Livy Maybank observava o horizonte à sua frente, os pés mergulhados na água fria e o som suave das ondas preenchendo o silêncio ao seu redor. Para ela, o mar sempre fora um lugar de tranquilidade, onde podia escapar do caos de sua vida. Ela gostava de vir até o píer, desenhar, pensar, ou simplesmente esquecer por alguns momentos os problemas que pareciam assombrar os Pogues. Mas naquela tarde, algo estava diferente. A imagem de Rafe Cameron, o garoto que todo mundo temia, rondava seus pensamentos.
A noite anterior ainda pairava em sua mente. Ela não sabia o que esperar quando o viu se aproximar na festa. Rafe era conhecido por sua agressividade e por seu ódio aos Pogues, especialmente ao seu primo, JJ. Mas algo naquela interação foi inesperado. Ao invés de confrontá-la ou insultá-la, ele se abriu — mesmo que de forma sutil. Livy nunca tinha visto Rafe daquele jeito, vulnerável, quase humano. E agora, ali no píer, ela sentia uma estranha curiosidade em relação a ele.
Quando ouviu seu nome, Livy virou-se rapidamente, surpresa ao ver Rafe caminhando em sua direção mais uma vez. Ele parecia diferente da noite anterior, menos tenso, mas ainda carregava aquele ar de alguém que estava constantemente à beira de um colapso.
— O que você está fazendo aqui? — Ela perguntou, tentando não soar defensiva, mas genuinamente intrigada. Era incomum que alguém como Rafe se aventurasse na parte da ilha onde os Pogues viviam. Não fazia sentido.
Enquanto ele se sentava ao seu lado, Livy percebeu a hesitação em seus movimentos. Ele estava lutando contra algo interno, algo que ela apenas começava a entender. Ela não esperava que ele fosse honesto, mas ficou surpresa quando ele admitiu, de maneira tão simples e crua, que estava tentando sair da própria cabeça.
Livy se manteve calma, sem julgá-lo. Ao longo dos anos, ela aprendeu que as pessoas raramente mostravam quem realmente eram logo de cara, especialmente quando estavam carregando o peso de algo profundo. Rafe, com toda sua raiva e comportamento autodestrutivo, parecia alguém que carregava mais do que deixava transparecer.
— Sair da sua própria cabeça? Isso parece complicado. — Ela disse, esperando que a leveza de suas palavras suavizasse a tensão que sentia emanando dele.
Quando ele riu, uma risada curta e sem emoção, Livy soube que havia algo muito mais sério ali. Ela já tinha visto aquele tipo de risada antes – em pessoas que estavam à beira de perder o controle de si mesmas, mas que ainda fingiam estar bem. Em sua família, especialmente em JJ, ela via os mesmos sinais: um mar revolto dentro deles que tentava ser contido, mas que, inevitavelmente, transbordava.
Rafe não era diferente. Ele era um desastre, como ele mesmo disse. Mas Livy sabia que desastres não eram destinos, eram situações que podiam ser contornadas. Ela não o via apenas como o vilão da história que todos pintavam. Havia algo mais nele, algo que o próprio Rafe parecia estar lutando para entender.
— Talvez seja verdade. — Ela respondeu com cuidado. — Talvez você seja um desastre. Mas todo mundo carrega algo. A diferença é o que você faz com isso.
Ela viu, por um breve momento, que suas palavras o atingiram. Não como uma acusação, mas como uma revelação. Ele estava tão acostumado a ser visto como o problema, que talvez nunca tivesse considerado que podia haver outro caminho. Livy sabia que não era sua responsabilidade salvá-lo, mas se ela podia plantar uma pequena semente de dúvida na mente dele – uma dúvida sobre quem ele realmente era – então talvez isso já fosse um começo.
Quando Rafe finalmente perguntou o que ela achava que ele deveria fazer, Livy sentiu um misto de surpresa e compaixão. Ele estava pedindo conselhos? Dela? A garota que ele, teoricamente, deveria desprezar? Mas ela não hesitou. O que ele precisava ouvir era simples, algo que JJ também precisava ouvir, algo que muitas pessoas ao redor deles precisavam entender: que encarar seus próprios demônios era o primeiro passo para encontrar paz.
Mas ela sabia que dizer isso era fácil. Livy não era ingênua. Ela sabia que a vida de Rafe era complicada de maneiras que ela mal podia imaginar, com a pressão de ser um Cameron, a dependência das drogas, e a guerra interna que ele claramente travava consigo mesmo. Ainda assim, ela acreditava que as pessoas eram mais do que seus piores momentos, mais do que as escolhas ruins que faziam.
Então, quando Rafe disse que talvez tentasse, ela sorriu. Não porque acreditava que ele mudaria da noite para o dia, mas porque ele pelo menos estava considerando a possibilidade. Para Livy, isso já era uma vitória.
Mas o momento foi interrompido pelas vozes que ela reconheceu de imediato. Topper e Kelce. Livy suspirou, esperando o inevitável confronto. Sabia que, aos olhos dos Kooks, ela era apenas uma Pogue, alguém que não merecia atenção ou respeito. Quando Topper gritou com desdém, ela viu Rafe tensionar por um segundo. Esse era o ponto de ruptura, o momento em que ele teria que escolher entre ser quem sempre foi ou tentar ser alguém diferente.
Para sua surpresa, Rafe manteve a calma. Ele mandou seus amigos irem na frente, deixando Livy perplexa. Ela não esperava isso. Esperava que ele cedesse à pressão, que se levantasse e voltasse a ser o Rafe destrutivo que todos conheciam.
Quando eles ficaram sozinhos de novo, Rafe parecia diferente. Havia algo novo em seu olhar, algo que Livy não conseguia nomear, mas que a fez sentir uma estranha conexão com ele. Ela sabia que aquilo era apenas o começo de algo, talvez uma mudança, talvez uma jornada de autodescoberta. Mas o que ela não sabia era até onde isso poderia levá-los.
Livy olhou para ele mais uma vez, sorrindo quando ele disse que talvez tentasse encarar seus demônios. No fundo, ela sabia que aquilo seria difícil, talvez impossível. Mas o fato de que ele estava disposto a tentar já significava muito.
— Um passo de cada vez, Rafe. — Ela disse suavemente, com a esperança de que ele realmente estivesse ouvindo.
E naquele momento, Livy percebeu que, de alguma forma inexplicável, ela havia se tornado parte da tempestade que cercava Rafe Cameron.
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Escolhas • 𝗥𝗮𝗳𝗲 𝗖𝗮𝗺𝗲𝗿𝗼𝗻
FanfictionEnvolto em um emaranhado de emoções e conflitos familiares, Rafe precisava decidir se enfrentaria seus medos e assumiria suas responsabilidades ou se continuaria fugindo de suas próprias escolhas. Em meio a segredos sombrios e traições, a família ma...