Capítulo 2 : Entre a luz e a escuridão

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No dia seguinte, o sol queimava alto no céu, refletindo a luz dourada sobre as águas do oceano. Rafe acordou mais tarde do que de costume, a ressaca emocional da noite anterior ainda pairando sobre ele. A imagem de Livy Maybank estava gravada em sua mente, como se seu sorriso tivesse sido uma âncora, puxando-o para fora do turbilhão em que ele sempre vivia.

Ele não conseguia parar de pensar nela. Por que, de todas as pessoas naquela festa, ele se aproximou dela? Era uma Pogue, alguém que deveria odiar, alguém que deveria ser sua inimiga. Mas algo sobre Livy o fazia questionar tudo o que ele acreditava.

Enquanto ele encarava seu reflexo no espelho, Rafe viu os olhos vermelhos, os traços cansados e os sinais óbvios do abuso de cocaína. Era como se ele estivesse preso em um ciclo interminável de autodestruição. O olhar nos olhos de Livy, no entanto, não mostrava medo nem ódio. Mostrava algo que ele não estava acostumado a ver: compreensão.

— Eu preciso falar com ela de novo. — Ele murmurou para si mesmo, como se precisasse afirmar isso em voz alta para acreditar.

Horas depois, ele vagava pelas ruas da ilha, tentando convencer a si mesmo de que estava apenas matando o tempo, sem destino. Mas a verdade era que ele estava procurando Livy. A ideia de que uma simples conversa com ela pudesse trazer alguma clareza o inquietava, mas ao mesmo tempo o atraía de maneira irresistível.

No lado mais modesto da ilha, onde os Pogues viviam, Rafe finalmente a encontrou. Ela estava sentada em um pequeno píer de madeira, com os pés mergulhados na água, distraída, desenhando algo em um bloco de papel. O sol caía sobre seus cabelos, criando reflexos dourados. Ela parecia em paz, completamente alheia ao mundo ao seu redor.

— Livy. — Rafe chamou, hesitante, a voz soando mais suave do que ele esperava.

Ela olhou para trás, surpresa ao vê-lo ali, mas não havia hostilidade em seu olhar. Apenas curiosidade, como na noite anterior.

— Rafe. — Ela disse calmamente, colocando o bloco de papel de lado. — O que você está fazendo aqui?

Ele deu de ombros, sem saber exatamente como responder. Havia algo desconcertante sobre a maneira como ela o olhava. Como se estivesse esperando que ele dissesse a verdade, algo que ele raramente fazia.

— Eu... não sei. — Ele admitiu, sentando-se ao lado dela, mas mantendo certa distância. — Acho que eu precisava sair da minha própria cabeça por um tempo.

Livy deu um sorriso leve, inclinando a cabeça para o lado enquanto o observava.

— Sair da sua própria cabeça? Isso parece complicado.

Rafe soltou uma risada curta, mas sem humor.

— É mais complicado do que parece. — Ele admitiu, olhando para a água abaixo deles. — A maioria das pessoas não se dá ao trabalho de entender.

— Talvez porque você não deixe elas verem quem você realmente é. — Ela respondeu, como se fosse a coisa mais simples do mundo.

Rafe ficou em silêncio. Como ela poderia entender tão bem aquilo que ele mal conseguia expressar? Livy parecia ver através dele, ignorando as camadas de raiva e autodefesa que ele havia cultivado ao longo dos anos.

— Eu não sou uma boa pessoa, Livy. — Ele finalmente disse, o peso de suas palavras carregado de uma sinceridade crua. — Não deveria nem estar falando com você. Eu sou um desastre.

Livy o encarou por um longo momento, seus olhos cheios de uma calma serena.

— Talvez seja verdade. Talvez você seja um desastre. — Ela respondeu, com a voz tranquila. — Mas todo mundo carrega algo. A diferença é o que você faz com isso. Você não precisa ser o que todo mundo espera que você seja.

Rafe sentiu o impacto das palavras dela como um soco no peito. Ninguém jamais tinha dito isso a ele. Todos ao seu redor – seu pai, seus amigos, até mesmo os outros Kooks – o viam como uma força destrutiva, alguém destinado ao caos. Mas ali, naquele píer, com Livy ao seu lado, ele percebeu que talvez houvesse outra escolha.

— E o que você acha que eu deveria fazer? — Ele perguntou, sem saber se queria mesmo ouvir a resposta.

Livy sorriu, aquele mesmo sorriso que o havia desarmado na noite anterior.

— Talvez você devesse parar de fugir. Encarar seus demônios em vez de deixar que eles te controlem. — Ela disse, sua voz cheia de uma sabedoria surpreendente para alguém da idade dela.

As palavras de Livy ressoaram dentro de Rafe como um eco, fazendo com que ele se perguntasse se seria possível. Encarar seus demônios? Isso parecia impossível. Ele passou tanto tempo se escondendo por trás de uma fachada de agressão e vícios que não sabia mais quem ele era sem aquilo.

Mas, ao olhar para Livy, ele sentiu algo novo: esperança. Uma pequena faísca, mas que o fez querer tentar, por mais absurdo que parecesse.

— Eu... — Rafe começou, mas foi interrompido pelo som de vozes familiares ao longe. Ele se virou e viu Topper e Kelce se aproximando, com expressões de desdém ao verem Rafe sentado ao lado de Livy.

— Ei, Rafe! O que você tá fazendo aí com uma Pogue? — Topper gritou, com um tom provocativo.

Rafe sentiu o velho sentimento de raiva subir dentro dele, mas desta vez ele conseguiu conter. Ele se levantou devagar, olhando para Livy antes de se virar para seus amigos.

— Eu tô bem aqui. Vão na frente. — Rafe respondeu, surpreendendo a si mesmo com a calma em sua voz.

Topper e Kelce trocaram olhares confusos, mas não insistiram. Com risadas zombeteiras, eles se afastaram, deixando Rafe e Livy sozinhos mais uma vez.

Rafe voltou a se sentar ao lado dela, o coração batendo forte. Algo estava mudando dentro dele. Lentamente, mas de maneira inegável.

— Talvez eu tente, Livy. — Ele disse suavemente. — Encarar os demônios. Só não sei se consigo.

Ela sorriu, o tipo de sorriso que fazia o caos dentro dele parecer distante, quase insignificante.

— Um passo de cada vez, Rafe.

Escolhas • 𝗥𝗮𝗳𝗲 𝗖𝗮𝗺𝗲𝗿𝗼𝗻 Onde histórias criam vida. Descubra agora