CAPÍTULO 8

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                         Kyo Adans



Uma tarde nublada de sábado, 18 de abril, 1 dia antes da inauguração da Sophie Coffee. Estava tudo preparado, até mesmo os funcionários já haviam sido contratados, Eduardo o primo de Laila era o vice chefe, nós nos tornamos grandes amigos, passamos a frequentar a academia juntos, ele também sabe sobre Hellena.
   Nesse exato momento estávamos andando pela cidade, havíamos acabado de sair da academia, agora estamos tentando nos distrair, afinal ele está tão ansioso por amanhã quanto eu.
      
    - Agora que eu parei pra pensar cara!  - Ele diz parado de caminhar, logo depois põe as mãos no queixo.

- Sobre? – respondo também parando e direcionando o olhar pra ele.


- O nome da cafeteria... tem algo haver com a sua garota?


- Quem me dera se ela fosse a minha garota. – suspiro – Mas, sim tem haver. Ela se chama Hellena Sophie.

- Como que ela não vê que você está literalmente de 4 pra ela!?  

- Ela me vê como amigo, deve ser por isso.


- Mas ela sabe sobre essa homenagem?

-  Óbvio que não né Eduardo, eu não diria isso pra ela.  – Eu provavelmente teria que explicar o porquê decidi fazer isso...

- Sua lerdeza é impressionante viu! Você não acha que ela ficaria feliz em saber disso?


- É mas, talvez seja melhor que ela veja com os próprios olhos.

- Isso já é outra coisa, mas é uma pena que ela não veja o quanto você gosta dela. Quer dizer...- ele se aproxima se apoiando em meu ombro. -  Não difícil de ver que o doguinho aqui está de 4 com a cauda abanando toda vez que menciona algo sobre ela.

- Olha só, o gado da Vanessa falando.

  Vanessa é a namorada de Eduardo, se conheceram através de Laila e se apaixonaram, ele não cansava de me contar essa história. Eduardo havia me apresentado ela uma vez. Vanessa era uma mulher totalmente apaixonada pelo namorado, ela possuí cabelos lisos e pretos até a altura do pescoço, seus olhos eram castanhos e ela estava sempre sorrindo. Já Eduardo era um homem de cabelos pretos e olhos esverdeados, ambos formavam um ótimo casal.

- Aquela mulher mexe comigo Kyo – Seus olhos chegam a brilhar ao dizer sobre ela. – Pelo menos eu sou gado e ela sabe disso e me retribuí né?

- Muito boa a indireta. – retruco.


- Você devia se declarar logo pra ela Kyo.


- Ela tem namorado!


- Vai ficar nessa até quando? Dando conselhos pro relacionamento dos dois pra eles darem certo e serem felizes. Mas e quanto a você?

- Eu fico observando tudo, fico feliz em ver ela feliz.

- Eu desisto! Quer saber, vai lá em casa hoje a noite.

- Meus planos eram passar a noite toda lendo.

- “Eram” agora seus planos são outros.

- Certo, se eu dizer não, você vai encher meu saco mesmo.


  Paramos em uma sorveteria, e ficamos por lá, conversamos um pouco.

                 
              .        .       .


Estou de pé na porta de Eduardo, esperando ele vim me atender. A porta logo se abre e ele me recebe todo sorridente, apertamos a mão e ele me direciona para ir até a sala, Ao chegar lá, noto uma moça sentada no sofá, ela estava com celular em suas mãos, talvez fosse cunhada, prima, ou até mesmo uma irmã dele, se bem que ele nunca havia mencionado que possuía irmãs.
  Assim que ponho os pés na sala, seu olhar é direcionado a mim, ela sorri. Eu a olho e a cumprimento.

- Boa noite. – Digo gesticulando minha cabeça.

-  Ah Kyo! Não precisa ser tão formal assim. – Afirma Eduardo. – Essa aqui é a Íris, a melhor amiga da minha querida Vanessa. E Íris, esse daqui é Kyo, meu amigão e também meu chefe, dono de uma cafeteria maravilhosa e futuro escritor.

- Prazer em conhece-lo Kyo -  Ela responde sorrindo.

- Muito bem, agora que já estão apresentados vão dar uma volta por aí pra se conhecerem melhor. Mas antes  Kyo, preciso ter uma conversinha com você sobre a cafeteria, é bem rapidinho Íris.

Eduardo se direciona até a cozinha e eu o acompanho.

- Gostou dela? Ela faz o seu tipo né? Quer dizer você adora mulheres de cabelos cacheados.

- Eduardo... – suspiro. – Que porra é essa?


- Um encontro, não está claro?

- Olha, eu não concordei com isso.

- Eu sei, por isso fiz uma surpresa. Eu sei muito bem que você recusaria, mas agora que não tem escolha, aproveite!


- Não posso, eu preciso acordar cedo amanhã.


- Esquece a cafeteria um pouco amigão, ela só vai abrir 9:00 hrs.  Fica frio e vai se distrair um pouco. Ou você prefere ser um idiota e furar com a Íris?

- Prefiro ser um idiota. – afirmo.

- Kyo por favor, você precisa parar de se dedicar tanto a uma pessoa que já é comprometida e nem se importa com você.

- Eu vou descontar isso do seu salário.

- Não brinque com isso, agora vai. E sem Hellena tá legal?


  Solto um suspiro, me viro  de costas e vou até a sala. Ela ainda estava sentada no sofá me esperando, Íris vestia um vestido branco um pouco a cima do joelho, seus cabelos eram cacheados e castanhos, mas haviam algumas mechas loiras. Ela era aceitável até, mas.... “Ok sem Hellena por agora”


  - Vamos? – digo parado em frente a ela, estendendo minha mão.

  Íris segura minha mão e se levanta de um jeito delicado, ainda sorrindo para mim.
Saímos pela linda e movimentada, Avenida Principal. O lugar era sempre animado e com pessoas bem humoradas caminhando pelas ruas.

- Não pensei que você fosse tão bonito assim. –ela diz.

- Ah obrigado, você também é, muito bonita. Me fala sobre você.

- Bom eu tenho 19 anos, sou dentista e moro com minha mãe, estou solteira e a procura de um companheiro.

Isso me pareceu uma descrição de perfil de aplicativo de relacionamento.

- Interessante.

-  E quanto a você? Me diga o nome da sua cafeteria.

-  Sophie Coffee, e a propósito, ela será inaugurada amanhã.

- Então você já tem uma cliente garantida – ela responde sorrindo. – Você deve estar bem animado né?


- Ansioso é a palavra certa. -  Acrescento.

Levei Íris a um restaurante italiano, conversamos por muito tempo, ela me falou mais detalhadamente sobre si. Íris sorria o tempo todo com sua taça de vinho nas mãos, e quanto a mim, só bebi 2 copos de suco natural.  Eu disse uma vez a Hellena que nunca mais iria ingerir nenhuma bebida alcóolica, e nada do tipo teria contato com minha boca e assim fiz, eu dei minha palavra e vou mantê-la até o fim.
Depois do jantar, decidimos caminhar pela praia. O ar estava fresco, o céu estava lindo e todo estrelado.  A lua minguante se destacava no céu.
Gostaria de passar momentos assim com Hellena...

Ás 00:30, fomos embora, eu a acompanhei de táxi até sua casa.
  Assim que cheguei ao meu apartamento, tomei um banho gelado, logo em seguida preparei o café que eu tanto amava, peguei um livro que fiquei de terminar e comecei a lê-lo. Eu devia dormir, porém o sono era algo totalmente fora de cogitação para uma pessoa ansiosa.  Eu poderia passar a noite conversando com Hellena, porém já fazia um tempo que não conversávamos. Só falávamos o “básico” e o fim sempre era um simples Kmoji. Ela está feliz, é isso que importa.
  É óbvio que eu sinto saudades dela, tenho vontade de mandar mensagem, puxar assuntos e conversar sobre qualquer coisa, mesmo que fosse o assunto mais insignificante possível, se estivesse com ela, tudo se tornaria muito mais interessante. Mas preferi guardar essa vontade para mim mesmo, decidi deixa-la em seu espaço, respeita seu tempo. E se algum dia ela sentir a minha falta, ela me procurará, e eu a receberei com todo meu amor oculto e atenção, afinal eu sempre estarei esperando por ela.
           
            .           .          .

  06:20 da manhã, acabo de terminar minha leitura nesse exato momento. Apesar do final triste o livro é ótimo e o guardarei como meu favorito. O final foi meio trágico.
  Realmente nem tudo é como queremos, existem os azarados no Amor, assim como eu, a protagonista do livro e mais um terço de pessoas por aí, existem os sortudos, como Eduardo, Vanessa, Laila, Hellena, Gabriella e Mikael, que inclusive enxergaram que nasceram um para outro e estão prestes a se casar. E existe o Luan, o cara mais sortudo e completo do universo, aquele que Hellena define como “meu namorado”.
   Me levanto, tomo um banho e preparo meu café. Assim que termino vou direto para a cafeteria adiantar alguns preparativos que me vieram a mente durante a madrugada.
  Abro o estabelecimento e me dirijo para a cozinha. Júlio o  outro confeiteiro chega logo depois de algumas horas. Cupcakes, salgados e diversos tipos de pães foram preparados, Alguns minutos depois chegam os outros 3 confeiteiros, Ana, Luís, Lúcia e Sofia cuidavam dos bolos. Thiago e Eduardo cuidavam dos diversos tipos de bebidas, e variedades de cafés feitos na hora. Os garçons e garçonetes chegaram por volta das 08:30am, e já foram logo vestindo seus elegantes uniformes.
  Agora estava tudo conforme o planejado, o relógio marcava 08:59 e finalmente poderíamos abrir. Eduardo ligou a chamativa luz neon escrito “aberto”.
Ficamos todos animados à espera do nosso primeiro cliente, a Sophie Coffee funcionaria de Segunda a Domingo. De Segunda a Sábado abriria ás 7:00 e fecharia ás 20:30, já aos Domingos abriria às 9:00 e fecharia às 14:00.
  Eduardo e eu estávamos em pé atrás do balcão esperando alguém passar pela porta.

- Como foi ontem com a Íris? – Pergunta se debruçando no balcão.


- Você sabe que isso não é da sua conta, não sabe?

- É claro que é da minha conta, aliás, a Íris adorou você. Ela ligou pra Vanessa e não parou de falar o quanto está encantada por você.

- Eu não fiz nada pra ela se encantar. – acrescento.

- Deus me livre, elas fofocaram quase a noite inteira. Essas mulheres fofocam de mais. – suspira.


- Você não é muito diferente delas, Eduardo.

- E nem você!

- Eu não fofoco, eu coleto informações. É completamente diferente, e olha eu não esqueci que seu salário vai vim pela metade esse mês.

- Com essa sua memória ruim eu tenho esperança que você se esqueça. E cai entre nós, você deveria dar uma atenção especial pra Íris, ela tá amarradona em você. Tá na hora de se levantar desse posto de Doguinho da Hellena.


A porta principal se abre, o sininho da entrada toca, e lá vem, nosso primeiro cliente. Um senhor de cabelos grisalhos e muito bem vestido passa pela porta, o sujeito para olhando ao redor do ambiente e logo depois se senta.
No mesmo instante, Carla uma das garçonetes vai atende-lo, ela dá as boas vindas e retorna com os pedidos anotados me entregando para que eu pudesse prepara-los.

- É Eduardo, e eu acho que você devia parar de falar sobre mim e ir trabalhar. Vá ligar a playlist que preparei, ponha em um volume audível e não muito exagerado. – Digo tocando em seu ombro.

- Olha esse assunto ainda não acabou viu, eu ainda vou pegar muito no seu pé.

Não digo nada, apenas dou de ombros e vou arrumar a bandeja com os pedidos, enquanto Thiago preparava o café. Assim que termino saio de trás  do balcão com o pedido já pronto. 1 Pão Francês com mortadela, e uma xícara de café com açúcar.

- Deixe que eu entrego Carla. – afirmo.

Vou até o senhor com o pedido nas mãos, ele esperava pacientemente enquanto cantarolava a música do ambiente. “Started the Joke”. Uma música lenta dos anos 80/90, a playlist era toda composta por músicas da época.

- Bom dia Senhor, sou Kyo Adans e fico feliz que seja nosso primeiro cliente.  Como brinde o senhor levará essa caixa de cupcakes sortidos para casa, aqui está o seu pedido e volte sempre.

- Muito obrigado! Esse lugar faz parecer que voltei no meu tempo de juventude, é fantástico e de muito bom gosto, com certeza voltarei aqui sempre! – Responde sorrindo.

- Estou muito contente em saber disso. Tenha um bom apetite – digo.

Me afasto da mesa voltando para detrás do balcão.

- “Estou muito contente em saber disso”  - Eduardo tentava imitar o tom de minha voz. -  Você é péssimo em demonstrar emoções Kyo.

- Idiota.

- Ele tem razão chefe, você deveria sorrir se está contente, é o jeito de demonstrar isso – Acrescenta Carla.

- Ele com certeza não serve para o atendimento, provavelmente vão deduzir que você é um chato. – Responde Eduardo.

-  É melhor deixar a parte do atendimento com a gente chefe – Carla sorri tocando em meu ombro.

- Se vocês dizem.  – respondo.



O som do sininho de entrada ressoa outra vez, nosso segundo cliente.

- Isso aqui tá um verdadeiro luxo Kyo! – Exclama Laila assim que passa pela porta.
  
   Sua filha veio junto, a menina entra logo atrás da mãe, toda animada e sorridente.


- É realmente, eu estou orgulhoso- respondo.

- Eu ainda não tinha visto a placa de perto, muito menos fazia ideia sobre o logo... Ficaram incríveis mas, espero que o significado de violetas brancas seja bom, imagine só, se for ruim, traria uma maré de azar. – Diz Laila.

Eduardo saí de trás do balcão, caminha até Laila e apoia sua mão no ombro dela.

- Fica fria Laila, o Kyo é inteligente. Aposto que essas flores tem algo a ver com o nome da cafeteria, não é mesmo? – Ele me olha de forma sarcástica.

- É, ele tá certo, é uma coisa boa. – acrescento.  – Pelo menos pra mim em certa parte é algo bom.

A Sophie Coffee e as violetas brancas, realmente estavam associadas. As violetas indicavam promessas, significavam “Te amarei eternamente, mesmo se esse amor só for sentido por mim, mesmo se você me odiar algum dia, mesmo se eu morrer a qualquer instante, eu continuarei a te amar Hellena Sophie.”
As Tulipas vermelhas espalhadas por todo o estabelecimento também significavam algo.


  - Vejo que já teve seu primeiro cliente. – Diz Laila.

  Sua filha estava encantada pela guitarra pendurada na parede, ela olhava e com o desejo vibrante de toca-la.
  Me aproximo da menina e me abaixo em frente a ela.

- Quer pegar? – pergunto.

- Sim! –responde animada.

- Não Lilian! Não é um brinquedo. – interfere Laila.

Me levanto e vou até o instrumento, tiro-o da parede e logo em seguida me sento em uma cadeira com a guitarra em mãos.

- Vem pequena, eu te ensino a tocar. Sua mãe é uma estraga prazeres. – Digo acenando para ela.

  A menina sorri e vem em minha direção cheia de entusiasmo.

- Você é mesmo muito abusado! Tirando minha autoridade na frente da minha filha.

- Chata. – afirmo.

- Sabem de uma coisa? – pergunta Eduardo. – Se ele fosse simpático com as pessoas igual ele foi com a Lilian, ele seria um homem perfeito.

- Concordo! – afirma Laila. – Tá aí, uma coisa que eu nunca imaginaria, ele se dá muito bem com crianças, e pelo visto elas gostam dele.

- Olha, eu estou ouvindo tudo que vocês estão dizendo – digo.

  Depois de alguns minutos, a cafeteria ficou lotada de gente, o trabalho deveria ser dobrado, logo eu teria que me despedir de Lilian. Ela me abraça e me dá um suave beijo na bochecha.

- Obrigado Tio! – Diz ela.

- Olha, até tio dela ele já é. – Retruca Eduardo.

Laila e a filha saem do local, Eduardo e eu voltamos a trabalhar. Os pedidos só iam aumentando, a Sophie Coffee estava muito bem movimentada já no primeiro dia, realmente deu tudo certo.
  Aquela foi minha maior conquista e olhar que depois de tanto tempo, tanto esforço, trabalho e claro decepções, porque nada na vida é fácil, eu finalmente realizei um dos meus maiores sonhos.
   Depois de umas horas, o local se tornou mais tranquilo, Eduardo se aproxima de mim e fica de pé ao meu lado.

- 125 clientes somente no primeiro dia... É uma conquista e tanta né amigão. – ele apoia uma das mãos em meu ombro e solta um breve suspiro. – Estou feliz por você. – sorri.

- Realmente, Graças a Deus, tudo deu certo.

- Ops... Eu disse 125? Eu quis dizer 127! – Diz ele apontando para a porta de entrada.

  Olho em direção a entrada assim que o sininho ressoa. Vanessa e Íris passam pela porta.

- Huumm garanhão, olha que veio ver o namoradinho – Eduardo sussurra, dando risadinhas sarcásticas.

- Gado desgraçado! – Sussurro em resposta.

  As duas mulheres vem em direção a nós.

- Amor, que bom te ver! – Exclama Vanessa, indo em direção ao namorado para abraça-lo. – Kyo! Esse lugar está fantástico, e pelo visto fez sucesso logo de cara.

- É, e seria perfeito se eu não tivesse que me segurar para não cometer um homicídio, onde o seu querido e amado namorado fosse a vítima. – respondo.

- Que isso amigão, essa grosseria toda na frente da Íris. Por que não a convida para comer ou beber alguma coisa, ao invés de me ameaçar? – Retruca Eduardo, estava na cara que ele tentava me provocar.

“ Se continuar com isso não será apenas uma ameaça” – meu olhar para ele logo em seguida, expressava exatamente isso.

- Quer comer algo Íris? Pergunto.

- Gostaria de um cappuccino apenas.

  Eduardo envolve seus braços ao redor de Vanessa e a leva até uma mesa, enquanto Íris e eu vamos nos sentar em outra.

- Isso está tão feérico Kyo! – Exclama Íris, olhando ao redor do lugar.

- Pois é, é minha maior conquista. Realmente está magnífico.

- Que tal eu e você sairmos hoje? Pra comemorar.

- Ah certo, algum lugar em mente? – questiono.

- Tem um restaurante novo, que também vai inaugurar hoje á noite, que tal?

- Certo, então está marcado.

   Sinto uma sensação esquisita, como se faltasse alguma coisa, eu estava feliz pela cafeteria, mas algo faltava.

  Horas depois os funcionários já haviam ido embora. Agora são 13:55, 5 minutos para o estabelecimento fechar, Eduardo e Vanessa também já haviam ido embora. Agora era apenas Íris e eu.
  Decidimos passar o Domingo juntos, ir ao cinema, parque e essas coisas na qual eu não me simpatizo muito. Eu preferia estar em casa lendo livros, ou até mesmo escrevendo. Mas admito que o dia até foi divertido, Íris até que é uma boa companhia, sabe conversar, e tem um bom humor contagiante, ela é bastante carinhosa comigo, apesar do meu jeito, ela sempre me trata com simpatia e está sempre sorrindo.
 
                .        .       .

São 18:30PM, daqui a 30 minutos preciso ir buscar Íris. Eu estava fazendo algumas flexões antes de ir tomar banho, quando meu celular toca.

- Sim? –digo respirando fundo por conta dos exercícios.

- Kyo meu filho! Como foi a inauguração hoje?

- Foi perfeito mãe, deu tudo certo.

- Queria ter ido... eu estou tão orgulhosa de você meu filho. – ela responde animada, eu podia jurar que ela estava chorando.

- Não se preocupa mãe, você pode passar lá outro dia. Mas agora preciso desligar, vou sair e nem tomei banho ainda.

-Tá bom, a gente conversa quando eu chegar, mamãe te ama, e meus parabéns filho.

- Obrigado, eu também te amo mãe.

Encerro a chamada e coloco o celular sobre a cama e logo em seguida vou tomar banho. Eu estava de fato muito feliz pela minha conquista, mas algo faltava e esse sentimento me causava um vazio, me impedindo de estar completamente feliz. Isso me deixa inquieto.
  Me  apresso e termino de me arrumar, ou eu provavelmente me atrasaria.  Termino de pentear meus cabelos e logo em seguida passo perfume, agora eu estou pronto, e de saída, porém assim que abro a porta sinto meu celular vibrando no bolso, pego-o e atendo, era Hellena, me ligando em chamada de vídeo.

- Kyo! Ela exclama sorrindo ao me ver.

- Hellena...

É tão bom e reconfortante olhar para ela, está linda como sempre e infelizmente também com aquele olhar triste e vazio de sempre.

- Você está bonito, está de saída? Se quiser ligo depois.

  Fazia tanto tempo que eu não conversava com ela, não quero que ela desligue agora, eu preciso saber um pouco mais sobre ela, preciso ouvir sua voz por mais tempo.

- Ah tudo bem, podemos conversar até que eu chegue lá. Me diz como você está? Está se sentindo bem?

-  Eu liguei pra ouvir você me contando sobre o dia da inauguração, Kyo você precisa parar de se preocupar tanto assim comigo. – sorri.

- Não posso evitar... Bom, deu tudo certo! Foi um sucesso já no primeiro dia, acredito que amanhã será melhor ainda.

- Estou tão feliz por você... Queria ter ido. – acrescenta com um olhar triste.

- Quem sabe algum dia – respondo.

Ficamos em silêncio, Hellena mexe em seu cabelo o enrolando em seus dedos, eu a admiro disfarçadamente.

- Como vai seu relacionamento? Digo quebrando o silêncio.

- É aquilo sabe, uma hora está bem, na outra está péssimo. Tipo agora, está péssimo. E nesses momentos ele some, me deixa preocupada e se eu dizer que estou preocupada, se eu até mesmo perguntar aonde ele esteve, ele acha que é ciúmes e começa uma briga feia... Sendo sincera eu estou esgotada Kyo.

- Você não merece isso Hellena, eu realmente sinto muito e espero que tudo melhore pra você.


   É claro que eu queria fazer alguma coisa, mas eu não podia fazer “essa coisa”. Não podia me intrometer em seus sentimentos, em suas escolhas e muito menos matar aquele maldito, já que ela ama ele.

- Sei não, eu sou bem azarada e parece que o universo está contra mim.

  Seja minha, e assim farei com que o universo esteja a favor de tudo que envolve você.

Hellena de fato estava mal, ela precisaria de uma longa conversa, ela precisava desabafar, porém nós dois sabíamos que agora não era a hora certa pra isso.

- E a escola, como está? – tento desviar do assunto.

- Minhas notas estão baixas, como eu disse eu estou esgotada. Queria fazer algo para garantir meu futuro, mas com minha mãe pegando no meu pé fica difícil.

- E o que você quer futuramente? – questiono.

- Sabe Kyo, o sonho do meu pai era ser policial, mas ele não conseguiu, quero realizar esse sonho dele, que na verdade também é o meu. Eu quero me tornar uma Policial. – Afirma de forma animada.

  Era bom vê-la tão “feliz” de novo, mesmo que fosse por um breve momento. Mas eu estava bem próximo à casa de Íris, infelizmente preciso desligar. Aqueles poucos minutos que conversei com Hellena me fez bem. Era isso que faltava, aquela sensação de estar faltando alguma coisa desapareceu, é como Eduardo diz “Você é o doguinho fiel de Hellena, sem ela você fica incompleto.”

- Isso é incrível Hellena, saiba que pode contar comigo sempre, certo?

- Você e essa sua mania de me tratar como se eu fosse especial. – Diz sorrindo.

Como se fosse?

- É... Bom, eu preciso desligar agora.

- Tudo bem, a gente conversa outra hora. Tenha uma ótima noite Kyo!

Por um tris, apenas por um fio, quase que solto “Eu te amo”. Não posso dizer isso, mas...
- Até logo, Besta.


                  .             .             .


Íris e eu estamos na entrada do restaurante. O lugar é fantástico.

- Ótimo lugar. – Digo.

- Sabia que você ia gostar Kyo. – responde com um sorriso estampado no rosto.

Fomos recebidos por um homem, ele está vestido com um smoking, e logo nos leva a uma mesa de frente para a grande vidraça que dava vista para o mar. Nos sentamos, abrimos o menu para escolhermos os pratos.

- O que vai querer? – pergunto.

- Penne ao curry com azeite de trufas brancas.


Aceno para o garçom, que vem logo em seguida até nossa mesa.

-  O que o casal deseja? – pergunta o homem de forma simpática.

- 2 pratos de Penne ao curry por favor, uma taça de suco de laranja e para a Dama vinho Branco. – digo.

O garçom se afasta, Íris me encara com um sorriso enorme no rosto.

- Ele pensou que fossemos um casal, a gente meio que se parece um pouco não acha?

- Não acho. – acrescento.

- Você não é de beber coquetéis nem nada desse tipo né?

- Não, eu não gosto. Prefiro suco mesmo.

  Tempos depois nosso pedido chega à mesa. Degustamos daquele prato maravilhoso enquanto conversávamos. Conversamos por bastante tempo até que resolvemos ir dançar.
  Íris entrelaça os braços em volta do meu pescoço, seguro com ambas as mãos sua cintura. A brisa fresca que vinha da janela fazia com que exalasse o perfume de Íris.

Esse cheiro me é familiar...

Me aproximo de seu pescoço e a cheiro sutilmente.

- Good Girl...- sussurro.

- Sim, e como adivinhou? – questiona surpresa.

- Digamos que eu seja bom com perfumes.

A cheirei mais uma vez, tenho certeza. Esse perfume é o mesmo perfume que dei de presente pra Hellena, ela tinha o mesmo cheiro quando a abracei pela última vez em nossa despedida.
Na verdade acho que o universo está é contra mim. Por que tudo envolve ela? Tudo que me rodeia é sobre ela, ou me faz me lembrar dela, é tão difícil...
  Apesar do cheiro tentador fazendo com que Hellena tome ainda mais conta de meus pensamentos, eu a tento afastar. É Íris que está ali e não Hellena, mas ao fechar meus olhos... era como se ela estivesse ali. Isso é errado. Completamente errado.

  Quando percebi, ela e eu estávamos no meio de um beijo delicado. Paramos, ela levanta os pés para chegar ao meu ouvido.

-  Vamos para casa...- sussurra.

  Assinto de forma positiva, ela segura em minhas mãos me guiando até a saída. Chamamos um Uber e fomos direto para a minha casa, assim que chegamos lá ela se joga em meus braços e me beija de forma mais intensa, fomos dando passos curtos até meu quarto, nos deitamos na cama e fomos mais além.

- Não fazia ideia de que fosse tímido, abra os olhos meu amor.

Hellena... eu estou de olhos fechados, se eu abrir ela some. Mas, essa voz não é de Hellena, apesar de nunca ser tocado por ela, eu sei que a mulher que me toca, não é Hellena. Porém esse cheiro, me deixa louco. É como se eu estivesse drogado, hipnotizado, desejo tanto ela, que apenas um maldito cheiro de perfume me deixou cego pela realidade, estou em transe e nesse transe Hellena é minha, ela está na minha frente, com sua voz diferente, seu toque é diferente, mas ela está ali, chamando meu nome a cada movimento.
Assim que terminamos, fui tomar banho. Íris está dormindo. Eu saí do transe, algo dentro de mim mudou, um sentimento estranho que jamais senti inunda dentro de mim, o que será isso?
    Eu deixei me levar pela loucura, pelo amor e desejo que sinto por Hellena, enlouqueci e a moldei em minha alucinação, e alguém, esse alguém que eu nem ao menos sinto alguma coisa, acabou sendo fruto da minha alucinação, da minha injustiça. Talvez o sentimento dentro de mim seja apenas arrependimento e pena. A que ponto eu cheguei... Usando alguém pra matar meu desejo por uma pessoa que não me enxerga da mesma maneira que eu a enxergo, e agora sinto pena dessa pessoa, eu sinto pena de Íris, ela sempre foi tão legal comigo, tão compreensível, me sinto mal por ela.
   Saio do banho e a fico observando enquanto dorme profundamente. Penso que Eduardo possa ter razão, talvez eu só precise pensar diferente e tentar coisas diferentes. Estou preso a uma pessoa que já está presa a outra pessoa, e essa pessoa não sou eu. Não é por mim que seu coração bate.


“Talvez eu só precise de um fone novo...-”




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