Capítulo 3 - Alianças da Consciência

0 1 0
                                    

Sentada em minha cadeira, envolva por um frio satisfatório que vinha do ar-condicionado, eu observava os alunos ao meu redor.

Enquanto esperava a aula começar, me permitir mergulhar em um pensamento que se tornou interesse para mim.

A Dialética de Hegel.

Georg Wilhelm Friedrich Hegel via a realidade como um processo dinâmica, um constante "ato" onde opostos se encontravam e se entrelaçavam.

Era quase poético pensar que, assim como os opostos se sintetizavam, eu também poderia encontrar o meu lugar com relações.

O que eu percebia como um simples ambiente de aprendizado era, na verdade, um campo fértil para o desenvolvimento. Cada aluno era uma parte de um todo maior, e cada interação que eu tinha com eles era uma pequena peça de um quebra-cabeça que ainda não compreendia totalmente.

É aqui que o espírito se manifesta... não em forma fixa, mas como um movimento incessante.

Fechei os olhos por um momento, permitindo que a imagem de um rio fluísse em minha mente. A água, com sua essência mutável, jamais se repetia; cada gota era única, mas todas pertenciam ao mesmo fluxo.

Eu era como aquela água, constantemente moldada pelas correntes das minhas experiências e das pessoas que cruzavam meu caminho. Minha mente fluiu entre as lembranças de conversas, traumas, e até mesmo péssimos momentos que se transforaram na pessoa que sou hoje.

Foi então que me lembrei da minha amiga, Hana, e da ideia de reunir aliados. Hana se transformaria em uma ponte entre mim e outros que, sem dúvida, me ajudaria a ampliar minha compreensão do mundo.

Eu percebia que, assim como na Dialética, eu precisava reconhecer a importância de cada parte. Isso me trouxe uma espécie de alívio. A ideia de fazer novas amizades não era apenas uma busca pessoal, mas uma etapa necessária na minha jornada para me tornar uma versão mais completa de mim mesma.

E Lumi Moriyama... a garota que Hana me falou sobre. Um sussurro de esperança começou a brotar em meu coração. Eu poderia construir alianças que não apenas refletissem a minha essência, mas também me desafiassem e me ajudassem a evoluir.

Como Hegel afirmava, a parte é indispensável ao todo. Cada amizade, cada discussão, cada novo conceito era uma peça vital na construção do meu entendimento.

Mas, em meio a esse entendimento filosófico, uma tristeza me consumia.

Apesar de todo o conhecimento que eu acumulava, havia uma parte de mim que permanecia inexplorada, como um jardim em flor, mas cujas pétalas ainda estavam fechadas.

As ideias de Hegel me ofereciam uma janela para a compreensão do mundo, mas, mesmo assim, eu me via distante, como se um véu invisível me separasse da verdadeira essência da vida.

O que eu realmente desejava?

Quais eram as emoções que me escapavam, mesmo que eu estivesse rodeada de pessoas?

Às vezes, me sentia como uma marionete, manipulando os fios de relações, mas sem nunca me permitir ser plenamente eu mesma.

Olhando para meus colegas que entravam na sala, percebi que eu estava cercada por potenciais aliados, mas a ideia de realmente me conectar me fazia hesitar.

Eu não queria usar as pessoas, mas parecia que essa era a única forma de me sentir viva, de tirar algo delas para preencher um vazio que insistia em se manter.

E tudo isso porque fui moldada por pessoas más. 

Uma pessoa má.

Aquele homem.

O Dever do Julgamento - Volume 1Onde histórias criam vida. Descubra agora