algo que ela quase podia identificar caso sua memória não lhe falhasse.

O frio envolvia o ambiente pouco iluminado, se juntando à miríade de cargas sensoriais providas pela vista, o movimento do trem e a voz de Marisa Monte, sendo expulso de forma gradual pelos aquecedores espalhados ao seu redor e o cardigan que abraçava seu tronco. Sem cerimônia alguma, a levantadora tirou as botas Doc Martens de seus pés, cruzando as pernas no seu assento e apreciando a forma que o tecido felpudo de suas meias – cortesia de Rosamaria em sua última visita, claro – mantinham seus dedinhos aquecidos.

Estava quase pegando no sono quando a música parou, fazendo Roberta xingar baixinho pelo distúrbio repentino. Ora, seus fones estavam devidamente carregados, pois havia feito questão de checar isso no dia anterior, o sinal funcionava perfeitamente, não era possível que havia esquecido de pagar seu Spotify outra vez-

Suas dúvidas surgentes desapareceram quando viu o nome de Macris acendendo sua tela, e seu cenho franziu-se quando novas dúvidas começaram a se formar. Apesar de serem próximas quando estavam viajando juntas pela seleção, unidas pela posição pela qual jogavam, qualquer interação que não fosse por mensagem ou comentários no Instagram durante as temporadas de clube era inexistente.

Talvez algo tivesse acontecido e ela tivesse perdido enquanto explorava as ruas do centro de Praga, e seu estômago embrulhou ao pensar na possibilidade de algo ruim ser o motivo da ligação. Apesar do sentimento pesado, e seus pensamentos rápidos tentando adivinhar o que Macris havia a dizer-lhe, Roberta deslizou seu polegar pela tela, atendendo a ligação.

Alô? Rô? – A voz tímida, mas tranquila, de Macris a saudou, e seu tom foi o suficiente para relaxar o franzido que Roberta carregava, dando espaço para um sorriso aliviado.

– Oi, vegana! – Respondeu, tendo seus medos aquietados pela suavidade da outra, e percebendo o quanto havia sentido falta de ouvir a voz de sua companheira de seleção. – Como vai a Turquia?

Bem, bem. Frio pra cacete! – A última frase arrancou uma risada de Roberta, que não esperava tal expressão de alguém tão... lady. – E você? A Polônia tem te tratado bem?

– Faço das suas palavras as minhas. – Replicou, achando graça na forma que o ar que saía de suas narinas era visível. De repente, e inesperadamente, ela queria que Macris pudesse ver aquilo, e saber se ela também acharia graça nisso. – Você acredita que eu vim dar uma voltinha em Praga para ver se melhorava e não adiantou de nada?

ceilings • rocris Onde histórias criam vida. Descubra agora