Minha Tentação (Romance sáfico)

Me dê um mês, e eu resolvo isso.

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Lena não voltou para a empresa naquela tarde, e cada minuto que se passava aumentava a minha inquietação. Tentei me concentrar no trabalho, mas o pensamento de onde Lena poderia estar e o que poderia estar sentindo me deixava desconcentrada. Fiquei relendo os mesmos e-mails, encarando a tela do computador como se as palavras estivessem embaralhadas. Eu sabia que nossa briga não havia sido sobre um ex ou sobre ciúmes, mas sobre algo mais profundo que nenhuma de nós duas conseguia expressar.

No fim do dia, voltei para casa com uma sensação estranha no peito, uma mistura de frustração e teimosia. Eu me recusei a correr atrás de Lena. Ela precisava do tempo dela, e eu precisava do meu. Eu sabia que estava certa em manter minha independência, e se Lena queria estar ao meu lado, precisaria aceitar quem eu sou, com todas as minhas imperfeições.

Quando entrei no apartamento, encontrei Thomas jogado no sofá, os olhos fixos na TV. O som do programa que ele assistia preenchia a sala, dando uma sensação momentânea de normalidade. Fechei a porta, e ele olhou para mim com um sorriso, um brilho de satisfação que não tinha visto nele há um tempo.

— E aí, como foi seu dia? — perguntei, me jogando na poltrona ao lado.

— Cara, foi incrível! Consegui um trampo como bartender — ele respondeu animado, e eu pude ver um lampejo de alívio em seus olhos. Era bom ver ele empolgado com alguma coisa, depois de tudo que havia passado.

Sorri, genuinamente feliz por ele. — Sério? Isso é ótimo, Thomas! Quando você começa?

— Amanhã à noite. Vai ser um bar ali no centro, parece ser bem movimentado. — Ele parecia animado, quase como se tivesse finalmente encontrado um pedaço de chão para se firmar. — Só preciso que você me aguente aqui por mais alguns dias, até eu arrumar outro lugar pra ficar.

Assenti, sentindo o peso do dia começar a aliviar. — Claro, sem pressa. Fique o tempo que precisar.

Thomas sorriu, e o ambiente ficou mais leve por um instante. Era bom ter alguém por perto que, mesmo sem saber, me ancorava nos momentos em que tudo parecia fora de controle. Enquanto ele voltava a atenção para a TV, meus pensamentos voltaram para Lena, ainda tentando entender como duas pessoas tão diferentes haviam se cruzado e se tornado uma bagunça intrincada e inescapável.

E lá estava eu, dividida entre a preocupação com Lena e a alegria por Thomas. A vida continuava a me empurrar para todas as direções, e tudo o que eu podia fazer era continuar andando, tentando encontrar um equilíbrio que parecia cada vez mais distante.

Depois desse dia caótico, tudo o que eu queria era desligar minha mente por um momento. Entrei no quarto, fechei a porta e senti o peso da tensão começar a se dissolver. O banho quente foi como um abraço silencioso, e fiquei ali por mais tempo do que o normal, deixando a água lavar o cansaço e as emoções confusas. Quando finalmente saí, coloquei um pijama confortável, um daqueles que a gente guarda para os dias difíceis, e segui para a cozinha.

Preparei algo simples, sem muita pretensão. A rotina de cozinhar me ajudava a clarear a mente, o som do fogo, o cheiro dos temperos; era um ritual que sempre me trazia para o presente. Fiz uma massa rápida com o que tinha na geladeira e, enquanto os ingredientes se misturavam na panela, comecei a sentir o estômago roncar, um lembrete de que eu estava negligenciando até as necessidades mais básicas.

Quando terminei, coloquei a comida em dois pratos e voltei para a sala. Sentei-me no sofá, e olhei para Thomas vidrado na TV, e ofereci um dos pratos para ele.

— Fiz uma massa, tá afim? — perguntei, tentando manter a conversa leve.

Thomas sorriu e aceitou de bom grado, levantando-se para se juntar a mim. Sentamos lado a lado, e o som dos talheres batendo nos pratos preencheu o silêncio. Era bom ter uma companhia, alguém que, mesmo sem saber, me ancorava nos momentos de tempestade. Thomas sempre teve esse efeito sobre mim — uma presença constante e tranquilizadora, mesmo que agora fosse apenas uma sombra do que já tínhamos sido.