Escolhas • 𝗥𝗮𝗳𝗲 𝗖𝗮𝗺𝗲𝗿𝗼𝗻

Capítulo 1 : A tempestade

Os Kooks estavam em uma das festas mais aguardadas do verão. A música alta ecoava pela praia, e o som das risadas se misturava ao ritmo das ondas. Rafe estava sentado em um canto mais afastado, com Topper e Kelce ao seu lado. Seus olhos, levemente arregalados pelo efeito da cocaína, observavam o ambiente com desdém. Ele sempre se sentia deslocado, mesmo entre seus próprios amigos.

— Cara, você tá bem? — Topper perguntou, notando a inquietação de Rafe.

— Estou ótimo, porra .Só... cansado dessa merda toda. — Rafe respondeu com um tom de impaciência, ignorando a preocupação evidente no rosto do amigo. Para ele, aquele mundo já não fazia sentido. Era como se estivesse constantemente fora de controle, mas ninguém parecia perceber. Ou, se percebiam, ninguém se importava o suficiente para fazer algo a respeito.

Foi nesse momento que ele a viu.

Livy Maybank, uma Pogue, estava do outro lado da praia. Ela não se parecia com as outras pessoas ao seu redor. Enquanto os demais Pogues se divertiam e provocavam os Kooks de longe, ela estava sozinha, de pé, observando o mar com um ar distante. Havia algo nela, algo que fez Rafe desviar o olhar da confusão ao seu redor e se fixar nela. Talvez fosse o contraste entre sua postura calma e o tumulto ao redor, ou talvez fosse apenas o sorriso breve e sincero que ela deu quando percebeu que ele a estava encarando.

Por um instante, toda a raiva e o caos dentro de Rafe desapareceram. Ele não sabia explicar, mas algo mudou. Aquele sorriso, algo tão simples, fez com que ele esquecesse a tensão, a rivalidade, e até mesmo a agitação que sentia constantemente. Era como se, por um momento, o mundo tivesse desacelerado.

Sem dizer nada, ele se levantou e começou a caminhar em direção a Livy, deixando Topper e Kelce para trás, perplexos com sua súbita mudança de humor. Ele não tinha ideia do que estava fazendo, apenas sabia que precisava se aproximar dela.

— Você... é diferente. — Ele disse, sem pensar, assim que estava próximo o suficiente para ser ouvido.

Livy virou-se, um pouco surpresa ao ver quem estava ali, mas não recuou. Ela o olhou de cima a baixo, reconhecendo-o de imediato. Todos sabiam quem era Rafe Cameron, e a reputação que ele carregava não era das melhores.

— Diferente? — ela respondeu, erguendo uma sobrancelha com um sorriso tímido. — Não sei se isso é um elogio ou uma crítica.

Rafe deu uma risada curta, algo raro vindo dele. Era um som estranho, como se ele não estivesse acostumado a rir de verdade.

— Talvez seja um pouco dos dois. — Ele respondeu, ainda sem entender exatamente por que estava ali, mas certo de que não queria ir embora.

Livy olhou para ele por mais alguns segundos, estudando suas feições. Ela não parecia assustada, como muitos ficavam. Pelo contrário, ela parecia curiosa. E foi isso que prendeu Rafe. Pela primeira vez, ele sentiu que alguém estava realmente o enxergando, e não apenas a versão caótica e violenta que ele mostrava ao mundo.

— Acho que você também é diferente, Rafe. — Ela disse suavemente, antes de se virar novamente para o mar, como se suas palavras não tivessem a intenção de provocar uma resposta, mas sim de expressar algo que ela simplesmente sentia.

E naquele momento, enquanto a música continuava tocando ao fundo e as pessoas riam e gritavam em volta deles, Rafe Cameron sentiu algo novo. Uma paz que ele não conhecia, uma calmaria em meio à tempestade. E, pela primeira vez em muito tempo, ele se permitiu acreditar que talvez, apenas talvez, houvesse algo mais para ele além da raiva, do caos e da destruição.

Livy Maybank, com seu sorriso e sua tranquilidade, poderia ser sua chance de redenção — ou sua queda definitiva.