KINTSUGI

CAPÍTULO 1

Na ponta oposta da quadra, uma garota que parecia nova demais para estar acompanhando o ator solteiro e famoso com quem estava, ergueu a mão direita sobre a cabeça. Ela olhou bem nos olhos de Eunice, sem esboçar nenhum sorriso, acenou para que ela se aproximasse.

Com passos rápidos e curtos, Eunice cortou a distância entre elas, equilibrando a nova bandeja que carregava em uma única mão, enquanto tentava evitar uma bolada na sua direção com a mão livre. Ao chegar perto da garota, Eunice finalmente recebeu um sorriso educado.

— Eu tenho passe livre, baby – ela enlaçou das duas mãos no braço do ator que estava acompanhando, apertando os próprios olhos em uma careta que indicava um sorriso forçado. Ela batucou no braço do homem com apenas o dedo indicador em que ostentava um anel de diamantes maior do que seus dois dentes da frente unidos. – Somos celebridades, sabe?

— Tudo bem. Pode pegar um copo – Eunice sussurrou para ela, se inclinando para frente para que a garota pudesse pegar o copo sem ter que estender demais o braço.

Em um movimento rápido vindo das costas, duas mãos grandes e vermelhas abraçaram os ombros de Eunice antes que ela se desse conta que o barulho próximo era de um par de tênis derrapando. O corpo atrás dela lhe deu um impulso para frente, fazendo a bandeja se virar para baixo e todos os copos descerem para o colo da plateia próxima.

A garota que estava abraçando o braço do ator foi a mais afetada, com os cachos milimetricamente ajustados se desfazendo com o peso da cerveja, o vestido branco empapando e ficando transparente, e a maquiagem escorrendo pela pele do pescoço e do colo. O ator que era seu noivo pulou para cima, se afastando dela e evitando que mais bebida se espalhasse pelo seu corpo, enquanto a mulher mais velha que estava do outro lado da garota viu sua saia estampada grudar na pele da perna e a bebida entrar no seu sapato pela lateral.

— Me perdoa, moça – o jogador atrás dela se desculpou, soltando o abraço que tinha dado no corpo de Eunice e a virando para frente, para olhá-la nos olhos. Mesmo com a calça molhada e a máquina de cartões pingando cerveja importada, Eunice tentou sorrir para ele. – Eu tentei evitar, eu tentei parar...

— Tudo bem. Está tudo bem – Eunice ergueu as mãos para mostrar que estava bem, mas o jogador apenas acenou com a cabeça, como tinha feito mais cedo no corredor, e voltou para a quadra.

— Você vai pagar o meu vestido – a garota informou, completamente calma, enquanto ficava com os braços erguidos na altura dos cotovelos e a cabeça abaixada para o próprio colo, analisando o estrago.

— Claro que sim. Eu vou pagar a lavagem e até um novo se você quiser. Você pode ir ao bar e...

— Derek – a garota se ergueu, usando as unhas extremamente longas e pintadas de preto para afastar o cabelo molhado do rosto, e encarou o noivo.

— Certo. Falta meia hora, mas posso descobrir o placar depois – ele estendeu a mão para ela e a puxou para si, dando apoio para que seus saltos não escorregassem no piso molhado. Ele nem mesmo olhou para Eunice sobre o ombro. – Meus advogados vão entrar em contato.

Eunice sentiu os ombros serem puxados para trás enquanto observava o casal se afastar e subir a escada lateral. Um jogador do time adversário pisou exatamente onde Eunice estava, assim que ela foi afastada. A cerveja no piso espirrou na calça dela quando o jogador a pisoteou, mas ela continuou olhando para a escada por onde o casal tinha sumido.