Autoritarismo

267 34 59
                                    


A tarde passou lentamente, em contraste com os meus pensamentos, que não davam trégua. Odiava estar nessa situação, sentindo-me uma tola por ceder aos caprichos de Lena. O que ela realmente queria? Resolver tudo, seguir em frente? E os meus sentimentos? Aquele turbilhão dentro de mim que eu nem sabia como lidar.

Quando finalmente me levantei da mesa, tentando parecer o mais casual possível, Lena se aproximou rapidamente, com um tom mais autoritário do que de costume.

— Você vai comigo — ela disse, não como um pedido, mas uma ordem clara.

Eu bufei, cruzando os braços, minha paciência por um fio. — Não, eu posso ir no meu carro. Não preciso de carona.

O olhar firme que ela me lançou fez meu estômago afundar. Havia algo implacável em suas palavras. — Não vou permitir que você fuja disso, Kara.

"Fugir." A palavra ressoou dentro de mim, despertando uma mistura de raiva e vulnerabilidade. O autoritarismo dela me irritava profundamente, como se eu estivesse sendo forçada a encarar algo para o qual não me sentia pronta. Mas discutir não adiantaria. Lena estava decidida, e a verdade era que eu já estava cansada demais para continuar resistindo.

Suspirei, desviando o olhar, sentindo o peso daquele confronto silencioso. — Você é impossível — murmurei, derrotada, mas sem realmente me mover.

Ela me observou, seus lábios se curvando em um sorriso de triunfo silencioso, como se soubesse que havia vencido mais uma vez.

— Então vamos — ela disse, virando-se em direção à porta, e eu a segui a contragosto, com meus pensamentos ainda em conflito, tentando ignorar o nervosismo crescente que se espalhava dentro de mim.

Descemos juntas no elevador, e o silêncio entre nós era sufocante. Lena parecia tensa, assim como eu. Não pude deixar de me lembrar da última vez que compartilhamos aquele espaço apertado.

Quando chegamos à garagem, ela caminhou em direção ao seu Audi RS Q8 preto. Não pude evitar uma olhada admirada para o carro — vamos ser sinceros, essa coisa deve valer mais que o meu apartamento. Claramente, ser gerente financeira aqui não é exatamente uma necessidade.

Entrei no carro, e imediatamente o cheiro me atingiu: o perfume de Lena. Não era uma fragrância qualquer, mas algo sutil, quase como se fosse parte dela. Um detalhe que não poderia ser ignorado. O silêncio continuou enquanto ela dirigia, e eu, apesar do desconforto, não conseguia parar de observá-la. Seu semblante era sério, concentrado na estrada, mas havia algo de contido em sua postura, algo que me deixava ainda mais inquieta.

O choque veio quando, finalmente, ela estacionou em frente a um restaurante extremamente chique. Olhei ao redor, sentindo o desconforto crescer. Eu estava de jeans, os cabelos bagunçados depois de um longo dia de trabalho. Isso só podia ser uma piada de mau gosto.

— Você tá brincando, né? — murmurei, indignada, quase rindo de nervoso. Queria xingá-la, gritar sobre o quão fora de lugar eu estava ali.

Mas Lena, como sempre, apenas me olhou com aquele ar despreocupado, como se nada disso fosse um problema para ela. E, provavelmente, não era.

Entramos no restaurante, e era óbvio que Lena já havia reservado uma mesa. O ambiente era elegante demais para uma noite comum de quinta-feira. Lustres imponentes pendiam do teto e os garçons usavam uniformes que pareciam caros demais para o meu mal gosto. Fomos conduzidas diretamente a uma mesa perto de uma janela ampla, com vista para as luzes da cidade.

Lena se sentou com a familiaridade de quem já tinha estado ali muitas vezes. Eu, por outro lado, me ajeitei na cadeira tentando parecer menos deslocada. Um garçom logo veio nos atender, e ela, sem perder tempo, pediu um vinho Chianti Clássico.

Minha Tentação (Romance sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora