Ana sabia que as coisas não seriam fáceis, ela tentou ser otimista e madura, mas para o desespero de todos os seus amigos, só durou cerca de patéticas quatro horas. Toda maturidade e otimismo se dissipou no segundo em que lhe foi contado que ela precisaria dividir o mesmo muro com a sua ex-namorada da adolescência, – a mesma que partiu fodidamente seu coração e que ela jurava nunca mais veria na vida – porque, para sua infeliz sorte, todas as casas do condomínio em que morava, possuíam muro baixo e se dividiam em dois grandes quintais, o que significava que ela não teria muita escolha. Não importasse o quanto ela tentasse fugir, a outra sempre estaria por perto de qualquer maneira. E francamente, aquela situação estava deixando a de olhos castanhos no limite.– Como ela descobriu que a casa do Mateo estava à venda? – Perguntou, bufando em indignação. Era um condomínio fechado, afinal, e a ex nem conhecia aquele lado do bairro.
– Culpado! – Paulo ergueu a mão, com os ombros encolhidos. – Desculpa, era o único lugar que eu conhecia e ela estava desesperada.
Ana não falou direito com o amigo pelos próximos três dias. Que se foda a maturidade.
Já a nova inquilina de muro, parecia se divertir com a cara emburrada e o rolar dos olhos rotineiros da ex todas as vezes que se esbarravam na calçada, antes de entrarem em seus próprios carros e partirem na mesma direção. Mas, diferente das possibilidades de aproximação que o muro baixo lhe proporcionava, Marcella não poderia dizer o mesmo sobre o colégio, que Ana possuía ótimas habilidades em dar perdidos em qualquer oportunidade que as colocassem no mesmo lugar por mais de cinco segundos.
Honestamente, se beirava a frustração para Mar, Ana já estava condenada. Ela parecia o verdadeiro diabo fugindo da cruz.
– Até quando você vai continuar com isso?
Era o horário de almoço, todos os professores estavam no refeitório, ou grande parte deles. Ana, Vitória e Rubel estavam em sua mesa costumeira no canto mais silencioso daquele lugar. Paulinho não estava ali, porque quis se certificar que Marcella não almoçasse sozinha na sua primeira semana, o que, francamente, deixou Ana ainda mais irritada com ele, mesmo consciente que todos ali eram amigos dela tanto quanto eram seus, e ele só estava fazendo o papel de amigo como qualquer outro – mas isso claramente não diminuía a sua irritação, pelo contrário –.
Vitória foi quem fez a pergunta. Ela estava com aquele olhar desconfiado, a testa enrugada e os olhos semicerrados.
– Até quando você vai manter sua namoradinha em segredo? – Retrucou, erguendo uma das sobrancelhas enquanto sugava o canudo dentro da latinha de coca-cola.
– O-o que? – Vitoria gaguejou um pouco – Isso não é sobre mim.
– E nem sobre mim. – Disse, dando de ombros, segurando sua bandeja e levantando do banco acoplado à mesa. – E eu estou bem, não precisa se preocupar. – Olhou para a amiga, em seguida para Rubel, que se manteve calado durante todo o almoço e sorriu sem mostrar os dentes. – Nenhum dos dois.
E foi embora, sem dar-los oportunidade de resposta. Aquela semana já estava sendo estressante o suficiente para lidar com a superproteção dos amigos. Ela estava bem. Não estava?•••
O resto da semana passou como um foguete e Ana não poderia agradecer menos. Era exaustivo demais ter que estar em alerta o tempo inteiro. Estava sendo uma tarefa muito difícil evitar aquela a qual ela se recusava pronunciar o nome, ainda mais quando se compartilhava a porra do mesmo muro com ela.
Ana brincava com Manteiga no quintal quando jogou a bolinha do cachorro sem querer do outro lado do muro. Ela bufou em descrença, sua coordenação motora era mesmo uma merda. O cachorro chiou, claramente ansioso por não achar a bolinha que acaba de ver rodopiar no ar. Ela sentiu pena, mas definitivamente, não iria trazer aquela bolinha de volta.
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AS CANÇÕES QUE ESCREVI
FanfictionAna e Mar tem um passado. Um passado guardado a sete chaves no fundo da memória não só delas, mas dos amigos em comum também. Ana prometeu nunca mais pronunciar aquele nome. Se desfez de tudo que poderia. Nunca mais pisou no mar. Marcella baniu as m...